A principal rede social do mundo se viu abalada após o maior escândalo de sua história. Os problemas que Mark Zuckerberg têm pela frente vão dos financeiros aos relacionados à credibilidade da empresa.
O CEO da rede social afirmou que a empresa tem a missão de proteger os dados dos usuários e "se não podemos, então não merecemos servir você"
(Foto: AFP)
A curtida na foto do cachorrinho ou o teste para ver como ficaria
seu rosto daqui a 30 anos pode ter fornecido seus dados para uma espécie
de mercado negro na rede mundial. Há mais de 10 anos, o Facebook
possibilita que aplicativos tenham acesso às contas de seus usuários. O
jeito mais sutil deste acesso ocorrer é por meio dos aparentementes
inofensivos testes. A informação é do portal Folha de São Paulo.
Agora,
no maior escândalo da história da rede social, vêm à tona as evidências
dos impactos de curtidas, comentários e outras práticas no espaço, que
foram determinantes nos rumos, por exemplo, da maior democracia do
mundo, a dos Estados Unidos. Mas como isso pôde acontecer?
O primeiro ponto é o erro do Facebook em não ter protegido a privacidade na sua rede social, possibilitando o uso de aplicativos sem conhecimento das consequências do acesso desta ferramenta à sua base de dados e como esses dados seriam utilizados. Essa prática, por si, desfaz o acordo fechado em 2011 com a FTC, a Comissão Federal do Comércio dos EUA.
As razões para este acordo remontam dois anos atrás, em 2009. À
época, a rede social tinha sido acusada por várias organizações de
defesa do consumidor por violar dados de internautas. A assinatura do
acordo veio como uma forma de não cumprir punição.
Dentre
os compromissos, estavam a criação de um programa de privacidade para
assegurar a confidencialidade das informações; transparência e
honestidade com os usuários sobre como os dados são usados; não
compartilhamento de informações de usuários com terceiros. O fato de a
Cambridge Analytica ter tido acesso a informações de 50 milhões de
pessoas, por meio de um aplicativo, mostra que o Facebook não seguiu
nenhum dos compromissos.
Como isso mudou os rumos das eleições americanas?
O aplicativo - aqueles de testes de personalidade, por exemplo -
fazia perguntas pessoais, a exemplo do quão extrovertida ou vingativa
uma pessoa poderia ser, se costuma terminar projetos ou se gosta de
artes.
Com informações da personalidade dessas pessoas em mãos, eram
enviadas mensagens, notícias e imagens pelo Facebook que atingissem
pontos estratégicos de cada eleitor e influenciasse a votar em Donald
Trump.
Os envolvidos no caso
Tudo
começou em junho de 2014, quando o professor Aleksandr Kogan, da
Universidade Cambridge, no Reino Unido, criou um teste de personalidade
no Facebook com o pretexto de conduzir um estudo psicológico de
usuários. Mesmo que só 270 mil pessoas tenham feito o teste de Kogan, o
sistema permitiu que sua equipe visse o perfil de 50 milhões de
usuários, pois também captava as informações de todos os amigos delas.
As informações foram transmitidas para a Cambridge Analytica.
O CEO da Cambridge, Alexander Nix, foi retirado da função de presidente da empresa após a rede de TV britânica Channel 4 revelar que Nix se gabou de seus métodos para despotencializar um adversário político.
O terceiro personagem do caso é Christopher Wylie, um canadense de 28 anos que relatou ao jornal The Observer
como teve a ideia de relacionar o estudo de personalidade ao voto
político. Isso o fez ganhar emprego na Cambridge Analytica. De acordo
com Wylie, os dados vendidos à Cambridge Analytica teriam sido usados
para catalogar o perfil das pessoas e, então, direcionar, de forma mais
personalizada, materiais pró-Trump e mensagens contrárias à adversária
dele, a democrata Hillary Clinton.
Para tudo
isso acontecer, o esquema precisava de um financiador. Neste ponto da
história, entra o empresário Robert Mercer, de 71 anos. Sua fortuna é
oriunda de fundos de investimento. Ele é um dos mais relevantes doadores
do Partido Republicana - sigla de Donald Trump. Ele investiu na
Cambridge Analytica aproximadamente US$ 15 milhões.
Por último vem o conselheiro próximo de Trump. Conforme o The Observer, ele estava no comando da Cambridge durante toda a campanha do presidente americano.
"Usuários são cúmplices"
O
jornalista Zulfikar Abbany, da agência de notícias alemã DW, é radical
em seu posicionamento. Para ele, a rede social não deveria ser usada, e
usuários também são culpados por violações de dados. "Assim como um
dependente químico não pode culpar apenas o traficante, os usuários do
Facebook não podem culpar apenas o Facebook. Cada violação de dados é
iniciada no momento em que se faz o login online – mesmo protegido por
uma rede virtual privada (VPN)", afirma em artigo.
No
artigo, em tom debochado, ele diz não se importar com o fato de
Facebook ter implementado táticas de vigilância para aumentar seu poder
de publicidade. "Ou com o fato de que mais de 2 bilhões de usuários
ativos mensais do Facebook escancaram suas vidas na rede. Por quê? Pois
todos os usuários são cúmplices", sustenta.
"Tente encontrar o botão "excluir conta" no Facebook e entenderá o que quero dizer"
Zulfikar Abbanyjornalista
Ele ainda ironiza os relatos de que Zuckerberg sofreu um impacto
pessoal de 6 bilhões de dólares no dia seguinte à revelação do abuso de
dados de usuários. "Coitado! Se eu me importo? Fala sério", escreve o
Abbany.
Para ele, que define o criador do
Facebook como cínico, a solução que seria simples, excluir a conta,
torna-se dificultosa. "Tente encontrar o botão "excluir conta" no
Facebook – ou em muitos outros aplicativos – e entenderá o que quero
dizer. Além disso, há precedência: olhemos para o escândalo fiscal da
Amazon. Alguma intervenção governamental consertou isso? Dificilmente",
argumenta.
Punição
Agora,
a rede social de Mark Zuckerberg pode ter de arcar com multa de mais de
R$ 130 mil por cada usuário prejudicado. A estimativa é de que a multa
fique em US$ 2 trilhões, aproximadamente quatro vezes o valor de mercado
do Facebook.
Facebook se pronuncia
O
CEO da rede social afirmou que a empresa tem a missão de proteger os
dados dos usuários e "se não podemos, então não merecemos servir você".
Segundo Zuckerberg, todos os aplicativos que tiveram acesso a grandes
quantidades de informação antes da mudança de plataforma, em 2014, para
reduzir drasticamente o uso de dados serão investigados.
"E
vamos conduzir uma auditoria de qualquer aplicativo com atividade
suspeita. Vamos banir qualquer desenvolvedor da nossa plataforma que não
aceitar uma auditoria profunda", afirmou.
"Vamos
também restringir ainda mais o acesso de dados por parte de
desenvolvedores para prevenir outros tipos de abuso. Por exemplo, vamos
remover o acesso de desenvolvedores aos seus dados se você não utilizou o
app nos últimos três meses. Vamos reduzir os dados que você dá para um
app quando se loga para apenas seu nome, foto do perfil e e-mail",
prometeu.
Redação O POVO Online,
com agências
Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/mundo/2018/03/entenda-todo-o-escandalo-envolvendo-o-facebook-e-o-risco-que-todos-nos.html
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