"O ano se aproxima do fim e a direção que está sendo dada ao país
está tornando possível às pessoas entenderem que o que estava em jogo no
afastamento do governo anterior era, na realidade, mais uma versão de
uma característica do Brasil marcado, desde a primeira metade do século XX, pelas mudanças estruturais das sociedades modernas", escreve Manfredo Araújo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Eis o artigo.
Como afirma Jessé Souza: “... a vida política do Brasil, desde então, é dominada por golpes de Estado movidos pela elite do dinheiro com
o apoio da imprensa e da base social da classe média, sempre que a
soberania popular ameaçar ou efetivar, por pouco que seja, interesses
das classes populares”. Trata-se sempre de um amplo acordo de interesses
entre as diversas elites que agora é comandado pela elite financeira.
Por isto, o primeiro interesse a ser considerado é o interesse
econômico uma vez que a elite econômica pode comprar todas as outras
elites através de diferentes estratégias. Por exemplo, ela apoiou sua
sócia no saque da sociedade, que é a mídia, e tentou comprar as eleições
através do financiamento das campanhas e pela cooptação de um aliado de
ocasião dentro do Estado, o aparato jurídico-policial. Para ele, o
golpe não teria acontecido sem a politização do judiciário
o que agora aparece em nova luz: a Constituição é deixada de lado,
direitos são negados. Isto faz aparecer a natureza do que se articulou: a
junção de capitalismo selvagem
de rapina e do enfraquecimento das garantias democráticas. A execução
do plano foi um jogo de mestres: em nome da justiça e da moralidade se
fez um violento ataque à democracia e às garantias constitucionais. Uma
vez consumado o golpe, todos os interesses articulados partem para a
rapina e o saque do espólio: vender as riquezas brasileiras, em primeiro
lugar o petróleo, cortar gastos sociais já que o que vale primeiro é o interesse do 1% mais rico.
Onde ficam os pobres
neste projeto? No esquecimento, na marginalidade, com salários
aviltantes por serviços à classe média e às empresas dos endinheirados.
Os juros bancários estão entre os maiores do mundo e constituem uma
espécie de taxa universal que se adiciona a todos os preços de mercado,
pesando arbitrariamente sobre todas as classes sociais,
proporcionalmente mais sobre os pobres, a fim de drenar o produto do
trabalho de todos para o bolso da elite do dinheiro. Como diz Dowbor:
“Os bancos e outros intermediários financeiros demoraram pouco para
aprender a drenar o aumento da capacidade de compra do andar de baixo da
economia, esterilizando em grande parte o processo redistributivo e a
dinâmica e o crescimento estimulado pela demanda”.
Esta é, diz Jessé, a verdadeira “corrupção brasileira”, escandalosa, mas invisível, que faz com que o trabalho de todos vá parar no bolso de menos de 1%
e privilegiados “que não apenas vampirizam a sociedade e sua capacidade
produtiva, mas colonizam a democracia e a sociedade para seus fins”.
Estes podem afirmar tranquilos: o golpe valeu a pena!
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/574798-valeu-a-pena
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