Ex-ministro disparou fortes críticas
contra diferentes lideranças políticas do país.
contra diferentes lideranças políticas do país.
Jornal do Brasil
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem buscado se projetar como uma solução
para os descrentes na política que deixaram resposta nas eleições
municipais, avaliam cientistas políticos. No primeiro turno, a soma de
votos brancos, nulos e abstenções superou o desempenho do primeiro ou do
segundo colocado na disputa para prefeito em 22 capitais, de acordo com
dados do TSE. No domingo (9), o pedetista fez críticas a lideranças
políticas de diferentes partidos. Chamou Michel Temer de "golpista salafrário", Fernando Henrique Cardoso de traidor, José Serra de "senil", Luiz Inácio Lula da Silva de descolado da realidade, e o candidato a prefeito do Rio Marcelo Freixo de dono de um "moralismo estreito". Cristiano Noronha, cientista político da Arko Advice, destaca que Ciro Gomes "sempre foi um político de declarações muito fortes". Para ele, contudo, o ataque a diferentes lideranças é uma forma de aproveitar a "onda" do eleitorado de rejeição à política. "Eu
acho que ele está procurando pavimentar este caminho, visto que nenhum
partido de esquerda parece ter herdado o espólio do PT. O Ciro quer se
colocar como alternativa", comenta Noronha, lembrando que Marina
Silva, por exemplo, teve um desempenho muito fraco com o Rede
Sustentabilidade nestas eleições, elegendo cinco prefeitos da disputa em
820 municípios, por não ter sido "capaz de construir uma narrativa que atraísse eleitores". "Talvez Ciro esteja pensando em se colocar como alternativa para esse eleitores de esquerda ou centro esquerda", avalia Noronha.
O sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, professor da Universidade Federal
do Paraná (UFPR), também acredita que Ciro procura colocar o próprio
nome como liderança oposicionista mais ampla, por estar em um partido
político fraco e pequeno. "Ciro Gomes está procurando construir
uma base política a partir de um discurso mais ofensivo e agressivo, até
para viabilizar uma candidatura dele nas próximas eleições", pontua Oliveira. "Para
ele ter chance, ele vai ter que se destacar dos outros e compensar as
fragilidades partidárias, construir um novo perfil mais radical, é uma
jogada política." Com isto, o político se torna porta-voz de toda uma posição, que aponta rejeição ao "governo golpista"
de Michel Temer ao mesmo tempo que sinaliza uma frente ampla e até
nacionalista -- lembrando nomes como o do russo Vladimir Putin --, com a
pauta de, por exemplo, retomar o petróleo do país. Em entrevista à TV
Paranaíba na semana passada, o ex-ministro afirmou que, se eleito em
2018, garantiria de volta a obrigatoriedade da Petrobras na exploração
do pré-sal. "O Ciro sabe que a chance dele [disputar uma eventual
campanha presidencial em 2018 é aparecer. Ele tem que estar em destaque
político com tiradas mais radicais e referendando o nome dele em crítica
ao Temer e ao bloco partidário que o apoia, viabilizando uma
candidatura em relação a possíveis candidaturas na oposição, como do PT e
do Psol, para ampliar seu espaço no eleitorado do centro para a
esquerda", explica Costa de Oliveira.
Aldo Fornazieri, professor da Escola de Sociologia e Política de São
Paulo, por sua vez, argumenta que o posicionamento de Ciro Gomes é mais
uma expressão sincera do que um planejamento de projeção eleitoral. Ele
reforça, ainda, que a política brasileira precisa de fato de uma "crítica muito forte", para "rasgar o véu da hipocrisia que recobre a direita e a esquerda no Brasil". "Acho que o faz de conta tem que ser desnudado neste momento, as poucas nervuras são necessárias." "O centro e a direita são o que são, o que sempre foram, cínicos, hipócritas. E a esquerda não oferece alternativa", diz o professor.
"O momento é tão grave, tão angustiante, sem perspectivas, que essas
críticas demolidoras [como a de Ciro Gomes contra diferentes políticos]
são bem-vindas. Independente do que ele representa, ou do que pretende
representar no futuro, temos que colocar os dedos na ferida política
brasileira e, se colocar efetivamente, sobra muito pouco."
O professor ressalta que tal posicionamento de Ciro Gomes, de crítica a
diferentes frentes políticas tem a ver com uma estratégia eleitoral
apenas em parte. "O Ciro sempre foi mais ou menos desse tipo, não
tem muito a mediação do interesse político naquilo que ele é. Existe
menos cálculo e mais impulsão emocional e espontânea naquilo que ele
fala."
http://www.jb.com.br/
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