Distraídos com a repercussão de novas personalidades LGBT,
principalmente no meio artístico, é muito comum que pouco ou nada se
recorde de ativistas que marcaram época e foram peças fundamentais para
os avanços dos direitos e conquistas de espaços LGBT. Pertinente à
invisibilidade, frequente é o debate da desconsideração conferida às
pessoas trans no meio LGBT, sob o argumento de que o movimento eleva-se
como gay, ignorando as demandas e pautas transgênero.
O próprio dia do Orgulho LGBT, originado durante a revolta de Stonewall em 1969, muito comemorado por movimentos de diversidade, é fruto de muita luta e enfrentamento por parte de pessoas que hoje não são lembradas, e como já sugeridas, pessoas trans.
O próprio dia do Orgulho LGBT, originado durante a revolta de Stonewall em 1969, muito comemorado por movimentos de diversidade, é fruto de muita luta e enfrentamento por parte de pessoas que hoje não são lembradas, e como já sugeridas, pessoas trans.
Sylvia
Rivera, no rol dos esquecidos, foi uma ativista transgênero e
bissexual. Nascida em 1951, na cidade de Nova York, EUA, enfrentou a
forte repressão característica de sua época, na qual a diversidade era
vista como uma ameaça à sociedade, uma doença contagiosa digna do maior
desprezo e em alguns casos, reclusão. A perseguição LGBT em Nova York
pelo Estado e sociedade, na década de 60, considerava as reuniões de
grupos LGBTs como alvos fáceis a serem atacados e até então, viver no
anonimato e clandestinamente era uma forma de salvar a própria
existência.
No ano de 1969, as eleições para prefeito da cidade de Nova
York estava para acontecer e, diante desse cenário, as instituições do
Estado pretendiam tratar com afinco de questões consideradas imorais e
contra a ordem vigente. Na tentativa de reprimir focos subversivos na
cidade, foi criada a lei State Liquor Authority, que autorizava os bares
da cidade a venderem bebidas alcoólicas, desautorizando apenas os bares
conhecidamente gays, obrigando-os a funcionar de forma clandestina.
Foi então que na noite de 28 de junho do mesmo ano, os
frequentadores do Bar Stonewall In foram surpreendidos por uma violenta
batida policial. Sylvia Rivera, ao lado de sua amiga trans e negra
Marsha P. Johnson, revoltada com as frequentes perseguições, liderou a
subversão dos presentes no momento da invasão dos policiais devolvendo a
violência com o que possuía ao seu redor para se defender. Em meio à
confusão, os policiais foram encurralados pela comunidade do bar,
começando os primeiros episódios de luta e resistência, protagonizados
por uma mulher trans na insubordinação que ficou conhecida como a
Revolta de Stonewall.
Após o ocorrido, Sylvia seguiu lutando contra as demais
repressões e se tornou ícone e referência de resistência do movimento
LGBT. O dia da Revolta de Stonewall, 28 de junho, é o mesmo em que hoje
se comemora o dia do Orgulho LGBT. Por outro lado, embora seja difícil
de acreditar, Sylvia foi muito atacada pelos setores do movimento LGBT
compostos por gays e lésbicas conservadores que consideravam seus atos
imorais.
Apesar de lembrada pela Revolta de Stonewall, o ativismo de
Sylvia Rivera vinha de antes. Criada nas ruas, militou desde o inicio
dos anos 60 ainda na infância, em protestos feministas e denunciando a
transfobia na sociedade. Nos anos de 1970, integrou a Aliança de
Ativistas Gays (GAA), de onde logo se ausentou uma vez que a proposta de
proteção das pessoas trans foi excluída dos planos da organização.
Marsha P. Johnson e Sylvia criaram na mesma época a “Street
Transvestite Action Revolutionaries”, também chamada de S.T.A.R House,
instituição de amparo para pessoas trans e travestis em situação de
vulnerabilidade social. Questionada em um julgamento sobre o P em seu
nome, Marsha respondeu “Pay it no mind”, em português “Não se importe”,
frase que se tornou sua marca, usada também para responder as frequentes
perguntas sobre seu gênero. Em julho de 1992, após a Marcha do orgulho
LGBT, o corpo de Marsha foi encontrado boiando no rio Hudson. A polícia
cogitou a possibilidade de suicídio, mas inconformados com sua morte,
amigos e familiares de Marsha pediram outra investigação, que foi
negada. Em 2012, Michael Kasino dirigiu um documentário sobre Marsha,
titulado “Pay It No Mind: Marsha P. Johnson”, e em abril de 2017, foi
lançado outro documentário intitulado “The death and life of Marsha P.
Johnson”, produzido pela Public Square Films.
Sylvia Rivera e Marsha P. Johnson nos anos de 1970. Imagem: themuse.jezebel.com
Disponível em: http://revistaladoa.com.br/2017/08/noticias/marsha-p-johnson-sylvia-rivera-ativistas-lgbt-que-por-pouco-nao-cairam-no
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