O leque de personalidades influenciadas por Karl Marx vai da psicologia, à economia, sociologia e política. Inclui nomes como Michel Foucault e Jacques Lacan. Por que esse autor continua importante? É simples: Ele fez uma leitura das crises e toda crise lembram dele; e o sistema de crise no capitalismo é permanente.
É inegável que Karl Marx “fez barulho“, como pontua o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT). E foi tanto chiado que ainda hoje, no seu bicentenário, o filósofo segue atraindo seguidores, assim como críticos.
Para Haddad, no entanto, é vago se intitular marxista. “Há marxista defendendo a social-democracia nas origens do PSDB, há no PT, no PSol, PCO, PSTU“, diz. O ex-prefeito destaca que há várias vertentes de análise do material produzido pelo pensador. “Não há nenhuma disciplina que não tenha sofrido impacto das ideias marxistas.”
O leque de personalidades influenciadas vai da
psicologia, à economia, sociologia e política. Inclui nomes como Michel
Foucault, Theodor Adorno, Ian Marcouse, Jacques Lacan, o que não quer
dizer concordância com o pensamento.
Diferentemente do senso comum, Haddad considera Marx um amante do capitalismo, e uma espécie de liberal diferente.
“Não conheço um autor do século 19 que tenha feito tantos elogios ao capitalismo quanto Marx“.
Haddad destaca que, para Marx, as revoluções
burguesas libertaram as pessoas, não mais sujeitas à escravidão nem à
servidão. As pessoas, contudo, não detêm os meios de produção, são
levadas a vender sua força de trabalho e está aí o impulso a uma nova
relação social, a do trabalho assalariado.
O pensamento de Marx
É com base nessa ideia de trabalho assalariado e na
relação entre o homem, a natureza, e suas necessidades que Haddad
montou sua palestra Marx 200 anos: Economia e História, ministrada na
Casa do Saber, em São Paulo. O ex-prefeito endossa que o que ficou de
Marx foi o método de análise capaz de pensar o desenvolvimento histórico
do capitalismo de diversas maneiras.
“Por que esse autor continua importante? Tem
muita coisa que se aproveita dele até hoje. Ele fez uma leitura das
crises. Toda crise lembram dele. O sistema de crise no capitalismo é
permanente, no entendimento dele. Não tem ação do governo capaz de
equilibrar e superar as enormes contradições da dinâmica do próprio
sistema“, explica.
O capitalismo, segundo a leitura de Haddad, gera
crises periódicas que não há como sanar: É uma máquina de
autovalorização, que parte da ideia de que há uma percepção de que todos
nós temos necessidades, e é preciso uma intervenção para satisfazê-la.
Na palestra, Haddad explica que, no entendimento de
Marx, o assalariado recebe do patrão o necessário para sua reprodução
enquanto trabalhador. No entanto, ele não produz só o necessário para
sua reprodução; ele produz um plus, algo a mais do necessário, o que
Marx chamou de mais valia.
“Quanto mais se economizar mão de obra para
produção maior vai ser a fatia que sobra para o empregador. Por mais que
a concorrência depois diminua o lucro, se o processo for incessante,
ele estará sempre adiante.”
E vem ainda a mudança da relação do homem com a natureza. “O
sistema pode ainda criar novas necessidades. A marca do capitalismo é
que a produção, o mesmo movimento de busca incessante do lucro, não só
revoluciona a própria produção do que se conhece como também do que não
se conhece e passa a ser uma necessidade que até o dia anterior não
tinha.”
Por que o pensamento é atual?
Haddad ressalta que na década de 1980 ninguém tinha
a necessidade de um celular, em 1970 de um microondas e em 1940 de uma
geladeira. “A relação do homem com a natureza tem uma mudança brutal.”
Nisso, o capital passou a ser uma entidade que se autovaloriza. “Não
estamos mais no comando do processo. Estamos dando suporte a uma
relação alienada, em que as necessidades estão se expandindo
constantemente“, ressalta.
“Agora, a relação do homem com a natureza é de permanente insatisfação. Sempre estamos nos devendo alguma coisa“.
O capitalismo, nesse entendimento, se torna uma
engrenagem de autovalorização permanente, em que o homem é engrenagem
desse processo. “Estamos nos tornando supérfluos, só estamos dando suporte para uma relação que nem os capitalistas controlam“, argumenta Haddd.
E nem adianta culpar os donos dos meios de
produção. Haddad afirma que é certo dizer que os capitalistas estão
explorando as forças de trabalho, mas também é correto dizer que o
próprio é suporte de uma relação alienada
“Estamos cada vez mais escravos de uma lógica incontrolável“.
Na palestra, Haddad citou artigo publicado pela The Economist que pede aos senhores do capital que leiam Marx.
Disponível em: https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/05/importancia-de-karl-marx-200.html
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