Já são quase seis anos de governo Dilma, e tudo que nós, travestis e transexuais, recebemos foi indiferença. E junto com a indiferença por parte do governo, veio o crescente número de mortes violentas da população trans. Pois quando os órgãos oficiais se omitem, os preconceituosos sentem que tem carta branca para atacar (e acabam tendo mesmo).
Nos últimos dias parece que Dilma acordou pra vida. Não que ela tenha se tornado boazinha, mas provavelmente quer deixar um legado. Mais do que isso, parece queela quer dar direitos e implementar medidas que até então ela mesma não parecia se importar, para que caso Temer assuma e seu governo seja realmente conservador como todos esperam, ele se veja obrigado a retirar esses direitos, o que revoltaria parte da população e desestabilizaria sua gestão.
Ela está enviando para o Congresso um projeto de lei para acabar com os autos de resistência, pediu o aceleramento das demarcações de terra indígenas, e anunciou que vai liberar de uma vez, agora em maio, toda a verba que seria destinada ao longo deste ano para a Polícia Federal, a fim de que a operação Lava Jato não sucumbe no eventual governo Temer.
Não é bondade nem boa vontade da presidenta, é apenas o jogo da política sendo jogado.
E agora, pressionada por movimentos LGBTs e pelo deputado Jean Wyllys, Dilma se reuniu com travestis e transexuais "para discutir" a assinatura de um decreto que determina o respeito do nome social em órgãos federais. Na política tudo pode mudar, mas o cenário que se mostra é quase previsível: Dilma vai cair. E diante disso o que ela se propõe é "sentar para discutir" algo que tem sido demandado há anos, algo que é o básico do básico para qualquer pessoa trans.
Não estamos falando sobre um decreto que vai despatologizar a transexualidade, fazendo com que fique mais fácil a alteração de documentos. Não estamos falando de um decreto que determina que o nome social seja aceito e respeitado por qualquer instituição, pública ou privada, do País. Estamos falando de um decreto que exige o respeito do nome social apenas e tão somente em órgãos federais. Ou seja, é algo que a Dilma poderia ter feito no seu primeiro dia de governo. É algo que ela poderia ter feito há meses, há anos. Mas ela simplesmente decidiu não fazer. E agora vemos uma série de notícias parabenizando a presidenta por decidir sentar e discutir. A mesma presidenta que decidiu manter as mulheres transexuais fora da Lei do Feminicídio.
Com a consciência de que provavelmente lhe restam poucos dias de governo, ela teria muito pouco a perder, afinal o apoio dos conservadores e religiosos que estiveram ao seu lado ela já perdeu mesmo. Mas se vai fazer, que faça! O que não dá é para se comemorar, ou achar a nova maravilha no mundo, algo tão básico para uma parcela tão esquecida da população. Não estamos aqui para fazer esse jogo, querida.
Disponível em: http://www.brasilpost.com.br/lana-jones/dilma-nao-faca-esse-jogo-_b_9796024.html?utm_hp_ref=brazil&ncid=fcbklnkbrhpmg00000004
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