Assassinato de jovem de 21 anos reacende clamor por justiça num país
onde, segundo estimativas de ONGs, a cada 18 horas uma mulher é morta.
Autor do crime estava em liberdade condicional.Milhares de argentinos
saíram às ruas nesta terça-feira (11/04) para renovar o grito de "Ni uma
menos" ("nem uma a menos"), associado à campanha para pôr fim aos
feminicídios que voltaram a indignar o país após o mais recente
assassinato de uma jovem.
A morte de Micaela García, cujo corpo foi encontrado no último sábado,
provocou o clamor público por medidas efetivas para prevenir esses
crimes, os quais, segundo estimativas de organizações sociais, ocorrem
com a assustadora frequência de um a cada 18 horas.
O crime também reacendeu o debate sobre a chamada "Justiça garantista"
que concede o benefício da liberdade condicional aos suspeitos de
feminicídio, mesmo aos que já foram condenados anteriormente.
A jovem de 21 anos, estudava em Galeguay, na província de Entre Ríos,
onde realizava trabalhos sociais em bairros pobres como militante do
movimento peronista JP Evita. Após uma semana de buscas, seu corpo foi
encontrado na periferia da cidade com sinais de violência sexual, antes
da morte por estrangulamento.
O suspeito, Sebastián Wagner, de 30 anos, está preso. Outros dois homens
também foram detidos, um deles sob suspeita de ter colaborado no
assassinato. Em 2016, após decisão judicial controversa, Wagner ganhou
liberdade condicional após quatro anos de prisão por dois casos de
abusos sexuais em 2010. Ele deveria ter cumprido pena de nove anos.
O
juiz que concedeu o benefício é alvo de moções de políticos tanto da
oposição quanto do governo, que pedem sua destituição.
Vítima participou de marcha contra feminicídio
Micaela havia participado das manifestações sob o lema "Ni uma menos",
iniciadas em junho de 2015, quando centenas marcharam pelas ruas de
Buenos Aires para protestar contra os feminicídios. Cartazes levados por
mulheres no protesto na capital argentina mostravam Micaela García
vestindo uma camiseta com o slogan.
Seu pai, que recebeu a bênção do papa Francisco neste domingo,
juntamente com a família, disse estar orgulhoso da filha por sua
militância em favor das camadas mais desfavorecidas da sociedade.
"Micaela era una militante do movimento argentino de mulheres e de uma
organização política. Seu caso é uma insanidade", afirmou a ativista
Luna Palmada da organização Plenário das Trabalhadoras e da Secretaria
da Mulher da Federação Universitária de Buenos Aires.
Palmada lembrou que o movimento "Ni una menos" foi iniciado há dois
anos, e que apesar da mudança de governo no país, "o Estado não
desenvolveu nenhuma saída para a violência que as mulheres vivem
cotidianamente na Argentina".
"Estamos com uma média de uma mulher assassinada a cada 18 horas. Quando
houve a primeira mobilização do 'Ni una menos' estávamos com uma mulher
assinada a cada 23 horas. Esse é um flagelo mundial", alertou a
deputada Laura Marrone do partido Izquierda Socialista.
Dados oficiais indicam que 290 mulheres foram assassinadas em 2016 na
Argentina, ou seja, uma média de uma a cada 30 horas. Segundo um
levantamento realizado pela ONG Anistia Internacional, nos primeiros 43
dias de 2017 foram cometidos mais de 50 feminicídios.
RC/efe/dpa
Disponível em: http://www.opovo.com.br/noticias/mundo/dw/2017/04/argentinos-voltam-as-ruas-contra-feminicidios.html
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