A partir de agora será preciso empenho da sociedade, num processo que
chamamos de “desamiantização”, com destinação dos produtos em aterros
adequados.
Banido em 75 países, o amianto é considerado uma substância cancerígena pela Organização Mundial da Saúde
Após décadas de lutas, finalmente o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu o uso de todo tipo de amianto no Brasil.
Os magistrados declararam inconstitucional o artigo 2º da lei federal
9055/05, que permitia até então o uso controlado do amianto do tipo crisotila, o único que ainda era autorizado.
A discussão vinha se arrastando há algum tempo, mas agora parece ter chegado ao fim - pelo menos no âmbito legal - considerando que toneladas de produtos derivados do mineral cancerígeno ainda precisam ser eliminadas.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/a-luta-pelo-banimento-do-amianto-ganhou-o-pais-mas-caminhada-e-longa
A discussão vinha se arrastando há algum tempo, mas agora parece ter chegado ao fim - pelo menos no âmbito legal - considerando que toneladas de produtos derivados do mineral cancerígeno ainda precisam ser eliminadas.
A partir de agora será preciso um grande
empenho da sociedade, num processo que chamamos de “desamiantização”, ou
seja, a retirada dos produtos contendo a fibra e a destinação em
aterros adequados.
Além da lei que proíbe o amianto no estado de
São Paulo (12.684/07), conseguimos a aprovação da Lei do Descarte do
Amianto (16.048/15), que se mostrou extremamente importante, mas que não
garante a retirada total do amianto de nosso ambiente rural ou urbano.
Um exemplo é o que acontece na Sabesp
– a empresa se recusa a substituir boa parte de suas tubulações, que
estão com o tempo de vida útil vencido e são a base do mineral.
O desafio portanto ainda é enorme - o que
significa que a luta ainda não acabou. Hoje o inimigo é declarado e
finalmente temos uma lei federal que protege o trabalhador e o meio
ambiente, mas nem sempre foi assim.
No começo ninguém sabia que era por causa do
amianto - trabalhadores nas fábricas em Osasco, ficavam doentes e
desconheciam o motivo, não faziam ou não tinham acesso aos exames
médicos. Os exames ficavam em posse das empresas, como a Eternit, e acabavam sendo usados contra os próprios funcionários que, ao primeiro sinal de complicações de saúde, eram demitidos.
Aos poucos aquilo foi chamando atenção, tanto
da minha parte enquanto vereador quanto da parte da Dra. Fernanda
Giannassi, uma fiscal do Ministério Público do Trabalho (MPT) que veio a
se tornar uma grande referência na luta contra o amianto.
Ainda não existia a ABREA (Associação
Brasileira dos Expostos ao Amianto), então tivemos que ajudar os
trabalhadores a se organizarem. Ao apresentar o primeiro projeto de
proibição do amianto na cidade, usava o microfone da Câmara Municipal
para lembrar dos trabalhadores recém falecidos. Era muito triste aquilo
tudo.
O primeiro caso que tivemos a confirmação da
causa da morte por exposição ao amianto foi do Aquilino Alves dos
Santos. Não poderíamos deixar a morte dele - tão trágica - passar em
branco, então surgiu a ideia de dar seu nome a uma praça. Estávamos
comprando uma briga contra grupos econômicos fortíssimos, mas aquilo era
apenas o começo.
Já como deputado consegui aprovar em 2007 a
lei 12.684, que proíbe o uso do amianto em São Paulo. No texto incluímos
ainda a realização de uma Semana de Conscientização sobre os malefícios
do asbesto (outra denominação do amianto), que é promovida anualmente
pela ABREA.
Muitas fábricas já haviam encerrado suas
atividades e outras passaram a substituir o produto por outros
semelhantes não cancerígenos, mas o passivo ambiental e humano já era
enorme – sabemos que várias doenças causadas pela exposição a este
produto podem demorar até 40 anos para se manifestar, o que significa
que em breve teremos muitas mortes decorrentes da contaminação nas
décadas de 80 e 90.
Depois da aprovação da lei paulista, vários
outros estados se mobilizaram e conseguiram também aprovar leis
restritivas a esta substância em seus territórios. A prática incomodou
muito a indústria do amianto, que ainda possuía minas em operação no
Brasil e seus produtos alcançam, até hoje, a maioria dos estados no
país.
Poderosos grupos econômicos tentaram revogar
essas leis no Supremo, prolongando a vida de empresas que há muito já
deveriam ter sido interditadas. A nossa lei, por exemplo, já havia sido
considerada constitucional pelo STF quando voltou a ser apreciada em
2016, processo que se estendeu no Supremo até a semana passada.
Com o suor e a vida de inúmeros companheiros,
felizmente a fibra assassina passou a ser proibida no país. Mas isso
não é tudo. O passivo ambiental e humano deixado por essa indústria
inescrupulosa terá que ser administrado, esperamos que não apenas pelo
poder público, mas principalmente com recursos das empresas que nos
flagelaram por todo esse tempo. Basta de amianto!
*Marcos Martins é deputado estadual pelo PT e autor da lei que proíbe o amianto no estado de São Paulo
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