O terror massacra pessoas. Independentemente de sexo, da cor, do credo,
do status e da origem, são vidas humanas que se despedaçam diante da
violência estúpida e injustificável. A chacina na boate Pulse, em
Orlando, é antes de tudo uma violação ao estatuto da vida. No entanto,
traz em si um componente que nos estarrece: o ódio aos gays.
Nos Estados Unidos, o assassino escolheu matar humanos que se
relacionam com humanos do mesmo sexo porque não suportava ficar diante
de beijos entre dois homens. Teve o livre arbítrio sobre os alvos. Tinha
em si o asco e o preconceito plantados por religiões arcaicas, que se
negam a atualizar suas escrituras vencidas pelo tempo.
Para nós, brasileiros, o massacre da boate Pulse é muito íntimo. Lidamos com parlamentares evangélicos xiitas que disseminam munição nos seus discursos no Congresso e nas redes sociais. São homens, que em nome de uma fé cristã, ajudam a espalhar o ódio e a disseminar a homofobia. Trabalham em seus templos para que seus seguidores desprezem gays. Nos gabinetes, criam leis para tirar e impedir direitos de transexuais.
Enquanto pregam o desamor, a vida segue arriscada para milhões de
brasileiros gays, sobretudo, o das periferias, das capitais do Norte e
do Nordeste e dos grotões do País. A violência é tão bárbara quanto no
episódio chocante de Orlando. Em 2015, 318 homossexuais foram assinados
no Brasil, segundo relatório anual do Grupo Gay da Bahia (GGB). Em 2014,
não foi diferente, Em 2016, a previsão é ainda mais pessimista.
Das 318 vidas perdidas, 52% eram de gays, 37% de travestis, 16% de lésbicas e 10% de bissexuais. Com um legislativo medieval e contaminado por líderes religiosos medíocres, importantes leis, como a da criminalização da homofobia, apodrecem nas gavetas de uma Câmara dos Deputados impotente e incapaz de reagir às mudanças do tempo. O que se tem de avanço deve-se ao Judiciário, poder que deu aos homossexuais brasileiros o direito de constituir oficialmente uma família.
Cada vez em que um desses líderes religiosos
do ódio impede o avanço das leis, uma bala da AR-15 do fanático de
Orlando dispara contra a sociedade civil brasileira. Com seus versículos
distorcidos, arquitetam a violência contra a comunidade homossexual"
São tenebrosos cúmplices da morte das 318 vidas perdidas só em 2015.
Representam ainda todo o atraso de um país laico que avança para o
futuro cambaleando por forças do atraso. Agarram-se as pernas da nação
como se fossem tentáculos de um polvo gigante mergulhado num mar morto,
onde boiam a hipocrisia e o uso em vão e malfadado da essência da
religião cristã: que prega o amor ao próximo como a si mesmo.
Aqui e, em Orlando, matam-se em nome do mesmo deus: o da ignorância"
Disponível em: http://www.metropoles.com/colunas-blogs/tipo-assim/homofobia-no-brasil-mata-seis-vezes-mais-que-o-massacre-de-orlando
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