'Revogar a lei Áurea seria mais honesto', diz Ronaldo Fleury, procurador-geral do Trabalho.
Ronaldo Fleury, procurador-geral do Trabalho condenou projeto de lei que altera leis do trabalho no campo
Divulgação / Ministério Público do Trabalho
RIO — O procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, condenou nesta quarta-feira o projeto de lei que altera a legislação do trabalho rural, escrito pelo deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT). Fleury informou que designou uma comissão técnica para fazer uma nota sobre o projeto e se colocou a disposição da Câmara do Deputados e do Senado para levar conhecimento técnico aos parlamentares.
Para Fleury, é impensável fazer uma legislação que coloca o
empregador e o empregado no mesmo patamar quando o trabalho escravo no
campo ainda é uma realidade no Brasil. Segundo o procurador-geral, seria
mais urgente fazer primeiro um sistema de proteção do trabalhador para
evitar "situações absurdas de trabalho escravo".
— Já pegamos ocorrências em todos os estados do Brasil. Se a
gente faz uma lei legalizando o que estamos combatendo, então é melhor
revogar logo a lei Áurea e pelo menos o trabalhador vai ser tratado como
um bem e aí o empregador vai cuidar melhor. Seria mais honesto do que
esse projeto — disse.
Ainda sem previsão de votação na Câmara dos Deputados, o
projeto virou alvo de críticas nas redes sociais por causa de pontos
como a permissão de "remuneração de qualquer espécie", que segundo
críticas cria a possibilidade de o trabalhador do campo receber o
pagamento seu expediente na forma de alimentação e moradia, em vez de
salário.
— Remunerar o trabalhador com alimentação e moradia é algo
inimaginável de acontecer. Estão querendo institucionalizar no Brasil
uma situação que pode ser comparada com instinto de sobrevivência. Numa
fazenda que fica no meio do nada, alimentação e moradia são condições
para o trabalho e não remuneração — criticou.
O procurador-geral também condenou outros pontos polêmicos
do projeto como a possibilidade de jornada de até 12h em casos de "força
maior", a opcional venda integral das férias dos funcionários e a
substituição do repouso semanal por um período contínuo de folga após o
máximo de 18 dias trabalhados.
— Esse projeto traz situações absolutamente díspares com
relação a diferença de posicionamento entre o trabalhador e o patrão
rural. Ele fala em negociação, mas quem já foi em sítio a 10 quilômetros
de distância de qualquer cidade grande sabe que não existe essa
negociação, ao contrário. O nível educacional e cultural dos nossos
trabalhares rurais é muito baixo.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/ministerio-publico-do-trabalho-condena-projeto-de-reforma-trabalhista-rural-21290481?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo
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