Como
todos sabem, não costumo expor neste espaço divergências internas
do PSOL. Mas quando uma liderança da estatura de Luciana Genro,
nossa candidata à Presidência da República nas eleições de 2014,
busca as páginas da Folha de S.Paulo para expor suas posições –
minoritárias no interior do PSOL – não resta outro recurso senão
registrar a posição oficial do partido: 1. Neste momento o PSOL e
sua bancada têm todos os seus esforços concentrados na luta contra
o retrocesso representado pelo impeachment liderado por Eduardo Cunha
e pelas forças conservadoras, já que não há crime de
responsabilidade comprovado. Portanto, considero equivocado estimular
neste momento quaisquer saídas que representem uma defesa disfarçada
da queda do governo, como antecipação das eleições ou referendo
revogatório sem uma ampla e profunda reforma política. 2. Diferente
de Luciana, o PSOL não defende que "a melhor saída seria nem
Dilma, nem Temer, nem Cunha, nem Renan". A posição de nosso
partido e nossa bancada é favorável ao cumprimento do mandato
constitucional da presidente e em favor de uma saída à esquerda
para a crise econômica, contra o ajuste fiscal e a retirada de
direitos. A saída que tem sido acordada entre as elites busca
viabilizar Michel Temer como presidente. Por isso a proposta de
eleições antecipadas, cuja principal defensora é hoje Marina
Silva, é hoje uma espécie de "Fora Dilma" envergonhado.
3. Considero equivocado caracterizar a mobilização de amplos
setores democráticos contra a utilização do impeachment como
instrumento para derrubar um governo legítimo, ao qual nos opomos
como força política independente, como produto do “medo”
estimulado pelo PT ou pelo governo. A mobilização destes setores
sociais é uma resposta aos abusos cometidos por parte do Judiciário,
pelas entidades patronais, pela mídia monopolista e pelo Congresso
Nacional. 4. Diferente de Luciana, considero que há sérios riscos
ao Estado Democrático de Direito e às liberdades individuais, como
demonstrado pelas manifestações de ódio contra pessoas que usam
vermelho, agressões contra manifestantes contrários ao impeachment
e outras ações de caráter proto-fascista. Como visto recentemente
em países como Honduras e Paraguai, golpes institucionais são
seguidos por severas restrições às liberdades democráticas. 5.
Considero que a Lava Jato precisa ter continuidade e ser aprofundada.
O PSOL combate a corrupção e exige ampla investigação das
denúncias que têm surgido. No entanto, não aceitamos abusos e
violações ao Estado Democrático de Direito que comprometam as
investigações, como as que têm sido perpetradas pelo juiz Sérgio
Moro. Seguiremos debatendo os desdobramentos da crise política. As
instâncias partidárias estão em pleno funcionamento e as
divergências serão muito bem-vindas. Mas quando elas extrapolarem o
debate fraterno para se converterem em disputa pública de posições,
serei o primeiro a questiona-las publicamente.
Juliano Medeiros
Presidente da Fundação Lauro Campos
Executiva Nacional do PSOL
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