Confronto entre Marina e Bolsonaro mostrou que ela tem apostado cada
vez mais no eleitorado feminino que ainda não escolheu seu voto, ponto
fraco do candidato do PSL.
As mulheres, que formam 52,5% do eleitorado brasileiro, têm chamado a
atenção nas estatísticas deste ano por um motivo: a alta taxa de
indecisão das eleitoras. Em um país em que as mulheres são
subrepresentadas na política institucional e nos espaços de tomada de
decisões, os candidatos têm tido fracasso em conquistar a confiança das
eleitoras. Um terço delas ainda não tem o voto definido.
A reportagem é de Giovanna Costanti, publicada por CartaCapital.
Segundo a última pesquisa do Datafolha, divulgada antes do atentado
ao candidato Jair Bolsonaro, em um cenário sem o ex-presidente Lula, 34%
das mulheres não encontraram um candidato. O número de eleitoras que
pretende votar em branco, anular ou não votar é sete pontos percentuais
maior do que o de homens que, por enquanto, pretendem fazer o mesmo. Os
números da indecisão são inéditos considerando os últimos 30 anos.
O cenário torna precioso o voto das mulheres, ainda mais levando em
conta que, sem Lula, não há um favorito disparado. Conforme outubro se
aproxima, esse eleitorado torna-se cada vez mais disputado.
Exemplo disso é o súbito crescimento da popularidade de Marina nos
últimos debates. O confronto entre ela e Bolsonaro no evento promovido
pela RedeTV! mostrou que Marina tem apostado cada vez mais no eleitorado
que ainda não escolheu seu voto, ponto fraco do candidato do PSL.
Segundo o Datafolha, 43% das mulheres não votariam 'de jeito nenhum' em
Bolsonaro.
“Só uma pessoa que não sabe o que é ganhar um salário menor do que um
homem tendo as mesmas capacidades, as mesmas competências, e ser a
primeira a ser demitida é quem sabe”, afirmou ela. Marina citou também a
cena em que o candidato foi fotografado ensinando uma criança a fazer o
gesto de arma.
Mas em pesquisa recente divulgada pelo Ibope, parece que a estratégia
de Marina não gerou efeitos nas intenções de voto. Apesar do alto nível
de rejeição, mesmo entre as mulheres Bolsonaro ainda está em primeiro:
16% das eleitoras pretendem votar nele.
Marina vem em segundo lugar: 14% do eleitorado feminino declarou seu
voto à ela. Ainda segundo a pesquisa, a taxa de indecisos caiu para 7%,
mas o Ibope não divulgou o recorte de gênero dessa porcentagem.
Com o início da propaganda eleitoral na televisão, na semana passada,
foi a vez de Alckmin tentar disputar o eleitorado feminino que ainda
não se decidiu. Dono do maior tempo de campanha eleitoral na televisão,
Alckmin veiculou uma propaganda com cenas em que Bolsonaro ofende e
xinga uma jornalista e a deputada Maria do Rosário. “Você gostaria de
ser tratada desse jeito?”, indaga a propaganda às eleitoras.
CartaCapital analisou as propostas referentes à população feminina
nos planos e diretrizes de governo divulgados no site DivulgaCandContas,
do TSE. Dos 13 presidenciáveis, 4 mal chegaram a citar o termo “mulher”
em seus planos de governo e apenas 5 apresentam propostas concretas em
relação a elas.
Os assuntos mais polêmicos - e também mais caros às mulheres - não
estão em grande parte dos textos dos candidatos mais cotados nas últimas
pesquisas para vencer as eleições. O aborto, por exemplo, não não
consta nos programas de governo de nenhum dos 5 primeiros colocados na
última pesquisa do Datafolha. Já o feminicídio só aparece em 2 deles.
O que dizem os programas de governo?
Os candidatos Álvaro Dias (Podemos), Cabo Paciolo (Patriota), José
Maria Eymael (DC) e João Amoêdo (Novo) não citam a palavra “mulher” em
seus planos de governo.
Desses, a referência mais próxima às mulheres é feita pelo candidato
Cabo Daciolo. Ele cita o aborto, mas para afirmar sua posição contrária.
