Nos últimos dias, o Ceará atraiu os olhares da comunidade
internacional pelas cenas de horror proporcionadas pelo bárbaro
assassinato de uma travesti, num dos bairros de Fortaleza. As imagens
(de uma crueldade inaudita) correram o mundo, através das redes sociais,
provocando uma reação, em cadeia, de indignação e protestos, que
agravaram ainda mais a péssima reputação desfrutada pelo Brasil na área
dos direitos humanos.
O crime ocorreu no Bairro Bom Jardim,
sendo a vítima a travesti Dandara dos Santos, de 42 anos, que foi
massacrada até a morte por um grupo de adultos e adolescentes, movidos
por homofobia. Uma saraivada de pontapés pelo corpo, chutes no rosto e
pauladas na cabeça, sucedem-se, ininterruptamente, nas cenas de um vídeo
publicado na internet, sem que os agressores se deixassem comover, um
instante sequer, pelos gritos da vítima indefesa e seu terrível
sofrimento.
FIARAM-SE NA INVISIBILIDADE QUE ENCOBRE GERALMENTE AGRESSÕES CONTRA HOMOSSEXUAIS
Nem o fato de ela ser bastante conhecida no bairro, ser pacata e
participar da vida comunitária inibiu a ação dos criminosos. E o fizeram
de rosto a descoberto como se não temessem qualquer punição. Fiaram-se
na invisibilidade que encobre geralmente agressões contra transsexuais,
em nossa sociedade, sob o beneplácito da omissão silenciosa, que abre
espaço para a intolerância de cunho fascista. Tanto isso é verdade que o
crime, perpetrado em 15 de fevereiro, só obteve visibilidade mais de
duas semanas depois da ocorrência, quando o vídeo com imagens da
barbaridade começou a circular nas redes sociais, ensejando protestos
imediatos, no Brasil e no Exterior.
Com alguns dos autores já
identificados, não é cabível nenhuma demora na ação do braço do Estado
para puni-los, exemplarmente, como exige a hediondez do crime. Também, é
imperativo que as autoridades públicas – estaduais e federais – façam a
leitura integral do fato e entendam que é preciso desarmar o gatilho
que vem insuflando os crimes de ódio no Brasil e se manifesta,
particularmente, contra gays, negros, índios, e militantes da causa
social, afetando, inclusive, a liberdade de expressão e a pluralidade
ideológica. Isso é fascismo puro, e precisa ser barrado antes que nos
engula a todos.
Disponivel em: http://www.opovo.com.br/jornal/opiniao/2017/03/barbarie-homofobica-no-ceara-repercute-no-brasil-e-no-exterior.html
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