Na última terça-feira, vestidos com seus ternos e sentados confortavelmente em Brasília, deputados e senadores conseguiram estilhaçar mais de 600 mil hectares de áreas protegidas na Amazônia, reduzindo e flexibilizando a proteção de unidades de conservação como a Flona Jamanxim, no Pará, que já despontava na lista das mais desmatadas. Em entrevista a ((o))eco, a coordenadora do Programa de Políticas e Direitos Socioambientais do ISA, Adriana Ramos, diz que o episódio é apenas mais um.
A reportagem pé de Juliana Tinoco e Bernardo Camara, o vídeo é de Marcio Isensee e Sá, publicada por ((o)) Eco.
Direto do Congresso e com apenas algumas canetadas, a bancada ruralista está abrindo a porteira da Amazônia para a grilagem e o desmatamento.
“O principal embate político hoje com o setor rural diz respeito à destinação das terras públicas.
Todo o esforço de evitar a destinação da terra, seja para unidades de
conservação, para reconhecimento de terras indígenas ou de territórios
quilombolas, tem sido a prioridade da bancada”, afirma Adriana. “Isso demonstra que a preocupação deles não é com o modelo de produção: é uma preocupação de reserva de mercado de terras”.
Não é coincidência, portanto, que quase todos os políticos que representam o setor rural no Congresso sejam donos de latifúndios, e não necessariamente produtores rurais. Quem cruzou os dados e fez as contas foi o jornalista Alceu Castilho, no livro Partido da Terra, citado por Adriana.
A publicação mostra claramente que as cadeiras da Câmara e do Senado
têm sido ocupadas por uma classe política que está ali para fazer
avançar os interesses privados.
Adriana ressalta que há uma parcela do agronegócio brasileiro
que se esforça para melhorar a produtividade, reduzir seus impactos
ambientais e ser reconhecido como moderno. Estes produtores, ela diz,
precisam ser valorizados e incentivados a seguir por este caminho. E
devem ser tratados de forma diferente daqueles que estão no Congresso
com outros objetivos. “A gente precisa investir no produtor que de fato
vive na Amazônia, que depende daquela produção e que quer adequá-la”,
afirma. “Quem não está vivendo lá, quem não está produzindo lá, quem
está só especulando [terra] não tem esse compromisso”.
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