Pra um segmento que historicamente luta contra o preconceito e por direitos, o casamento é uma conquista muito maior do que uma simples formalidade. (Foto: Silas Lima)
Encontrar um grande amor, noivar, casar, ter filhos... Os planos simples para heterossexuais, fica um pouco complicado para quem é gay, mas nem por isso a vontade muda. No caso de quem rompe os padrões, a diferença é que o momento une muito mais amigos do que a família, que muitas vezes não entra nem na lista de convidados para o casamento. É o fim de qualquer segredo e, na maioria das vezes, um passo sem volta na conversa franca com quem ainda não aceitou a diversidade.
O professor de Educação Física, Andrey Borges, de 24 anos, agora é noivo do também professor Fábio Dias Boeira, de 30.
No último domingo, também o dia do aniversário de Fábio, Andrey pediu a mão do namorado em casamento, sob o testemunho dos amigos mais próximos do casal, sem pai ou mãe. Mesmo assim, mais do que uma formalidade e uma declaração de vida nova, para eles é a certeza de que realizar sonhos é um direito de todos, mesmo que o preço seja a distância de algumas pessoas fundamentais e nas horas mais importantes.
“Sempre foi meu sonho noivar, casar, ter uma casa, construir uma família. As pessoas têm que se desligar do que é visto como padrão ou tido como certo ou errado, para aprender a agir conforme o que elas sentem. Se a gente sonha com tudo isso, então a gente vai usufruir juntos de tudo isso. O casamento é um direito nosso", pontua Andrey.
No dia seguinte ao pedido, veio a certeza de que os dois pensam da mesma forma. "Ele (Fábio) foi me contar que um dos maiores sonhos de vida dele, era noivar aos 30 anos. E eu surpreendi ele com esse presente, no dia do seu aniversário ”, lembra.
Depois de um plano arquitetado em segredo e com pelo menos 25 amigos envolvidos, foi no Parque das Nações Indígenas que um “primeiro pedido”, bem diferente, foi feito. “Foi tudo ideia dele. Ele sempre foi desses que gosta de surpresas. Mas até então eu desconfiava que seria apenas algo em comemoração ao meu aniversário. No máximo uma festinha com balõezinhos, refrigerante, bolo e tudo mais”, brinca Fábio.
No domingo à tarde, Andrey convidou o namorado para ir ao parque encontrar dois casais de amigos. Mal sabia Fábio que há dias, e via WhatsApp, os amigos foram convocados para ajudar na “missão casamento”, para lá de romântica.
“Eu sugeri uma proposta de pedido de casamento e eles até melhoraram a minha ideia inicial. No tempo livre do meu trabalho, eu mesmo fiz os cartazes, comprei uns balões. Meus amigos compraram taças, champanhe, confetes. No dia, apareceu todo mundo de branco e com direito até a filmagem”, conta Andrey.
Mas se todo o plano por si só já era motivo de ansiedade, o que o rapaz não esperava era um imprevisto daqueles. “Um dos meus amigos, e que era o principal organizador, esqueceu de levar as alianças”, ri.
O fato é que mesmo sem a principal peça de um noivado, a resposta ao pedido foi sim, ao som das músicas “Que Sorte a Nossa”, da cantora Paula Mattos, e “Você É Tudo”, da banda Jammil e Uma Noites, cantadas pelos próprios amigos.
As alianças só apareceram depois, para mais um sim, desta vez na pizzaria.
Na memória de Andrey e Fábio, os detalhes sobre a história dos dois surge sempre ao mesmo tempo, com as datas da curta, mas intensa história de amor.
Quando se conheceram, no dia 7 de novembro do ano passado, Fábio ainda morava na cidade de Jardim. O primeiro encontro foi durante uma viagem a trabalho de Andrey e já no dia 21 do mesmo mês eles oficializaram o namoro.
Do coração apertado pela angústia do namoro a distância, no dia 1 de fevereiro Fábio decidiu se mudar para Campo Grande, para que os dois já fossem morar juntos.
O pedido de noivado, para eles, faz parte de um processo de auto aceitação.
Na cidade de onde veio, ele deixou os amigos e todos eles, incluindo a própria mãe, não sabiam abertamente da sua orientação sexual, até o pedido de noivado de Andrey. “Tudo isso que está acontecendo é um progresso para mim e de certa forma o noivado só veio confirmar para os outros, o que talvez eles já desconfiavam. Mas isso também não me incomoda, eu não faço mais questão de esconder”, comenta.
Uma dos motivos para a decisão de se abrir para a mãe é está reportagem no Lado B. “Resolvi contar antes. Porque mais cedo ou mais tarde ela vai ficar sabendo e eu prefiro que seja por mim. Ela ainda tem certa resistência e preconceito quanto a estas questões de sexualidade, então eu sempre adiei em me abrir sobre esse assunto com ela. Talvez essa fosse a minha única aflição: a reação dela”, conta.
Andrey explica que se encaixar ao padrão “normativo” da maioria das relações, nunca foi uma ambição para o casal. O noivado veio porque um amor não sabe esperar. “Mesmo que o casamento represente um padrão heteronormativo e que é reproduzido há anos, eu acredito que a gente tem que fazer o que tem vontade e de acordo com o que sente dentro do nosso coração”, desabafa.
Disponível em: http://www.campograndenews.com.br/lado-b/comportamento-23-08-2011-08/para-um-casal-gay-noivado-e-um-passo-que-nao-antecede-apenas-o-casamento
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