O controle de Roma sobre a Teologia desde Paulo VI é forte e gerou
medo. E sabemos que o medo paralisa o pensamento e bloqueia a
criatividade.

Por José María Castillo*
Por lei da vida, a grande geração de teólogos que fizeram possível a
renovação teológica trazida pelo Concílio Vaticano II está prestes a se
extinguir completamente. Nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu
uma nova geração capaz de continuar o trabalho que os grandes teólogos
do século XX começaram.
Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e alguns esforços
com relação à espiritualidade foram áreas de labor teológico que
permaneceram com dignidade. Mas mesmo os grandes movimentos, como
acontece com a teologia da libertação, dão a impressão de
estarem sucumbindo. Oxalá esteja errado.
O que aconteceu na Igreja? O que está acontecendo conosco? Em
primeiro lugar, devemos considerar a gravidade do que estamos
vivenciando nesta ordem das coisas. Outras áreas do conhecimento não
param de crescer: ciência, estudos históricos e sociais, as mais
diversas tecnologias, sobretudo, surpreendem-nos cada dia com novas
descobertas.
Enquanto a teologia (falo especificamente da teologia católica)
permanece firme, implacável e interessando cada dia a menos gente,
incapaz de responder às perguntas que tantas pessoas se fazem. Acima de
tudo, determinada a manter como intocáveis supostas "verdades", que eu
sinceramente não sei como se podem continuar defendendo neste momento.
Para dar alguns exemplos: Como podemos continuar falando de Deus,
confiantes de que dizemos o que ele pensa e o que ele quer, sabendo que
Deus é o Transcendente, o que, portanto, não está ao nosso alcance? Como
é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos? Como se
pode assegurar que "por um só homem entrou o pecado ao mundo"? Será que
vamos apresentar como verdades centrais da nossa fé aquelas coisas que
são realmente mitos com mais de quatro mil anos de idade? Que argumentos
podem garantir que o pecado de Adão e a redenção do pecado são verdades
centrais da nossa fé?
Momento de oração no II Congresso Continental de Teologia em 2005. (www.amerindiaenlared.org)
Como é possível defender que a morte de Cristo foi um "sacrifício
ritual" que Deus necessitou para nos perdoar dos nossos pecados e nos
salvar para o céu? Como se pode dizer às pessoas que o sofrimento, a
miséria, a dor e a morte são "bênçãos" que Deus nos manda? Por que
continuamos mantendo rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos de
idade e que ninguém entende ou sabe por que eles continuam sendo
impostos sobre as pessoas? Realmente acreditamos o que nos é dito em
alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?
Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias
seria interminável. Enquanto isso, as igrejas vazias ou com algumas
pessoas idosas que frequentam a missa por inércia ou por costume. Ao
passo que nossos bispos ficam escandalizados por questões de sexo, eles
mesmos calam (ou fazem afirmações tão gerais que correspondem a
silêncios cúmplices) a quantidade de abusos de crianças cometidos por
clérigos, abusos de poder por parte de manipuladores humilhando alguns,
roubando outros e oprimindo aqueles que têm à sua disposição.
Eu insisto que, a partir da minha modesta perspectiva, o problema
está na pobre, na muito pobre, teologia que temos. Uma teologia que não
leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a "encarnação"
de Deus em Jesus. O chamado de Jesus para “segui-lo”. A vida exemplar e o
projeto de vida de Jesus. E a grande questão que os crentes teriam que
enfrentar: Como é que vamos apresentar o Evangelho de Jesus neste
momento e nesta sociedade em que vivemos?
Acabo insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia tem sido
muito forte, a partir do final do pontificado de Paulo VI até a renúncia
papal de Bento XVI. O resultado tem sido abissal: na Igreja,
seminários, centros de estudos teológicos, há medo, muito medo. E
sabemos que o medo paralisa o pensamento e bloqueia a criatividade.
A organização da Igreja, nesta ordem de coisas, não pode continuar como
tem sido tantos anos. O Papa Francisco quer uma "Igreja em saída",
aberta, tolerante e criativa. Contudo, seguiremos em frente com este
projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens com bastões de mando,
que não estão dispostos a soltar o poder, do modo como eles o exercem.
Então, se assim for, vamos em frente! Que em breve teremos acabado com o
pouco que nos resta.
Religión Digital
Tradução - Ramón Lara
Disponível em: http://domtotal.com/noticia/1153029/2017/05/o-empobrecimento-da-teologia/
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