terça-feira, 17 de maio de 2016

INCLUSIVIDADE


Em 2015, os anglicanos completaram 200 anos de presença na Bahia. Diante desse contexto, cabe perguntarmo-nos: tem a Comunidade Anglicana da Bahia uma missão específica para o tempo atual? Arrisco, de antemão, a responder que sim e a indicar qual seja: a inclusividade.
Sabemos que a inclusividade está enraizada na própria história do Anglicanismo, desde quando a diversidade do Cristianismo Celta foi acolhida na Igreja pelo Concílio de Whitby (664), e desde quando o Ato de Inclusividade elisabetano (1559) buscou conciliar dentro da Igreja tanto as vertentes católicas quanto as vertentes reformadas. Na história recente, podemos lançar mão do conceito de Comunhão Anglicana e da instituição das Conferências de Lambeth (1867) como indicadores do respeito à adversidade, sem renunciar à unidade. Por essa razão, enxergamos a inclusividade como uma dimensão intrínseca ao Anglicanismo.
Quando apontamos a inclusividade como uma contribuição específica da Comunidade Anglicana da Bahia, estamos pensando desde o ponto de vista da dimensão ecumenismo, até o ponto de vista das demais inclusões sociais. Destas, o reconhecimento de direitos aos homoafetivos é, sem sombra de dúvidas, o que está mais na ordem do dia.
Do ponto de vista ecumênico, o fato de o Anglicanismo se reconhecer como uma comunidade de fé credal, e não confessional, possibilita uma distinta liberdade de relacionamento com as demais comunidades cristãs. Muito embora haja os Trinta e Nove Artigos da Religião (1563) e o Quadrilátero de Chicago-Lambeth (1886-1888), que buscam delinear traços comuns à fé anglicana, o Anglicanismo se ampara basicamente nos Credos históricos (Apostólico, Niceno-Constantinopolitano) e não numa confissão específica do Anglicanismo.
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Ícone da Trindade (Rublev)
Desse modo, a Comunhão Anglicana se constitui uma comunidade de fé aberta, entende-se como um lugar a serviço da vida interior e de salvaguarda da dignidade humana. Ela se posta na contramão da patologia de autofinalização de que fala Leonardo Boff, em relação às religiões e igrejas: aquela doença de se considerarem fins em si mesmas. Vale a pena ressaltar que a fonte da inclusividade é a própria Trindade que, no Mistério da Encarnação, se abre para acolher a humanidade. O ícone da Trindade de André Rublev, aliás, é uma boa metáfora dessa realidade: na mesa do banquete da Trindade, há um espaço aberto para a inclusão da humanidade amada por Deus!
É para esse mistério que a inclusividade anglicana aponta e sabemos bem o quanto ela é importante na excludente Bahia travestida de Todos os Santos!
Adriano Portela
* Artigo publicado originalmente no blog da Paróquia Anglicana Bom Pastor, em 2015.
http://anglicanosnabahia.blogspot.com.br/search?q=Inclusividade
Disponível em:  https://adrianoportela.wordpress.com/2016/05/17/inclusividade/

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