Os dados são do ‘Mapa da Violência’, lançado na semana passada (15/2) na Câmara dos Deputados, em cerimônia que contou com a participação do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).
A reportagem é publicada por ONU Brasil 20-02-2017.
Relatório aborda letalidade das armas de fogo no Brasil e ranqueia país em uma lista de cem nações. Documento alerta para a vulnerabilidade da população negra brasileira: atualmente, morrem 2,6 vezes mais afrodescendentes do que brancos por homicídios cometidos com armas de fogo.
No Brasil, 25.255 jovens de 15 a 29 anos foram
mortos por armas de fogo em 2014, um aumento de quase 700% em relação
aos dados de 1980, quando o número de vítimas nessa faixa etária era de
cerca de 3,1 mil. Com isso, o Brasil ocupa a 10ª posição em número de
homicídios de jovens num ranking que analisou cem países.
As informações são do “Mapa da Violência 2016”, lançado na quarta-feira (15) em Brasília, na Câmara dos Deputados.
O documento alerta também para a vulnerabilidade da população negra à
violência. Atualmente, morrem por arma de fogo 2,6 vezes mais
afrodescendentes do que brancos.
O representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Jaime Nadal, participou da mesa de apresentação do documento e afirmou que é preciso mudar a forma como a juventude é vista no Brasil.
“Apesar de serem apontados como os principais responsáveis pelas
alarmantes estatísticas no Brasil, adolescentes são mais vítimas do que
autores de atos violentos”, disse.
O dirigente da agência da ONU no Brasil lembrou que a violência afeta principalmente os jovens negros e pobres, assim como as mulheres afrodescendentes.
Sem distinção por faixa etária, o “Mapa da Violência” aponta que, de 2003 a 2014, os homicídios por arma de fogo registraram queda de 27,1% entre a população branca
— passando de 14,5 mortes por 100 mil habitantes para 10,6. No mesmo
período, o índice aumentou entre os negros. Em 2003, foram 24,9 mortes
por 100 mil afrodescendentes. Onze anos mais tarde, a taxa subiu para
27,4 — um aumento de 9,9%.
Em números absolutos, o “Mapa da Violência” identifica um crescimento de 46% no número de negros vítimas de homicídio por arma de fogo
— de 20.291, em 2003, para 29.813, em 2014. Em 2003, morriam 71,7% mais
negros do que brancos por esse tipo de crime. A proporção chegou a
158,9% em 2014. Ou seja, morrem por arma de fogo 2,6 vezes mais negros
do que brancos no Brasil.
“O UNFPA e outras agências da ONU no Brasil
têm atuado em várias frentes, apoiando ações afirmativas que buscam
promover a participação de pessoas jovens e diminuir as desigualdades
étnico-raciais”, acrescentou Nadal.
Tendo como tema central a letalidade das armas de fogo no país, o “Mapa da Violência”
recupera registros desde 1980 e revela que aproximadamente 1 milhão de
pessoas já foram vítimas de disparos. De 1980 para 2014, o número de
homicídios por armas de fogo subiu de 6.104 para 42.291 por ano — um
crescimento de 592,8%. Do total de assassinatos, cerca de 25 mil
vitimaram jovens.
No Brasil, o número de armas de fogo não registradas
é maior que o de registradas — 8,5 milhões contra 6,8 milhões. O
relatório aponta que 3,8 milhões estão em mãos criminosas.
Entre as unidades federativas, Alagoas é o estado com a maior taxa de homicídios por armas de fogo: 56,1 vítimas por 100 mil habitantes em 2014. Ceará e Sergipe vêm em seguida. Os estados com os menores índices são Santa Catarina (7,5) e São Paulo (8,2). A média brasileira em 2014 foi de 21,2 vítimas por 100 mil habitantes.
Com dados verificados até 2012, o Brasil ocupa, a nível internacional, a 10ª posição em um ranking de cem países. Quem encabeça a lista é Honduras, com taxa de 66,6 homicídios por 100 mil habitantes, seguido por El Salvador (45,5). A nação sul-americana com a maior taxa de homicídios por arma de fogo é a Venezuela (39).
Sobre os dados, o assessor especial da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Social (SEPPIR), Juvenal Araújo, comentou que é inadmissível que, a cada três jovens assassinados no Brasil, dois sejam negros. Araújo disse que faltam políticas efetivas para acabar com o genocídio da população jovem brasileira.
Parceira no lançamento do “Mapa”, a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) foi representada pelo secretário Assis Filho.
“A violência tem cor, faixa etária e moradia”, disse o chefe do
organismo, referindo-se aos números da violência contra a população
negra, jovem e periférica.
Assis Filho informou ainda que a SNJ e seus parceiros estão trabalhando no relançamento do Plano Juventude Viva, projeto que visa reduzir a vulnerabilidade de jovens negros a situações de violência física e simbólica.
Grupo Assessor sobre Juventude
O UNFPA coordena, em conjunto com a Secretaria Nacional de Juventude, o Grupo Assessor Interagencial sobre Juventude da ONU no Brasil. Formado por 10 agências das Nações Unidas e pelo Conselho Nacional de Juventude, o organismo é responsável por promover diálogos entre a sociedade civil, governos e a Organização internacional.
Conheça o ‘Mapa da Violência’
O “Mapa da Violência 2016” tem autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz,
coordenador da área de Estudos sobre a Violência da Faculdade
Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO). A primeira edição do
“Mapa” foi publicada em 1998 e, a cada ano, foca em um tema diferente,
como homicídio de mulheres ou violência contra adolescentes.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/565076-brasil-e-10-pais-que-mais-mata-jovens-no-mundo-em-2014-foram-mais-de-25-mil-vitimas-de-homicidio
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