Por Frei Alvaci Mendes
Mergulhados na infinita bondade de Deus, buscando a conversão do coração como proposta de vida, tentando mudar nossas atitudes e anseios, chegamos mais uma vez às celebrações da Semana Santa, a semana dos cristãos, a semana especial, enfim, a mais significativa das semanas. E toda a liturgia parece nos querer falar de um amor insondável, de um mistério infinito, de uma bondade sem limites. Por que será que toca tanto nossa alma quando relembramos e revivemos os mistérios dos últimos dias do Senhor em nosso meio? Por que a paixão, a dor, o abandono, a solidão, a morte, parecem dizer tanto a nós cristãos? Por que corremos ao encontro daquele que é a Luz que destrói as trevas e elimina o poder da morte?
Gostaria de destacar, aqui, os passos do mistério que vamos celebrar juntos a partir da quinta feira santa, com a missa vespertina, ou seja, a grande celebração da Páscoa dos cristãos, no que chamamos de “Tríduo Pascal”. Entender bem, estes três momentos fortes como uma única e grande celebração da vida é poder entrar definitivamente na comunhão com o Cristo, única e verdadeira Páscoa. Trata-se, portanto, de uma celebração com três momentos distintos, mas integrados. Três faces de um mesmo mistério: a Páscoa.
QUINTA-FEIRA SANTA
Dia do mandamento novo;
do ministério da doação; do Lava-pés
Ele, o Mestre, deu testemunho do que dizia, manda amar a todos, ensina que é no lavar os pés: sujos, descalços, pobres, que se identificam os seus seguidores. Que amar aqueles que lhe amam é fácil, mas amar os inimigos, aqueles que comem na mesma mesa sem ser dignos dela, é ser diferente.
Na missa desta tarde-noite, antecipa-se a entrega total na doação eucarística (Última Ceia). Celebramos o amor que se doa, na cruz e na glória. Mergulhamos, portanto, na sublimidade pascal. Tudo nesta Ceia-doação nos leva à descoberta do amor. É nesta missa que se inicia o Tríduo Pascal.
SEXTA-FEIRA SANTA
Amor levado ao extremo;
entrega; sofrimento; morte
Nossas igrejas se enchem, choramos aquele que morre na cruz, caminhamos lado a lado com o Senhor Morto. É a sexta feira da Paixão. Aquele que ontem havia celebrado a Ceia com os seus, mas que havia sido na mesma noite entregue aos “homens deste mundo”, agora jaz no madeiro.
Contudo, e aqui está a beleza da liturgia integrada como única celebração de vida, adoramos o madeiro e o beijamos porque ele, o madeiro da dor, é sinal de glória. Nele adoramos aquele que viverá, que ressurgirá da morte e nos libertará a todos. Identificamo-nos tanto com Ele neste dia que até entendemos que nossas cruzes diárias são parte de nossa humanidade, e que aceitá-las e tentar entendê-las talvez seja um primeiro passo para a vida nova, que todos buscamos. A cruz lembra dor, mas reforça a certeza da vitória.
SÁBADO SANTO
Saudade; esperança;
vigília; luz; Vitória; Vida Nova
Começamos o Sábado lembrando aquele que jaz no sepulcro. A manhã deste dia ainda é de recolhimento. Mas, fica sempre aquela cepa de certeza, aquele gostinho de esperança que brota do mais profundo da alma.
A tarde chega, a noite cai. É hora da Vigília das Vigílias, como dizia Santo Agostinho, da luz das luzes, do poder da vida sobre a morte. Afinal, ressuscitado e vivo é o nosso Deus. É por isso que esta noite é tão cheia de significados e de símbolos: Liturgia do fogo e da luz; Liturgia da Palavra; Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística. Somos, com Cristo, ressuscitados para uma vida nova; somos banhados na pia batismal como homens novos, porque “ele vive e podemos crer no amanhã”; somos povo que caminha rumo, não mais a terra prometida, mas rumo ao Reino dos céus; enfim, comungamos aquele que é o Senhor ressuscitado, nossa Páscoa.
Tudo deveria refletir em nós a alegria que estamos sentindo. A Igreja, toda, iluminada pela luz do Filho do Deus Vivo, mergulhada no abismo de tão profundo mistério e envolvida com a missão de seu Divino Mestre, deveria cantar a uma só voz o “Aleluia”, guardado para este momento tão sublime. E lembrar que a partir deste momento, somos com Ele, ressuscitados para um mundo novo, alicerçado na paz, na justiça, no amor, na concórdia e na fraternidade, onde a Eucaristia brilha mais intensamente como lugar de partilha, de comunhão verdadeira e de ação. Não podemos esquecer que somos sinais, do Cristo ressuscitado.
O tríduo termina com a oração das vésperas (tarde) do Domingo de Páscoa, que é o domingo dos domingos, como afirma Santo Atanásio, mas não a culminação de um tríduo preparatório, e sim a reafirmação da Vitória, já celebrada na grande Vigília do dia anterior.
O maior tesouro da liturgia está nestes três dias, nos quais recordamos a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Nosso Senhor. O tríduo pascal é a celebração mais importante na vida da Igreja, na há celebração, em ordem de grandeza que se possa colocar em seu nível. Assim, estes três dias são o centro não só do ciclo da Páscoa como tal, mas também de toda a liturgia e de toda a Igreja.
Que possamos celebrar bem estes dias e que a certeza do Senhor que Vive e Reina, seja a maior das certezas de nossa vida cristã. O mistério pascal que celebramos nos dias do sagrado tríduo é a pauta e o programa que devemos seguir em nossas vidas.
Disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?page_id=35341
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