O jornal canadense The Globe and Mail divulgou a versão em português de reportagem sobre os suicídios entre os Guarani Kaiowá, 22 vezes maiores que no conjunto da população brasileira: “Os esquecidos: por dentro da crise de suicídios indígenas no Brasil“. A reportagem de Stephanie Nolen, publicada em inglês no dia 17, constatou que o governo brasileiro não vê nisso uma crise – como ocorre no caso canadense.
A informação é publicada por De Olho nos Ruralistas, 03-04-2017.
Apesar da epidemia, dos enforcamentos seguidos, “os policiais nunca
atendem a um chamado da aldeia rapidamente”, diz a reportagem. Com isso
as crianças acabam vendo os corpos dos parentes pendurados. A maior
parte dos casos ocorre entre adolescentes.
Segundo a publicação, a situação no Brasil tem muitos paralelos com o fenômeno no Canadá. Mas lá os suicídios indígenas são definidos como “crise”. “O primeiro-ministro, Justin Trudeau,
afirmou que adotará medidas urgentes contra o suicídio indígena”,
escreve a repórter. “Seus ministros prometeram uma intervenção em âmbito
federal”.
No Brasil, silêncio. A reportagem informa que, em
2015, o governo federal prometeu reduzir em 10% a taxa de suicídio na
região, e anunciou um plano de prevenção para as aldeias mais afetadas.
Mas sem informar o orçamento ou mesmo os locais específicos da ação. “A
resposta tardia e imprecisa reflete, em parte, o fato de que o país, já
atolado em uma turbulência econômica e política, tem cortado recursos e
desviado o foco da maioria dos problemas sociais”, diz o The Globe and Mail.
Segundo a reportagem, menos que uma dúzia de pesquisadores no Brasil estudam as taxas “astronômicas” de suicídio indígenas. Apenas 13 psicólogos atendem os 70 mil indígenas do Mato Grosso do Sul.
E o país nem sabe quando o problema começou, porque o governo só coleta
dados desde os anos 90. Pior: os números podem ser maiores, pois as
mortes de indígenas “quase nunca são submetidas à análise de um legista,
ou muitas vezes, simplesmente, não são registradas”.
“Mais terra para as vacas”
Este trecho da reportagem descreve a visão que a repórter canadense teve do agronegócio, em contraste com o confinamento dos povos indígenas:
– No lado brasileiro da fronteira, os Guarani-Kaiowa contam com nove aldeias no sul do Mato Grosso do Sul,
estado no coração do lucrativo agronegócio brasileiro. O território,
cuja principal vocação é a produção de grãos, é um vasto mar de campos
verdes de soja, cana de açúcar e milho que pertencem a algumas poucas
empresas gigantes, muitas delas multinacionais. Enquanto o resto do Brasil
cambaleia sob o peso de uma economia estagnada, ainda se faz muito
dinheiro aqui: a fome do mercado asiático pela soja brasileira e pela
carne bovina alimentada com soja não diminuiu. (…) Você pode dirigir
durante 15, 20 minutos em linha reta e passar apenas por pastagens de
gado Bhraman. Depois de um tempo, você percebe que muito mais terra aqui foi dada às vacas do que aos humanos indígenas.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/566481-governo-brasileiro-nao-ve-suicidios-dos-guarani-kaiowa-como-crise-diz-jornal-canadense
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