O pizzaiolo foi encontrado caído na copa da casa, com um corte profundo no pescoço e coberto por várias toalhas de mesa, que ele utilizava no trabalho.
O pizzaiolo Adão dos Reis Camargo, de 47 anos, foi assassinado com um
corte no pescoço, dentro da casa onde morava, na madrugada deste
domingo (26), no bairro Rosa da Penha, em Cariacica. A residência foi
revirada e incendiada, e por pouco o corpo dele não ficou carbonizado.
Segundo a polícia, o motivo pelo qual Adão foi morto ainda não foi
identificado. Nenhum suspeito foi preso.
O crime ocorreu por volta de 1 hora. De acordo com a Divisão de
Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Adão era homossexual, e teria
chegado em casa com uma pessoa, a qual os policiais não especificaram se
era homem ou mulher. Momentos depois, a residência começou a pegar fogo
e as chamas chamaram a atenção da vizinhança. Usando uma mangueira da
casa do pizzaiolo, os vizinhos controlaram o incêndio e acionaram o
Corpo de Bombeiros. Em seguida, a Polícia Militar foi acionada porque
havia sangue no piso da casa.
“Depois que as chamas foram controladas, um vizinho entrou na
casa para procurar o Adão e o encontrou caído no chão. Primeiro ele
achou que o Adão estava desmaiado por causa da fumaça. Mas depois ele
viu muito sangue próximo ao corpo, e então soubemos que ele havia sido
assassinado”, lembrou a vizinha do pizzaiolo, a dona de casa Irene
Almeida Leal, de 59 anos.
Os vizinhos ressaltaram que o portão da residência estava aberto,
mas que em momento nenhum viram Adão chegando com uma pessoa ou alguém
saindo do local. O pizzaiolo foi encontrado caído na copa da casa, com
um corte profundo no pescoço e coberto por várias toalhas de mesa, que
ele utilizava no trabalho.
Já a residência ficou toda revirada, com gavetas, roupas, toalhas
e até instrumentos que ele utilizava na organização de festas
espalhados pelo chão, e a maioria dos cômodos incendiados. Vizinhos
contaram ainda que a televisão e o celular dele não foram encontrados no
local, e que devem ter sido roubados. Adão morava de aluguel há três
anos e meio, e o dono do imóvel, que mora no segundo andar, comentou que
o pizzaiolo era uma pessoa boa, e nunca se envolveu em problemas na
região. “Ele era uma pessoa boa, muito trabalhadora. Nunca perturbou,
nunca deu trabalho. Estou surpreso com o que aconteceu. Parece até cena
de filme”, disse ele, que preferiu não se identificar.
O dono da pizzaria onde Adão trabalhava, o comerciante Carlinhos
Simonato, 52, soube da morte do funcionário na manhã de hoje, e contou
que a relação entre ele e o pizzaiolo era de irmãos. “Eu saí da pizzaria
umas 23 horas, e o Adão continuou lá. Hoje, quando cheguei para
trabalhar, o vigia me contou que a casa dele havia sido incendiada, e
que ele saiu da pizzaria 0h50. Então fui saber o que havia acontecido e
soube que ele estava morto. Ele trabalhava comigo há uns seis anos.
Perdi meu braço direito, um irmão”, emocionou-se.
Carlinhos e os vizinhos de Adão afirmaram que ele era bastante
querido na região, e que nunca se envolveu em confusão no local. Eles
disseram também que o pizzaiolo não comentou se estava sendo ameaçado, e
que não tinha envolvimento em crimes. “A morte dele é um mistério”,
acrescentou o vigilante Jonas Coelho da Silva, 64, que trabalha na
pizzaria.
Apesar dos vizinhos afirmarem que a televisão e o celular de Adão
foram roubados, a polícia não qualificou o crime como um latrocínio,
que é assalto seguido de morte. O caso será investigado pela Delegacia
de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Cariacica.
Entrevista com a vizinha e amiga de Adão, Irene Almeida Leal, dona de casa 59 anos:
Como você soube que a casa do Adão estava pegando fogo?
Irene – Eu moro em uma casa que fica atrás da casa do Adão. Um
vizinho que mora em uma casa do lado percebeu que havia fogo lá e chamou
a vizinhança. Nós fomos até a casa, controlamos as chamas e acionamos o
Corpo de Bombeiros. Mas, quando eles chegaram, quase não havia fogo
para apagar.
Qual foi a sua reação quando soube que ele havia sido assassinado?
Irene – Não acreditei. Na verdade, a ficha não caiu ainda.
Como era a relação de vocês?
Irene – A gente era amigo. Conheço ele há mais de dez anos. Ele
morava no bairro há uns sete. Eu fazia algumas coisas para ele, como
passar as toalhas que ele usava no trabalho. Na quinta-feira mesmo vim
para passar as toalhas e a gente acabou almoçando juntos.
Como ele era?
Irene - Ele estava sempre sorrindo, brincando. Era uma excelente
pessoa, só vivia para o trabalho. Eu até falava com ele para parar um
pouco, mas ele dizia que tinha que fazer isso porque era sozinho, e que
se ficasse doente precisava ter dinheiro para pagar o aluguel. É muito
triste a gente ver uma pessoa que queria tanto vencer na vida morrer
desse jeito.
Ele não tinha família?
Irene – Acho que os familiares não aceitavam a vida dele. Mas
espero que eles cheguem, porque não podemos liberar o corpo dele do DML,
e também para ele não ser enterrado como indigente.
ADÃO DOS REIS CAMARGO / PIZZAIOLO – 47 ANOS / FACADAS / DHPP / ES, CARIACICA
Disponível em: http://novo.gazetaonline.com.br/noticias/cidades/2017/02/pizzaiolo-e-assassinado-e-tem-casa-incendiada-em-cariacica-1014028809.html + https://homofobiamata.wordpress.com/
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