terça-feira, 29 de março de 2016

SOBRE A ENTREVISTA DE LUCIANA GENRO (PSOL /RG)



Como todos sabem, não costumo expor neste espaço divergências internas do PSOL. Mas quando uma liderança da estatura de Luciana Genro, nossa candidata à Presidência da República nas eleições de 2014, busca as páginas da Folha de S.Paulo para expor suas posições – minoritárias no interior do PSOL – não resta outro recurso senão registrar a posição oficial do partido: 1. Neste momento o PSOL e sua bancada têm todos os seus esforços concentrados na luta contra o retrocesso representado pelo impeachment liderado por Eduardo Cunha e pelas forças conservadoras, já que não há crime de responsabilidade comprovado. Portanto, considero equivocado estimular neste momento quaisquer saídas que representem uma defesa disfarçada da queda do governo, como antecipação das eleições ou referendo revogatório sem uma ampla e profunda reforma política. 2. Diferente de Luciana, o PSOL não defende que "a melhor saída seria nem Dilma, nem Temer, nem Cunha, nem Renan". A posição de nosso partido e nossa bancada é favorável ao cumprimento do mandato constitucional da presidente e em favor de uma saída à esquerda para a crise econômica, contra o ajuste fiscal e a retirada de direitos. A saída que tem sido acordada entre as elites busca viabilizar Michel Temer como presidente. Por isso a proposta de eleições antecipadas, cuja principal defensora é hoje Marina Silva, é hoje uma espécie de "Fora Dilma" envergonhado. 3. Considero equivocado caracterizar a mobilização de amplos setores democráticos contra a utilização do impeachment como instrumento para derrubar um governo legítimo, ao qual nos opomos como força política independente, como produto do “medo” estimulado pelo PT ou pelo governo. A mobilização destes setores sociais é uma resposta aos abusos cometidos por parte do Judiciário, pelas entidades patronais, pela mídia monopolista e pelo Congresso Nacional. 4. Diferente de Luciana, considero que há sérios riscos ao Estado Democrático de Direito e às liberdades individuais, como demonstrado pelas manifestações de ódio contra pessoas que usam vermelho, agressões contra manifestantes contrários ao impeachment e outras ações de caráter proto-fascista. Como visto recentemente em países como Honduras e Paraguai, golpes institucionais são seguidos por severas restrições às liberdades democráticas. 5. Considero que a Lava Jato precisa ter continuidade e ser aprofundada. O PSOL combate a corrupção e exige ampla investigação das denúncias que têm surgido. No entanto, não aceitamos abusos e violações ao Estado Democrático de Direito que comprometam as investigações, como as que têm sido perpetradas pelo juiz Sérgio Moro. Seguiremos debatendo os desdobramentos da crise política. As instâncias partidárias estão em pleno funcionamento e as divergências serão muito bem-vindas. Mas quando elas extrapolarem o debate fraterno para se converterem em disputa pública de posições, serei o primeiro a questiona-las publicamente. 

Juliano Medeiros 
Presidente da Fundação Lauro Campos 
Executiva Nacional do PSOL


Nenhum comentário:

Postar um comentário