'Primavera secundarista' já marca presença em quatro Estados. Morte de estudante em escola de Curitiba gera apreensão.
E. E. Silvio Xavier, no Piqueri, foi ocupada nesta segunda à noite. M. Rossi
A Escola Estadual professor Silvio Xavier Antunes, na zona norte de São Paulo, foi ocupada na noite desta segunda-feira. A ocupação foi a forma de protestos eleita pelos estudantes que são contrários à reforma do Ensino Médio e à PEC 241, a ser votada por segunda vez nesta terça na Câmara. O projeto visa limitar o teto dos gastos públicos e pode afetar o investimento em educação no país nos próximos anos. No Estado do Paraná, até o fechamento desta reportagem, estavam ocupadas 850, das 2.114 escolas estaduais, além de 14 universidades, de acordo com os estudantes. A secretaria de Educação confirma 792. Em Minas Gerais, o Governo afirma que, até o momento, 38 escolas estão ocupadas. E no Espírito Santo, são cinco, oficialmente, totalizando quase 1.000 ocupações no que os estudantes batizaram de primavera secundarista.
Em Curitiba, capital paranaense, uma das escolas ocupadas
viveu uma tragédia nesta segunda. Um adolescente matou o outro numa
briga, numa escola do bairro Santa Felicidade, como informa o jornal Gazeta do Povo.
A Secretaria de Segurança do Estado afirmou que os dois teriam
consumido drogas, segundo o jornal. Os relatos colhidos junto a amigos
da família e do aluno morto era de que a vítima, de 16 anos, era uma
pessoa bastante tranquila. A escola foi desocupada na sequência.
O
episódio causou comoção na cidade e aumentou as críticas ao movimento
de estudantes por parte das autoridades e de setores da população que
reclamam da mudança de rotina promovida pelos jovens. O movimento das
ocupações acontece em meio às eleições municipais no Brasil, que sempre
conta com a estrutura das escolas para a hora do voto. Mas desta vez
milhares de eleitores terão de mudar de endereço na hora de confirmar
seu prefeito eleito nas eleições do próximo domingo, 30. A mobilização
do Paraná, por exemplo, vai alterar a rotina de 700.000 eleitores. O
Tribunal Regional Eleitoral teve que mudar 205 locais de votação por
causa das ocupações. Desses, grande parte estão em Curitiba, a terra do
juiz Sérgio Moro, e em outras cidades médias do Estado.
Em São Paulo, onde o prefeito João Doria (PSDB) foi eleito
no primeiro turno, os estudantes paulistas ensaiam aderir às ocupações
do Paraná ao menos desde o início de outubro.
No dia 8, o colégio estadual Caetano de Campos, no centro de São Paulo,
foi ocupado, mas os alunos deixaram a escola no mesmo dia, após a
chegada da Tropa de Choque da Polícia Militar. Não houve repressão. Na
semana seguinte, a Escola Estadual Diadema, a primeira a ser ocupada no
ano passado, realizou duas assembleias para debater o tema. Até o
momento, decidiram por não ocupar novamente.
A escola Silvio Xavier, ocupada nesta segunda, já foi palco de ocupação no ano passado. Os estudantes de lá se juntaram ao movimento estadual dos secundaristas contra a reorganização escolar do Governo Alckmin (PSDB). No auge do movimento, havia 200 escolas ocupadas pelo Estado de São Paulo. A Silvio Xavier estava na lista
das 92 escolas que seriam fechadas com a reorganização. Agora, ela se
junta à articulação nacional dos estudantes para marcar posição contra
as mudanças promovidas na área de educação que vai afetá-los
diretamente.
Desta vez, os secundaristas se manifestam contra a PEC 241 e conta a reforma do Ensino Médio,
anunciada pelo presidente Michel Temer no final de setembro. As
mudanças, que ainda terão de passar pela aprovação da Câmara dos
Deputados, mas já podem começar a valer a partir do ano que vem, incluem
a expansão do ensino integral e a flexibilização do currículo. Assim
como há um ano, quando se manifestavam contra a reorganização escolar,
os alunos reclamam, mais uma vez, da falta de diálogo do Governo ao
propor uma medida que afeta diretamente a vida deles.
Exame Nacional em suspense
Se o protesto continuar, outra agenda nacional será afetada.
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova do Ministério da
Educação para chegar à universidade, também pode ser cancelado nas
escolas ocupadas. O exame ocorre nos dias 5 e 6 de novembro. O ministro
da Educação, Mendonça Filho, já pediu, na semana passada, que os
estudantes saiam das escolas até a próxima segunda, dia 31. Caso
contrário as provas não serão aplicadas nos locais que continuarem
ocupados, o que deve atingir 95.000 alunos. “Faço um apelo aos
estudantes do Brasil. Deixem os jovens se submeterem ao Enem”, disse o
ministro. "O Estado brasileiro vai ter que arcar com os custos de uma
nova prova". Ele calcula que o gasto para a realização de um novo exame
será de mais de 8 milhões de reais. Os estudantes, porém, parecem
resistir aos apelos do ministro.
Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/24/politica/1477327658_698523.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário