segunda-feira, 1 de agosto de 2016

“IGREJAS INCLUSIVAS NASCEM DA INTENÇÃO DE REPENSAR A TRADIÇÃO RELIGIOSA”


Marcelo Natividade é antropólogo, cientista social, jornalista, 

atualmente professor visitante da Universidade do Estado do 

Rio de Janeiro.


As igrejas inclusivas chegaram no Brasil no início dos anos 2000 e nos últimos dez anos não pararam de aumentar em número. A história delas, contudo, começa muito tempo antes, no simbólico ano de 1968, nos Estados Unidos. O antropólogo e professor da Universidade São Paulo, Marcelo Natividade, fala sobre a origem e reflexos atuais dessas congregações que aceitam fiéis e pastores sem olhar para sexualidade.
Pergunta. Qual foi a primeira igreja inclusiva do mundo?
Resposta. A Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), dos Estados Unidos, que foi fundada em 1968. Era um momento de muita efervescência política em que o movimento LGBT ganhou força com Stonewall. Entre 1970 e 1980, a ICM também ganhou um forte viés de luta contra a AIDS. Essa experiência, que existe até hoje e atualmente está no Brasil também, influenciou todas as posteriores.
P. E no Brasil?
R. Na década de 1990, o pastor Nehemias Marien aceitava homossexuais em sua Igreja Presbiteriana Bethesda, em Copacabana. Depois ele acabou sendo expulso da congregação, sua igreja fechou anos depois e só nos anos 2000, uma movimentação que trouxe a ICM para o Brasil deu início à abertura de igrejas inclusivas. Só de dez anos para cá que elas aumentaram significativamente em número. Hoje, há várias delas. A Igreja Contemporânea Cristã, do Rio de Janeiro, a Cidade Refúgio e a Congregação Cristã Nova Esperança, ambas em São Paulo, são bons exemplos.
P. Existem diferenças entre as igrejas inclusivas?
R. Claro. Algumas têm um caráter mais ativista, como a ICM, outras são mais pentecostais como a Cidade Refúgio, em que as pastoras vieram da Assembleia de Deus. Também tem que se considerar sempre que as pessoas consomem o discurso pastoral, mas não necessariamente concordam com tudo o que ele diz. As pessoas não são árvores plantadas, elas interpretam, entendem e transitam entre igrejas, assim como fazem em todos os outros espaços que frequentam.
P. O que elas representam nesse momento?
R. É um movimento interessante. Em sua gênese, ele nasce com uma face potencialmente desestabilizadora das ordens hegemônicas. Há a intenção política de reposicionar o espaço de protagonismo na própria religião. É a intenção de repensar uma tradição religiosa e o lugar da população LGBT no mundo contemporâneo. Por isso, acredito que são espaços e grupos que operam pelo empoderamento da população LGBT como um todo.
P. Mas como igrejas cristãs há certos dogmas que não serão superados, certo?
R. Sim. Há alguns pilares do cristianismo que são fixos. Nenhum movimento rompe com todos. Algumas, acredito, rompem mais. É o caso, por exemplo, da ICM, que eu já mencionei. Eles têm uma reflexão sobre a natureza do pecado. Enquanto as igrejas em geral ficam preocupadas com a gestão da vida afetiva, das relações monogâmicas, a ICM diz que o pecado é o sexo violento. Ou seja, isso volta um pouco para o que eu falei na resposta anterior: são espaços que operam pelo empoderamento da população LGBT.
Disponível em:  http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/29/politica/1469820936_254948.html?rel=cx_articulo#cxrecs_s

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