A todo instante, está colocada também a
possibilidade de que a vida cesse. Somos o único animal que sabe que um
dia vai morrer. Aquele gato, que dorme ali, vive cada dia como se fosse o
único. Nós vivemos cada dia como se fosse o último. Isso significa que
você e eu, como humanos, deveríamos ter a tentação de não desperdiçar a
vida. Escrevi um livro chamado “Qual É a Tua Obra?”, que começa com uma
frase de Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico no século 19.
Ele disse: “A vida é muito curta para ser pequena”.
Como não apequenar a vida?
Dando-lhe sentido. A espiritualidade ou
religiosidade é uma das maneiras de fazê-lo. A religiosidade, não
necessariamente a religião. Religiosidade que se manifesta como
convivência, fraternidade, partilha, agradecimento, homenagem a uma vida
que explode de beleza. Isso não significa viver sem dificuldades,
problemas, atribulações. Mas, sim, que, apesar disso tudo, vale a pena
viver. Meu livro “Viver em Paz para Morrer em Paz”, parte de uma
pergunta: “Se você não existisse, que falta faria?” Eu quero fazer
falta. Não quero ser esquecido.
Fale mais da diferença entre religiosidade e religião.
Religiosidade é uma manifestação da
sacralidade da existência, uma vibração da amorosidade da vida. E também
o sentimento que temos da nossa conexão com esse mistério, com essa
dádiva. Algumas pessoas canalizam a religiosidade para uma forma
institucionalizada, com ritos, livros – a isso se chama “religião”. Mas
há muita gente com intensa religiosidade que não tem religião. Aliás, em
minha trajetória, jamais conheci alguém que não tivesse alguma
religiosidade. Digo mais: nunca houve registro na história humana da
ausência de religiosidade. Todos os primeiros sinais de humanidade que
encontramos estão ligados à religiosidade e à ideia de nossa vinculação
com uma obra maior, da qual faríamos parte.
De onde vem essa ideia?
Existe uma grande questão que é
trabalhada pela ciência, pela arte, pela filosofia e pela religião. A
pergunta mais estridente: “Por que as coisas existem? Por que existimos?
Qual é o sentido da existência?” Para essa pergunta, há quatro grandes
caminhos de reposta: o da ciência, o da arte, o da filosofia e o da
religião. De maneira geral, a ciência busca os comos”. A arte, a
filosofia e a religião buscam os “porquês”, o sentido. A arte, a
filosofia e a religião são uma recusa à ideia de que sejamos apenas o
resultado da junção casual de átomos, de que sejamos apenas uma unidade
de carbono e de que estejamos aqui só de passagem. Como milhões de
pessoas no passado e no presente, acho que seria muito fútil se assim
fosse. Eu me recuso a ser apenas algo que passa. Eu desejo que exista
entre mim e o resto da vibração da vida uma conexão. Essa conexão é
exatamente a construção do sentido: eu existo para fazer a existência
vibrar. E ela vibra em mim, no outro, na natureza, na história.
Trecho de uma entrevista concedida ao Planeta Sustentável.
Vazio Contemporâneo e Espiritualidade ● Leandro Karnal ● Palestra
https://www.youtube.com/watch?v=tMwYxv9xf4M
Disponível em: http://pensadoranonimo.com.br/nao-adie-o-seu-encontro-com-espiritualidade/
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