Escolas devem perder R$ 58 bilhões em todo o Brasil se projeto de Michel Temer for aprovado. Prejuízos serão triplicado nos 20 anos em que vigorar a suspensão das vinculações obrigatórias da União e o congelamento de investimentos, com a possível aprovação da PEC 241.
Cida de Oliveira, RBA
A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)
estima em R$ 58 bilhões as perdas de recursos para a manutenção do
ensino nas redes públicas das cidades ao longo de dez anos, caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 seja aprovada. Para os 20 anos de congelamento dos investimentos previstos no texto em tramitação no Congresso, os prejuízos deverão triplicados.
“Nós, gestores municipais, vemos com muita
aflição e preocupação a discussão dessa PEC no Congresso. Somos
totalmente contrários à desvinculação dos recursos porque é a única
garantia que temos de a União, ente que mais arrecada, repassar recursos
aos municípios e aos estados“, diz o presidente da entidade, Alessio Costa Lima.
Pela Constituição,
os municípios devem aplicar 15% de sua arrecadação com impostos na
educação. O percentual de estados e do Distrito Federal é de 12%. Já a
União deve investir o percentual aplicado no ano anterior corrigido pela
variação do PIB. Porém, conforme o Plano Nacional de Educação (PNE), o governo federal tem cerca de dez anos pela frente para passar a investir 10% do PIB.
Secretário de Educação no município de Tabuleiro do
Norte, no Ceará, Alessio ressalta que a desvinculação dos recursos é
ainda mais nefasta para o ensino público do que o que o próprio
congelamento previsto pela proposta. “Pior do que o teto, que
congela, é a desvinculação. Mesmo que houvesse o congelamento, a
existência de um referencial para a destinação mínima dos recursos
asseguraria pelo menos a destinação de um mínimo, de forma definitiva,
para não ficarmos ao bel prazer do gestor federal. Sem a vinculação
constitucional, ele poderia tirar da educação e jogar os recursos para
outra área. Ou seja, sem a vinculação, a União ficaria desobrigada de
repassar”
A PEC 241, como ele explica, está na contramão de todos os avanços em termos de legislação. É o caso da Emenda Constitucional 59,
aprovada em novembro de 2009, que obriga a escolaridade dos 4 aos 17
anos. O prazo para cumprimento era 2016. Porém, a cobertura chegou a
90%. “Quase 600 mil crianças ainda estão fora da pré-escola. São
crianças da periferia, das áreas de difícil acesso, da zona rural, com
deficiência, de famílias de baixa renda. São justamente as crianças que
mais precisam da escola“, destaca. “Incluir essas 600 mil crianças requer abertura de vagas, fazer novas contratações, que não teremos como financiar.”
Plano Nacional
A desvinculação de recursos, conforme lembra, coloca em risco a implementação de metas do PNE, que foram aprovadas depois de debates iniciados em conferências realizadas nos âmbitos municipal, estadual e nacional.
“Essas metas foram sonhadas por professores,
alunos, educadores, e correspondem a expectativas da população. E agora,
num cenário de recessão, é quando se tornam ainda mais importantes. Não
podemos perder o foco da importância e da prioridade que tem de ser
dada às metas do PNE. E se educação é mesmo prioridade, é agora que nós
vamos saber. Todos os países, em época de crise, enfrentaram problemas
econômicos e de outras naturezas investindo na educação. E saíram dela
vitoriosos por meio da opção de investimento em massa na educação do seu
povo.”
O presidente da Undime lembra o caso de sucesso de seu próprio estado. O Ceará tem quase 70 das 100 escolas públicas com melhor desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015. Conforme ele, trata-se do resultado de um trabalho focalizado na melhoria da qualidade do ensino.
“Houve um esforço concentrado, por decisão
política, na cidade de Sobral, que priorizou a alfabetização. A semente
foi levada por Cid Gomes para o estado, que passou a qualificar
gestores, incentivar os professores, selecionar diretores, melhorar as
avaliações de alunos. Foi toda uma política que bancou formação dos
professores, com o município escolhendo a agência formadora entre as
certificadas pelo estado.”
Ele conta que havia compra de material didático,
livros, desde a educação infantil. O programa focado na alfabetização
expandiu-se para até o quinto ano, e o estado investia fortemente na
educação em todos os municípios, sem distinção político- partidária. “Durante
oito anos consecutivos foram beneficiados. O estado agora está colhendo
os resultados desse trabalho. Muita coisa mudou, houve redução no
financiamento, mas a cultura que foi implementada ficou“, diz.
Hoje, mais de 72% das crianças chegam ao segundo
ano plenamente alfabetizadas. Conforme Alessio, isso aumenta as chances
de sucesso escolar também porque facilita o trabalho do professor. Lendo
bem, a maioria das crianças continua avançando sem muito trabalho, com o
professor tendo menos alunos com dificuldades para trabalhar mais
individualmente.
O presidente da Undime ressalta que, em todo o país, o desempenho do ensino fundamental vem melhorando a cada edição do Ideb.
E em 2015, as escolas mantidas pelas prefeituras tiveram o melhor
desempenho. Paralelo a isso, segundo ele, ocorreu em todo o país a
municipalização das matrículas principalmente de 1ª a 5ª série.
“Dessas matrículas, 82% são da rede municipal
de ensino. Apesar dos problemas de financiamento, os municípios têm
melhorado a gestão dos poucos recursos que chegam, e derrubando um senso
comum de que nos municípios predominam a ineficácia, a má gestão dos
recursos. Mas o Ideb está mostrando que não é bem assim.”
Recessão
Conforme ele, os gestores entraram no terceiro ano
consecutivo de retração econômica, com menos repasses nas transferências
constitucionais, comprometendo toda política no município. Apesar
disso, a rede municipal vem melhorando seus resultados.
“Isso é fruto de políticas mais articuladas no
âmbito do município, com melhoria de suas práticas de gestão. A gente
observa também a melhora do perfil do gestor de educação, o que tem
feito a grande diferença. Cada vez mais os prefeitos têm se
conscientizado de que quem deve ocupar a pasta tem de ser gente da
educação, com qualificação na área. E que entenda de gestão,
planejamento e financiamento porque é ele que organiza as politicas
locais, administrar melhor os recursos, aplica melhor e define quais são
as prioridades.”
A Undime
está no início do mapeamento do perfil dos gestores. Dados
preliminares, informais, indicam melhorias a cada ano. Alessio conta
ainda que há um esforço da entidade para socializar todas as informações
para que os gestores possam tomar atitudes mais acertadas para a melhor
organização do setor.
É o caso, por exemplo, da gestão da merenda escolar
e de ações pedagógicas que, em parte, explicam a melhoria dos
resultados apesar da menos recursos. “A gente melhora as práticas de
acompanhamento das redes de ensino. O município é capaz de gerir porque
é lá que acontece a pressão, mas também o controle social. Quando falta
merenda, é na porta do prefeito que a população vai reclamar. E não na
porta do ministro. Por isso a Undime celebra esses resultados no Ideb e
luta por uma política justa de reforma fiscal.”
Disponível em: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2016/09/educacao-perder-bilhoes-aprovada-pec-241.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário