Rodas de oração na sede do órgão, com a participação de Fátima Pelaes, têm constrangido funcionários.
A secretária Fátima Pelaes (primeira à esquerda), durante roda de oração em seu gabinete
A secretária Especial de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, tem realizado cultos evangélicos na sede do órgão em Brasília, o que tem constrangido profissionais da pasta.
Uma foto enviada à reportagem de CartaCapital
mostra a secretária e funcionárias de sua equipe em um momento de
oração dentro do gabinete, acompanhadas de um homem ao violão.
De acordo com uma fonte que não quis se identificar, subordinadas
diretas de Pelaes têm aproveitado eventos de confraternização para fazer
rodas de oração com os funcionários. “A equipe que assumiu chegou,
digamos, com essa mania. Isso tem causado mal-estar”, disse a fonte.
“Quem já estava na secretaria se surpreendeu, porque isso nunca fez
parte da lógica dali.”
O Estado brasileiro é laico,
e a Igreja não pode interferir no Estado. Além disso, o artigo 5º da
Constituição Federal define que “é inviolável a liberdade de consciência
e de crença”.
A secretária tomou posse em junho de 2016, ainda no governo interino de Michel Temer.
O nome de Pelaes, que é presidenta do PMDB Mulher, foi indicado a Temer
por deputadas do Partido Republicano Brasileiro (PRB), sigla ligada a
Edir Macedo e à Igreja Universal do Reino de Deus.
A escolha do governo para a pasta das Mulheres foi fortemente
criticada por movimentos feministas. Socióloga, Pelaes foi deputada
federal pelo PMDB do Amapá e chegou a defender a legalização do aborto
durante sua trajetória no Congresso, mas mudou radicalmente de opinião a
partir de 2002, quando sobreviveu a um naufrágio no Rio Amazonas.
Após uma “busca por Deus”, Pelaes decidiu se converter à religião
evangélica. Ela foi presidente da Frente Parlamentar Evangélica e passou
a militar pelo direito à vida “desde a concepção”.
Em 2010, a então deputada fez um discurso em defesa da aprovação do Estatuto do Nascituro,
projeto de lei que dá direitos ao feto e dificulta ainda mais o acesso
ao aborto legal, mesmo em casos de estupro. Na ocasião, Pelaes revelou
que nasceu de um estupro que sua mãe sofreu na prisão.
“Eu já estive também em alguns momentos, nesta comissão, defendendo
[o aborto], dizendo que toda mulher tem direito, que a vida não começa
na concepção. Mas eu precisava ser curada, porque eu estava com trauma.
Eu não conseguia falar disso”, disse em uma comissão.
O episódio foi resgatado com a nomeação de Pelaes para a pasta das
Mulheres e, após repercussão negativa, a secretária emitiu uma nota na
qual recuava de suas posições. “A mulher vítima de estupro que optar
pela interrupção da gravidez deve ter total apoio do Estado, direito
hoje já garantido por lei”, dizia o texto.
A gafe mais recente da secretária ocorreu neste Dia Internacional da Mulher.
Ao defender Temer de suas declarações machistas, Pelaes foi mais uma
vez alvo de críticas de movimentos que lutam pelos direitos das
mulheres.
Em um discurso infeliz, o peemedebista afirmou que “seguramente” cabe
à mulher cuidar da casa e da formação dos filhos, palavras que ganharam
as redes e correram o mundo.
Naquele mesmo dia, em entrevista no Palácio do Planalto, Pelaes
minimizou as declarações e disse que se trata de uma realidade. “Acho
que estamos falando do que a mulher ainda vive hoje”, afirmou.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/secretaria-das-mulheres-de-temer-faz-culto-evangelico-em-gabinete
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