“Vicente lutou também contra os neobandeirantes, como se
autodenominam os fazendeiros que invadem a Amazônia Legal. Vicente
morreu para que os Enawenê-Nawê continuem vivos, acompanhados, a partir
de agora, por outros companheiros de trabalho e de ideal”. (Thomaz
Lisboa)
No início do momento celebrativo e de memória os que conviveram com Vicente destacaram algumas impressões e sentimentos sobre a vida e testemunho do mártir. Bartolomeu Meliá
ressaltou que Vicente foi uma pessoa fora do comum, admirada mas nem
sempre imitada. Ele tinha uma enorme capacidade de escutar e de estar
sozinho. Nem tudo e nem sempre era fácil a convivência. Não era um santo
clássico. Tem que acabar com essa civilização (da desigualdade),
repetia.
O artigo é de Egon Heck, publicado por Conselho Indigenista Missionário – CIMI, 04-04-2017.
Para Egydio Schwade, e/e foi um dos maiores indigenistas que o país conheceu. Ele foi um grande mestre da inculturação, afirmou Elisabeth Aracy Rondon, colocando uma interrogação: “o que diria Vicente sobre a realidade que vivem hoje esses povos?” Para Vanda, ele foi seu guru, inspirando confiança. Ele tinha uma enorme admiração pelos Enawenê. Era uma pessoa imensamente livre, disse Sebastião Carlos Moreira, que esteve com os amigos na hora que encontramos o corpo de Vicente, no dia 16 de maio.
Tinha ideias muito transformadoras e práticas radicais. Thomaz
tem “grande admiração por esse seu melhor amigo, que tanto o ajudou nas
horas difíceis de discernimento e decisões”. Respeitava profundamente o
outro, em especial os povos indígenas.
D. Roque, presidente do Cimi, veio trazer sua palavra de ânimo aos lutadores e lutadoras que, como Vicente assumem a causa dos povos indígenas e da transformação social.
D. Roque, presidente do Cimi, veio trazer sua palavra de ânimo aos lutadores e lutadoras que, como Vicente assumem a causa dos povos indígenas e da transformação social.
Foram três dias de intensas celebrações em sintonia com a mãe terra, a irmã água, o vento e o fogo. Sentimos a presença de Vicente
e os milhares de guerreiros e guerreiras indígenas e missionários que
foram assassinados nas últimas décadas, que deram suas vidas para que
prevaleçam as forças da Vida sobre os projetos de morte.
Os povos indígenas presentes destacaram a importância de pessoas
comprometidas com a causa indígena, como Vicente. Chamaram atenção para o
cuidado necessário, por parte dos missionários, pois existem muitas
ameaças de assassinato daqueles que apoiam a causa indígena.
“Vivenciamos neste encontro de memória, saudade e partilha momentos
celebrativos que nos ajudaram a reavivar nossa fé, esperança e utopia.
Os testemunhos das pessoas que conviveram com o Ir. Vicente foram momentos marcantes”, afirma a mensagem do encontro da memória dos 30 anos do assassinato de Vicente Kiwxi.
Vivenciamos aspectos simbolicamente muito fortes. Estiveram presentes os Myky, os Enawenê Nawê e Thomaz Lisboa, que juntamente com Vicente
fez os primeiros contatos com esses povos. Thomaz também estava junto
aos que encontraram o corpo de seu melhor amigo, assassinado em 16 de
abril de 1987.
Genito Guarani Kaiowá, filho do cacique Nísio Gomes, veio para trazer a solidariedade de seu povo e falar da dramática situação pela qual está passando o povo Guarani nas
últimas décadas. Denunciou a violência e criminalização, pois após seis
anos do assassinato de seu pai, o corpo ainda não foi localizado e os
responsáveis por tal barbárie continuam sem punição.
Na mensagem final do encontro ficaram assumidos alguns compromissos e exigências:
Na mensagem final do encontro ficaram assumidos alguns compromissos e exigências:
- A necessidade das entidades envolvidas com a questão indígena
busquem formas concretas de realizar trabalhos em rede, com uma presença
na aldeia Enawenê-Nawê contribuindo para a garantia de bem viver frente às várias ameaças das PCHs, BR 174, mineração e agronegócio.
- Novo júri popular, não apenas para que seja feito justiça no assassinato de Ir. Vicente Cañas,
mas naquilo em que ele representará para a garantia dos direitos dos
povos indígenas e a segurança para aqueles que, em apoio a esses povos
se colocam ao seu lado contra projetos que põem em risco suas vidas,
seus costumes e seus territórios no Brasil.
Para manter viva a memória do Ir. Vicente Cañas,
durante o Seminário, foi lançado o livro “Provocar rupturas, construir o
Reino: memória, martírio e missão de Vicente Cañas”, organizado pelo Cimi e publicado pela editora Loyola. Um documentário sobre o seminário também está sendo preparado.
“Chega de tanta violência, basta de tanta morte! Convocamos todos à
luta contra esta barbárie e perversidade que ceifa a vida de nossos
irmãos e irmãs. Apesar do risco de morte, jamais deixaremos de lutar”. (D. Erwin Kräutler, 24 de maio de 1987)
“Obrigado Ir. Vicente Cañas por deixar-te amassar e germinar pela Amazônia
e seus povos. Obrigado por teu túmulo florido, por doar-te todo, por
teu martírio e transformação profética, irmão jesuíta, em (Kiwxi) irmão
dos índios!” (Fernando Lopez)
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/566501-nossas-lutas-nossos-martires
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