“Não é possível conceber que a família em seus moldes naturais seja
destruída, que a ideologia de gênero e a tese de legalização do aborto
sejam disseminadas em nossa sociedade como algo normal”, afirma.
Jair Bolsonaro (PSL), que tanto se refere às mulheres em entrevistas e
debates, com atitudes misóginas e machistas, e que tem no eleitorado
feminino a maior taxa de rejeição, só cita a palavra “mulher” uma vez em
seu plano de governo, ao falar sobre estupro.
Ele, que já negou mais de uma vez a existência da cultura do estupro e de casos que se enquadram como crime de feminicídio, propõe como meta ao combate ao estupro. Desconhecedor das origens desse problema, ele propõe como formas de impedir a violência sexual, entre outras, “prender e deixar preso” e “reformular o Estatuto do Desarmamento”. O candidato também faz uma alusão às mulheres em outra passagem do texto, em que ele cita como objetivo “a saúde bucal e o bem estar da gestante”.
Ele, que já negou mais de uma vez a existência da cultura do estupro e de casos que se enquadram como crime de feminicídio, propõe como meta ao combate ao estupro. Desconhecedor das origens desse problema, ele propõe como formas de impedir a violência sexual, entre outras, “prender e deixar preso” e “reformular o Estatuto do Desarmamento”. O candidato também faz uma alusão às mulheres em outra passagem do texto, em que ele cita como objetivo “a saúde bucal e o bem estar da gestante”.
Já os candidatos Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB)
usam a palavra “mulher” em ambos os textos apenas duas vezes. Alckmin
fala de um “pacto estadual de diminuição da violência contra a mulher”,
em um programa de governo enxuto e genérico, de apenas nove páginas.
Meirelles cita, como meta, o incentivo à redução da diferença salarial
entre homens e mulheres.
Vera Lúcia (PSTU) e Guilherme Boulos (PSOL) são os únicos candidatos
com programas de governo que defendem abertamente o aborto livre,
público e gratuito. A candidata do PSTU também defende o combate a todo
tipo de violência à mulher e mecanismos de igualdade de direitos e
salários, mas não explica como atingir esses objetivos, em um curto
programa.
Já o programa de Boulos é o que mais cita a palavra “mulher”: 125
vezes. Mas é também o programa mais longo, com 228 páginas. Boulos, que
tem como vice uma líder indígena, Sônia Guajajara, é um dos programas
que mais trata a mulher de forma interseccional. O texto fala de
minorias como indígenas, negras e mulheres LGBTI+.
Ele apresenta 23 propostas centrais em relação às mulheres e esmiúça
cada uma delas. Entre elas estão medidas para a redução da desigualdade
no mundo do trabalho, a universalização do acesso a creches, implantação
da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e de projetos
de atenção à saúde mental das mulheres, desenvolvimento de programas de
educação e prevenção sexual, efetivação da Política Nacional de Saúde
da População Negra.
Com relação à violência, o plano defende a criação de “Pacto Nacional
contra a Violência e pela Vida das Mulheres”, com diversas medidas para
o combate à violência, a tipificação do feminicídio de travestis e
transsexuais, um programa feminista de formação para profissionais dos
serviços públicos, a discussão de gênero nas escolas e a criação de
espaços para atendimento e acolhimento de mulheres egressas do sistema
prisional.
Diferente de todos os outros programas de governo, o texto da chapa
de Boulos inclui travestis e transsexuais nas propostas às mulheres. O
texto defende para essa população políticas de formação e emprego,
tratamento profissional adequado e respeitoso no serviço de saúde e
atendimento público humanizado para pessoas desse grupo que se encontrem
em situação de vulnerabilidade.
A candidata Marina Silva (PV), em suas diretrizes de governo, defende a ampliação de políticas de prevenção da violência, a qualificação do atendimento às vítimas e o combate ao feminicídio.
A candidata Marina Silva (PV), em suas diretrizes de governo, defende a ampliação de políticas de prevenção da violência, a qualificação do atendimento às vítimas e o combate ao feminicídio.
