Proposta que renegocia as dívidas dos produtores rurais foi concluída na
noite de ontem, depois de tentativas de obstrução pelos oposicionistas,
em ação contra a reforma da Previdência.
Sessão de ontem: temas que imperaram nos discursos foram críticas à reforma da Previdência
Brasília – A proposta que renegocia as dívidas dos produtores rurais foi concluída na noite de ontem (12), mas em meio a um clima ruim de embates e denúncias, que terminou mostrando a fragilidade da base aliada do governo e, principalmente, da bancada ruralista.
Os deputados governistas rejeitaram sete emendas da oposição que
pretendiam alterar o texto, mas mesmo assim, enfrentaram dificuldades e
muitos admitiram que a matéria poderia ter votação adiada.
Os temas que imperaram nos discursos foram críticas à reforma da
Previdência, à anistia a ser concedida a grandes devedores pelo governo
com esse projeto (que terá impacto de perto de R$ 18 bilhões para os cofres da União) e denúncias de que vários empresários aproveitaram para fazer lobby junto aos parlamentares dentro do plenário da Câmara.
Parte desse ambiente se dá porque os oposicionistas estão obstruindo
todas as votações ao longo da semana, em protesto contra a apreciação da
reforma. Eles já anunciaram que não pretendem abrir exceção, nem mesmo,
para o relatório do Orçamento Geral da União (OGU).
O texto em questão, o Projeto de Lei (PL) 9.206/17, amplia o
parcelamento de dívidas de produtores rurais (pessoas físicas,
cooperativas e intermediários) com descontos e diminui a contribuição
social sobre a receita bruta devida pelo setor a título de contribuição
previdenciária dos trabalhadores rurais.
Medida Provisória perdeu a validade
A matéria não é a mesma da Medida Provisória (MP) 793/2017, que
dispõe sobre renegociação da dívida do Fundo de Assistência ao
Trabalhador Rural (Funrural). Isto porque como a MP sofreu atrasos na
votação, perdeu a validade. E a solução foi ser incorporada ao PL, que
tem como autor o deputado Zé Silva (SD-MG).
Mas os termos estabelecidos pelo PL em relação ao tema continuam os
mesmos do relatório elaborado pela deputada Tereza Cristina (sem
partido-MS). Beneficia
diretamente grandes empresas do agronegócio e corresponde a um pleito
da bancada ruralista para blindar o presidente Temer na votação das denúncias do Ministério Público contra ele.
Na prática, o projeto altera a contribuição do produtor rural pessoa
física de 2% para 1,2% da receita bruta. Essa contribuição não incidirá
sobre mudas, sementes, sêmen para reprodução animal, cobaias e produção
rural destinada ao plantio ou ao reflorestamento. No caso das empresas
rurais, a nova alíquota será de 1,7% no lugar dos 2,5% devidos
atualmente. “Essa proposta praticamente iguala a situação das grandes
empresas com a dos produtores nos cálculos e percentuais exigidos. É um
absurdo”, criticou o deputado Bohn Gass (PT-RS).
Também foi muito questionada a questão do parcelamento de dívidas
destes produtores com a Previdência Social, permitida pelo projeto.
Conforme o texto, tanto o produtor rural pessoa física quanto empresa
poderá optar pela contribuição sobre a receita bruta ou sobre a folha de
pagamento, valendo para todo o ano calendário.
O texto da MP encaminhado pelo governo ao Congresso previa uma
entrada pelos produtores de 4% do total da dívida para ser feito o
parcelamento. Mas o relatório, com a pressão dos ruralistas, reduziu
este percentual para 2,5%.
Questão previdenciária
Em relação à questão previdenciária propriamente, o PL apresenta duas situações para quem ficar responsável por recolher a contribuição. Se
o produtor rural comercializar sua produção no exterior, diretamente no
varejo com consumidor pessoa física, com outro produtor pessoa física
(contribuinte individual) ou com outro segurado especial, deverá ele
mesmo recolher a contribuição sobre a receita obtida como um segurado
especial da Previdência Social.
Mas se este produtor vender para outra empresa (consumidora,
consignatária ou cooperativa) ou para pessoa física não produtora rural
que compra para revender a consumidor pessoa física, o comprador é que
terá a obrigação de pagar a contribuição.
Uma das surpresas da base aliada foi o deputado Beto Mansur (PRB-SP).
Aliado de primeira hora do governo, ele subiu ao plenário para dizer
que em relação à questão da Previdência é contra o que dispõe o texto.
Mansur argumentou que não acha coerente os deputados votarem sobre
regra previdenciária para produtores num momento em que está para ser
votado um texto de alteração das regras do setor. “O correto seria
retirarmos este item do texto e ver primeiro como fica a votação da
reforma da Previdência”, defendeu.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que denunciou a presença de
empresários na Casa, foi convidada por deputados governistas para
circular com seguranças para identificar quais eram os empresários e
pedir que saíssem do plenário.
“Não vou fazer isso. Todos aqui estão vendo que há empresários do
agronegócio aqui. Estão não apenas entre os deputados como entre pessoas
que vieram até esta Casa para acompanhar a votação. É triste saber que
esse pessoal tem tanta facilidade para entrar no Congresso quando a cada
dia são aumentadas as barreiras para entrada da população”, reclamou
ela.
‘Segurança jurídica’
Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que saiu por várias
vezes da sessão para participar de reuniões paralelas, usou o discurso
de minimizar dificuldades da base aliada, uma vez que “a proposta (do
refinanciamento das dívidas dos produtores) teve votação concluída”.
Maia ainda foi alvo de ironias de alguns deputados que aproveitaram
para pedir que colocasse a proposta de reforma em votação ontem mesmo
(diante de um plenário que era, em sua maioria, contrário ao texto). Desconversou e disse que a pauta já estava cheia.
“Ao contrário do que estão afirmando, a matéria dará maior segurança
jurídica ao parcelamento de dívida destes produtores e é justa”,
argumentou a relatora da matéria a comissão especial que a apreciou,
deputada Tereza Cristina.
Para o líder das minorias, deputado José Guimarães (PT-CE) a obstrução dos partidos da oposição é prerrogativa política e tem o objetivo de defender “os direitos do povo brasileiro”.
“Nossa briga é para impedir este retrocesso nas aposentadorias da
grande maioria do país. Ao mesmo tempo, também estamos atuando para
derrubar matérias como esta, que beneficiam grandes setores em
detrimento de pequenos produtores”, disse.
Se por um lado os partidos que obstruíram a votação não tiveram êxito
ontem, por outro mostraram força e passaram o recado de que, se não
houver um número favorável de votos garantidos, o governo não conseguirá
a aprovação da reforma. Mais que isso, mostrou a disposição dos
parlamentares que, mesmo de partidos aliados ao governo, não querem
votar a reforma.
Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2017/12/refinanciamento-de-dividas-de-produtores-rurais-tem-votacao-concluida-mas-com-dificuldades
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