Governador de São Paulo foi delatado por três funcionários da construtora Odebrecht. Eles dizem que o cunhado de Alckmin era quem tratava da propina de suas campanhas.
O Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi delatado por três funcionários da Odebrecht. Com base nas declarações e em documentos apresentados por eles como prova, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
afirmou que “há elementos que indicam a possível prática de ilícitos em
2010 e 2014” relacionados a ele. Segundo o processo, suas duas
campanhas ao Governo receberam recursos de caixa dois vindos da
Odebrecht. Em 2010, ele teria recebido dois milhões de reais e, em 2014,
8,3 milhões. O ministro Edson Fachin
não autorizou a abertura de inquérito contra ele, já que sua
investigação corresponde ao Superior Tribunal de Justiça, responsável
pelos governadores. Mas os detalhes das delações constam na petição
enviada por Fachin ao tribunal.
Segundo
o documento, as negociações da empresa com Alckmin na campanha de 2010
foram feitas por Carlos Armando Guedes, funcionário da Odebrecht
em São Paulo. Ele afirma, em sua delação, que foi convidado por um
conselheiro e acionista da empresa, Aluizio Araújo, já falecido e de
quem Alckmin era muito próximo, para uma reunião com o então candidato a
governador. “Fomos a um escritório de Alckmin na rua Nove de Julho, em
um prédio com três, quatro salas”, contou ele.
Guedes afirma que antes de chegarem, ainda no carro, Araújo
afirmou que a Odebrecht precisava apoiar Alckmin, que era “um candidato
muito interessante, com muitos valores.” Segundo o delator, quando
chegaram ao edifício, o acionista da empresa pediu para que o
funcionário da Odebrecht esperasse em uma antessala, e entrou para
conversar sozinho com o tucano. Depois de 20 minutos, quando ele foi
chamado à sala, tudo já parecia combinado, conta. A reunião foi rápida
e, em nenhum momento, foi abordada a questão da doação. “Foi só papo
furado”, disse. “Alckmin gosta de contar piadas e historias”. Mas, já na
saída, ele afirma que o governador pediu para que sua secretária lhe
entregasse um cartão com um contato. Era o telefone de Adhemar Ribeiro,
irmão de Lu Alckmin, primeira-dama de São Paulo.
O codinome de Alckmin na planilha de propinas da Odebrecht era Belém.
Ele teria recebido, por meio de doação não declarada à Justiça Federal,
dois milhões de reais, o maior valor dado pela empresa aos candidatos
de São Paulo naquele ano. Os valores foram pagos em várias parcelas,
algumas de 100.000 reais. “Passei a contatar o Adhemar, que definia os
locais de entrega para os recursos”, conta. Ele afirma que as reuniões
para a entrega do dinheiro foram feitas no próprio escritório do cunhado
de Alckmin, na avenida Faria Lima, número 1739.
A versão do delator é confirmada por outro executivo, o
ex-diretor da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior. Ele era o
responsável por autorizá-los. O executivo diz que, em 2010, foram pagos
os dois milhões reais. E que em 2014 houve um pedido de 10 milhões de
reais, mas que foram pagos apenas 8,3 milhões, pelo setor que distribuía
propina na empresa. “Foi pago pelo Departamento de Operações
Estruturadas, que cuida de caixa dois, de doações ilícitas para campanha
eleitoral”, ressaltou ele.
Segundo o executivo, o objetivo da doação era manter uma
relação próxima com o tucano. “Considerávamos Alckmin um dos grandes
postulantes do PSDB a liderar o país e tanto ele, quanto Aécio [Neves],
tiveram um tratamento muito próximo para nós”, contou o ex-diretor, em
sua delação. “Ele era um expoente que tinha um espaço no cenário
nacional pelo PSDB e a gente sempre acreditou que haveria uma
alternância de poder em algum momento no país”, destacou. “A gente
queria manter essa relação fluída e funcionando.” Questionado, Benedicto
afirmou que a empresa tinha perspectiva de novas contratações de obras
por parte do Governo do Estado, mas disse não saber se Alckmin já
beneficiou diretamente a Odebrecht em troca dos repasses ilegais. “Não
se apontou nada de concreto [em troca do dinheiro].”
O processo de Alckmin foi enviado ao Superior Tribunal de
Justiça, que cuida de processos contra governadores. Esse tribunal terá
de decidir se haverá ou não investigação contra o governador. Na
terça-feira, quando o jornal Estadão adiantou parte do conteúdo
dos processos, Alckmin usou seu Twitter para afirmar que jamais pediu
recursos irregulares em sua vida política, nem autorizou que o fizessem
em seu nome. “Jamais recebi um centavo ilícito.”
Armando Guedes, funcionário da Odebrecht em São Paulo, conta sobre o encontro com Alckmin.
O cunhado cauteloso e o 'custo' dos contratos
A delação de Carlos Guedes revela o modus operandi do
cunhado de Alckmin para receber os recursos da Odebrecht. “O Adhemar não
gostava de telefone”, diz ele, que ressalta que com alguns políticos
era possível combinar a senha necessária para o recebimento do dinheiro e
o local por telefone. “Com Adhemar, não. Ele era uma pessoal bem
cuidadosa. Tinha que ir lá [no escritório dele] para conversar”, diz o
delator, que ressalta que não se incomodava em fazer isso, já que o
local era perto de seu escritório e também ficava a “cinco minutos a pé
de sua casa”. “Era rápido. Às vezes mal terminava o café e eu já estava
saindo”, diz.
Já em 2014, o acerto foi cumprido com Arnaldo Cumplido de
Souza e Silva, outro funcionário da Odebrecht que trabalhava como
diretor de contrato da linha 6 do Metrô de São Paulo, cuja obra era de
execução da construtora. Em sua delação, ele conta que foi solicitado
pelo seu superior hierárquico, Luiz Antonio Bueno Junior, para que
programasse pagamentos da empresa para pessoas sob o codinome MM e Salsicha.
Ele afirma que ambos se referiam, provavelmente, à mesma pessoa: Marcos
Monteiro, coordenador financeiro da campanha do governador.
Questionado pelos investigadores se o pagamento tinha
relação com a obra do Metrô, ele diz que não havia “uma relação de causa
e efeito com a obra”. Mas ele diz que a propina era registrada na
empresa como custos de contratos com o Governo estadual. “Se era um
apoio para a campanha do Governo do Estado de São Paulo teoricamente
esses valores sairiam dos custos das obras do Estado de São Paulo. Isso
era registrado gerencialmente neste custo”, afirma.
Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/13/politica/1492051837_212121.html
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