Aos 96 anos, o padre francês Henri Marie Le Boursicaud morreu de causa natural na noite dessa quinta-feira, 4, em sua residência no Pirambu, onde vivia há seis anos. Fundador da primeira Comunidade Emaús do Brasil, o redentorista dedicou a vida às questões sociais e conviveu entre os pobres.
Autor de 27 livros, Henri nasceu em 23 de agosto de 1920 em Elven,
na Bretanha francesa. Nos últimos três meses, estava com a saúde
debilitada pela idade, como conta o responsável pelo Emaús no Ceará, Airton Barreto.
"Um padre pobre que denunciava as injustiças sociais. De bens
materiais, deixa apenas duas calças, duas camisas, uma bengala e um
chapéu. Sendo que uma calça e uma blusa estão no caixão", diz.
A reportagem é publicada por O Povo.
Apesar da idade avançada, a presença e convivência com o padre Henri
era muito forte. "O que mais marca é sua coerência. Ele sempre dizia
para tentarmos pensar bem, falarmos como estamos pensando e agir como
pensamos e falamos. E que se você queria dizer alguma coisa, dissesse,
senão ninguém ia dizer por você", narra Airton.
Henri entrou para o seminário dos Redentoristas aos 9
anos, foi ordenado sacerdote aos 26 e, anos depois, abandonou o
convento para vivenciar o evangelho e conviver com os mais pobres. O
primeiro contato com essa realidade foi na barraca de Champigne,
comunidade de imigrantes portugueses em que havia apenas três torneiras
de água. De lá para cá, morou no Iraque, no Haiti, com pigmeus, entre
outros povos.
Aos 75 anos, andou a pé 1.500 quilômetros de Paris à Roma para chamar
atenção da Igreja sobre as incoerências do Vaticano. "No fim da vida,
ele dizia que a chegada do papa Francisco foi resposta à sua caminhada", explica Airton.
Em 2009, o redentorista morou três meses na comunidade Vila Velha, próximo ao mangue do rio Ceará.
Em entrevista falou sobre essa e outras experiências: “Se meu pai me
visse ali (Vila Velha), aos 90 anos, diria: depois de velho, o Henri
virou mendigo. A minha experiência foi de que não tinha vivido tudo
ainda. Ali há malandros, criminosos, mas criminosos há em toda a parte.
Também encontrei muito calor humano, a bondade, a simplicidade, a
lealdade, a porta aberta. Vivi-se uma miséria horrível no Vila Velha,
como se fossem porcos. Quando chove, mais ainda. Como ficam os
pequenos? É horrível. Mas estão sonhando, não sei como pode isso”.
Convivência
"Nós somos únicos, Deus não nos repete, ele dizia. Na vida, há dois
caminhos: o do poder e do dinheiro; e o outro é o caminho do amor e da
justiça. Para entrar no do amor e da justiça, é preciso fazer ligação
permanente com os pobres", rememora Airton sobre os ensinamentos do padre Henri. O anfitrião dos últimos anos de vida do redentorista explica que pediu para cuidar dele como um filho cuida de um pai.
"Um homem vivaz, que quando tomou a decisão de morar conosco disse
que queria morrer entre os pobres. Já tinha suas limitações de saúde,
mas falava com emoção e penetrava nossos corações", afirma o consultor
de marketing e vizinho do padre, Erivardo Silva, 38. Segundo Erivardo, Henri
adorava caminhar pelo calçadão e apreciar o mar, o qual já conheceu em
idade avançada. "De passos curtos, encurvado, ele falava com altivez.
Amante dos animais, das pessoas mais simples e desassistidas", frisa o
vizinho.
Legado
O Movimento Emaús Amor e Justiça é uma organização sem fins lucrativos, que atua na comunidade Pirambu
desde 1992. Com o objetivo de lutar contra a miséria, a ONG atende mais
de 400 crianças de jovens e conta com colaboradores para recuperar
objetos usados e gerar renda.
Já o projeto 4 Varas foi criado em 1988 para resgatar direitos básicos de migrantes sertanejos. Trata-se de um Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária, com estímulo às descobertas de valores pessoais e culturais dos assistidos.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/567375-padre-frances-henri-le-boursicaud-fundador-do-emaus-liberte-morre-em-fortaleza-aos-96-anos
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