Marina também propõe políticas para enfrentar a discriminação no
mercado de trabalho, como a igualdade salarial, a ampliação da
participação de mulheres em posições de tomadas de decisões, o estímulo
ao empreendedorismo, a ampliação de vagas em creches em período integral
e do tempo de licença-paternidade.
Segundo o texto, seu governo pretende promover “ações de saúde
integral das mulheres”, por meio dos tratamentos preventivos, estímulo
ao parto humanizado e atendimento à gravidez na adolescência, com uma
“política integrada das áreas de educação e saúde”.
A presidenciável não cita a questão do aborto no texto. Mas, em
recente sabatina, ela reafirmou ser contra, mas afirmou que, caso seja
eleita, há a possibilidade de um plebiscito sobre o tema.
Com a chapa impugnada, o programa lançado por Lula (PT) deverá valer
para a dupla Fernando Haddad (PT) - hoje candidato à vice - e Manuela
D’Ávila (PCdB), que deverá ocupar a vaga de vice na nova chapa.
O texto fala da promoção de “políticas para as mulheres visando a
igualdade de gênero” e da “adoção de uma perspectiva inclusiva,
não-sexista e sem discriminação na educação e demais políticas
públicas”. O plano de governo também dá atenção à interseccionalidade,
incluindo mulheres negras, LGBTI+, indígenas, etc.
O texto também coloca como diretrizes a ampliação do valor e do tempo
do seguro-desemprego para as gestantes, a atenção aos direitos sexuais e
reprodutivos, com foco na saúde sexual. Na temática violência, fala-se
da integração e ampliação dos serviços e medidas preventivas de proteção
e de atenção, como a Casa da Mulher Brasileira e Lei Maria da Penha, e
as promovidas pelo enfrentamento ao feminicídio.
Entre as metas divulgadas estão a paridade de gênero na política, a
recriação da pasta de Políticas para as Mulheres com status de
ministério, a isonomia salarial, o estímulo à produção das mulheres na
ciência e na tecnologia, políticas afirmativas para mulheres no campo da
cultura, ampliação de vagas em creches e titularidade prioritária às
mulheres nos lotes dos assentamentos nos programas de reforma agrária,
meta que também aparece no plano de João Goulart Filho (PPL).
O programa do PPL também tem como objetivos erradicar a
superexploração do trabalho da mulher, o “pagamento de salário igual
para trabalho igual”, a ampliação da licença maternidade e das vagas em
tempo integral nas creches e a criação de dispositivos para a redução da
carga de trabalho que recai sobre as mulheres. Goulart também cita o
aborto e coloca como meta sua descriminalização. Propõe também a
ampliação do acesso a meios anticoncepcionais e o combate à violência
contra a mulher.
Entre as medidas presentes em seu programa de Ciro Gomes (PDT) estão
igualar o número de homens e mulheres nas posições de comando na
política, atuar junto aos órgãos competentes para garantir a segurança
das candidatas e eleitas, recriar a Secretaria de Mulheres, garantir
acesso igual das mulheres ao mercado de trabalho, na seguridade social,
aumentar o número de vagas disponíveis em creches e ampliar o acesso das
mulheres à educação.
O texto também cita a criação de programas que ajudem a proteger as
trabalhadoras informais, a igualdade de salários de homens e mulheres
quando na mesma função e a proibição de práticas discriminatórias por
empregadores.
Em relação à saúde, o texto propõe ações de prevenção em relação à
saúde sexual e reprodutiva, a garantia de recursos para a interrupção da
gravidez apenas quando ocorrer de forma legal e combate à violência
obstétrica, com humanização do parto.
Com relação à violência, o programa tem como diretrizes aplicação das leis já vigentes, políticas públicas de proteção e apoio, e enfrentamento das violências cometidas contra as mulheres encarceradas.
Com relação à violência, o programa tem como diretrizes aplicação das leis já vigentes, políticas públicas de proteção e apoio, e enfrentamento das violências cometidas contra as mulheres encarceradas.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/582637-o-que-os-programas-de-governo-dizem-sobre-as-mulheres
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