"Os sem-CLT
ganham 23% menos, trabalham muitas horas a mais e se acidentam com
muito maior frequência. Que país surgirá de medidas que impõem este tipo
de retrocesso?", questiona José Álvaro de Lima Cardoso, economista, em artigo publicado por Outras Palavras, 10-04-2017.
Eis o artigo.
As crises econômicas, historicamente, sempre serviram à retirada de direitos sociais e trabalhistas. Convertido agora em lei, o projeto 4302/98, que permite a terceirização em qualquer etapa da atividade produtiva e, além disso, a quarteirização, irá aumentar dramaticamente a precarização
das condições de trabalho. Inicialmente para os próprios terceirizados
(que já são 13 milhões no país); mas a intenção é nivelar por baixo – ou
seja, a piora da condição dos terceirizados irá agravar a situação do
conjunto da classe trabalhadora (não se enganem: esta é a intenção).
Além disso, ao rebaixar salários, a terceirização sem limites irá reduzir os valores da contribuição à Previdência Social,
agravando a situação desta (o objetivo neste caso é quebrar a
previdência pública, abrindo espaços para a previdência privada).
Todas as pesquisas mostram que a taxa de rotatividade é duas vezes maior nas atividades tipicamente terceirizadas. A jornada de trabalho
entre os terceirizados é superior, em média, à jornada dos
trabalhadores contratados diretamente. O percentual de afastamentos por
acidentes de trabalho típicos nas atividades terceirizadas é muito
superior ao verificado nas atividades tipicamente contratantes. Além
disso os salários nas atividades terceirizadas são em média, segundo o DIEESE, 23% menores do que nas atividades tipicamente contratantes.
A lei de terceirização sem limites, já sancionada, tem que ser compreendida no “conjunto da obra golpista”. Somada à destruição da Previdência Social, à destruição dos direitos trabalhistas e a um conjunto impressionante de outros crimes, irá fazer o Brasil
regredir ao início do século XX, quando não havia participação do
Estado na economia. Não havia políticas de saúde e educação públicas,
inexistia regulamentação do trabalho, não existia política de defesa
nacional. Estão aproveitando a crise para liquidar direitos numa
escalada nunca vista, nem no período de ditadura militar. A “reforma”
trabalhista que querem implantar, num país onde mesmo os direitos
trabalhistas básicos são sistematicamente descumpridos, irá colocar o
Brasil numa condição semelhante ao período anterior a 1930.
O neoliberalismo ultrarradical que querem implantar no Brasil
é visceralmente contra 99% da população, só interessa aos milionários e
ao sistema financeiro. O modelo vem para elevar a taxa de exploração,
aumentar o desemprego, entregar as riquezas naturais e as estatais, e
reduzir o que restou de soberania nacional. Para os que estão
implantando este tipo de política, a “vitória” do modelo é exatamente a
transferência dos efeitos da crise para as costas do povo trabalhador e a
conversão do país à condição de Brasil Colônia ou de um protetorado dos EUA. Acham pouco subtrair riquezas nacionais e acabar com os direitos: o objetivo é colocar o Brasil de joelhos.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/566639-na-terceirizacao-selvagem-retrato-de-um-projeto
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