Dentro da Renca, uma área de 46.450 quilômetros
quadrados do tamanho do Estado do Espírito Santo, estão nove áreas de
conservação ambiental e reservas indígenas. Até então, somente a
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), uma empresa pública
pertencente ao Ministério de Minas e Energia, podia fazer pesquisa
geológica para avaliar as ocorrências de minérios neste território com
alto potencial de ouro e outros metais preciosos.
No texto publicado nesta segunda-feira em edição extra do
Diário Oficial, o Governo ressalta que está proibida a exploração
mineral nas áreas de unidades de conservação, reservas ambientais
estaduais e indígenas dentro da Renca. O decreto ainda proíbe pessoas
que desmataram ou exploraram ilegalmente a terra de ter sua situação
regularizada e receber o direito a novas lavras. O Governo determinou
ainda a criação de um Comitê de Acompanhamento das Áreas Ambientais da
Extinta Renca.
Os ministros do Meio Ambiente, Sarney Filho, e de
Minas e Energias, Fernando Coelho Filho, foram os incumbidos pelo
Governo para tentar amenizar a polêmica sobre a questão e garantir que
não haverá prejuízo ambiental. "Seria um desserviço à política ambiental
se não fizéssemos um novo decreto para deixar nítido para as pessoas
que esse decreto não iria afrouxar regras ambientais nem interferir nas
unidades de conservação", disse o ministro do Meio Ambiente, Sarney
Filho, em coletiva de imprensa em Brasília. "Com essas decisões vamos
ter responsabilidade na região e não vai acontecer um desmatamento
desenfreado conforme era nosso receio", acrescentou.
A gestão Temer também ressaltou que empresas
interessadas em explorar as minas da região terão que apresentar planos
de controle ambiental, aproveitamento econômico sustentável, recuperação
de área degradada e contenção de danos. O temor dos ambientalistas e
especialistas, entretanto, é que, mesmo assim, a exploração de minério
tenha um forte impacto em toda região.
Na avaliação do ambientalista Carlos Eduardo Young, além do impacto gerado pela extração dessa área e o aumento dos riscos de desastres como o que aconteceu em Marina,
um perigo maior para o entorno será o escoamento do minério. "Será
preciso, provavelmente, uma ferrovia. E aí moram todos os problemas
ligados às grandes obras. Será preciso uma grande quantidade de mão de
obra de baixa qualidade e masculina. Tudo que acontece numa barragem,
vai acontecer ali: alcoolismo, prostituição, mães solteiras, além de
abrir novos caminhos, desmatar uma mata que está fechada", afirma.
Para o ambientalista, não há mudanças reais no
novo decreto, apenas explicações que já estão na legislação. "A única
novidade é um órgão extremamente consultivo, um comitê de
acompanhamento criado dentro do Governo com representantes do Pará e do
Amapá, mas sem nenhum envolvimento da sociedade civil. Na minha visão
um grupo chapa-branca, associado a cúpula que atende a interesses
privados", explica.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) concorda
que a essência do texto não foi alterada e que o anúncio de Michel Temer
é apenas uma estratégia para enganar a sociedade brasileira e a
comunidade internacional. Na semana passada, o senador chegou a
protocolar um Projeto de Decreto pedindo a suspensão da portaria que
extingue a Renca. "Não tem como ter mineração não ser devastada e os
rios não serem devastados. Ele anuncia que vai manter a extinção da
Renca, mas vai estabelecer critérios. É uma forma de tentar minimizar a
pressão. Temos que reforçar a pressão, porque o decreto não muda nada",
afirmou a jornalistas.
Protestos nas redes
Desde o anúncio do decreto na semana passada,
artistas e celebridades começaram uma mobilização nas redes sociais
pedindo que a população proteste e assine abaixo-assinados contra a
decisão de Temer sobre a Renca. A modelo Gisele Bündchen,
bastante ativa sobre assuntos ligados ao meio ambiente, foi uma das
primeiras a se pronunciar sobre o assunto. Ela disse, em sua conta no Twitter que a medida é "uma vergonha". "Estão leiloando a nossa Amazônia", escreveu.
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