segunda-feira, 5 de junho de 2017

PORTAS FECHADAS, CORAÇÕES FECHADOS

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João 20 19,23



Aqueles e aquelas que estamos imersos nos diversos compromissos e desafios que nos apresenta o Evangelho livre e libertador, o único Evangelho que há, conhecemos muito bem esta realidade de encontrar, nas igrejas as portas fechadas por pessoas de corações fechados...
Esse processo de abrir portas e corações ilumina a compreensão do texto do Evangelho. Também a Igreja sabe o que é viver encerrada por medo do outro e do Espírito de Deus que pode entrar e comprometer, e desacomodar e tirar os religiosos de sua zona de conforto. As e os primeiros cristãos estão encerrados por medo, não do Império, mas sim dos irmãos e irmãs mais próximas de sua fé. Não podem revelar sua identidade, sua fé, suas convicções por temor às reações violentas, injuriosas ou desqualificadoras daqueles que invocam a bendição do mesmo Deus. Que paradoxo! Esta primeira situação nos deve abrir à compreensão da situação na qual vivem atualmente pessoas e grupos em situação de vulnerabilidade ao estigma e ao preconceito. A memória que fazemos neste dia daquela situação e daqueles medos tem que permitir-nos ser mais sensíveis a tantas situações de negação, de temor e de auto-explosão de pessoas e grupos. As e os cristãos temos vivido esta situação como para que ao recordá-la possamos libertar dessa opressão a irmãos e irmãos de ontem e de hoje.
A comunidade cristã sempre se congrega no tempo primordial, o tempo teológico do primeiro dia da semana (o domingo), que em seu imaginário recorda e atualiza o dia primeiro da criação e o da ressurreição. A ação litúrgica de reunir-se nesse dia e neste tempo teológico tem como objetivo que ambos os processos se repitam naqueles e naquelas que invocam sobre si mesmos a força do Espírito que agiu em ambos os acontecimentos. É o tempo tanto dos novos começos como o tempo futuro de todas as plenitudes. Sempre a comunidade cristã se reúne no alfa e ômega de todos os tempos. Olha ao passado da criação amorosa de Deus para poder encaminhar-se para o tempo de todas as plenitudes. O que a comunidade cristã se faça visível em sua unidade em dia de domingo, no tempo de Deus, no tempo que irrompe e interrompe o tempo secular e monótono, é já toda una confissão de fé e um situar toda nossa ação cotidiana nessa perspectiva. Não é uma casualidade nem um capricho o reunir-nos no dia de domingo, mas sim que é uma proclamação de nossas mais profundas perspectivas e de nosso olhar na espera e na ação de construir o Reino dos céus e a terra nova. O fato de que todas as aparições de Jesus crucificado e ressuscitado se realizem no domingo é um paradigma e modelo que tratamos de imitar com a esperança que aquilo que ocorreu naquele tempo volva a repetir-se aqui e agora conosco.
A todos os grupos e pessoas que ainda permanecem com as portas das igrejas e dos corações fechados da existência, Jesus, o Cristo do Deus do Reino, se aparece e lhes proclama a paz. Esse é também nosso paradigma de ação pastoral. Temos que adentrar-nos nesses espaços de negação de identidades feridas para anunciar a paz da plenitude dos tempos, a paz que queremos construir e alcançar juntos e juntas.
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Essa reconciliação e essa paz que queremos proclamar, promover e viver sempre se faz à sombra da cruz. O anuncio da paz vem acompanhado sempre com as feridas da cruz, os estigmas nas mãos e do lado costado de Jesus Cristo que nos recorda o preço de todo processo de comunhão que vai mais além das fronteiras do que as estruturas sociais e os critérios eclesiais consideram como politicamente ou teologicamente correto. Os desafios aos preconceitos e a externos conceitos de pureza ritual ou de comunhão vão acompanhados de feridas diversas. Paz e memória de estigmas vão juntas. São partes de um único processo. Não pode haver paz se não superamos estigmas e exclusões. Não pode haver paz se não superamos medos e se não abrimos as portas de nossas igrejas, de nossas mentes e de nossos corações.
Esta presença do Cristo crucificado e ressuscitado transforma o medo em alegria. O processo de abrir as portas, de abandonar mentiras e ficções por temor aos que os demais podem dizer, pensar e fazer, é um processo que conduz à alegria dos novos tempos. Esse assumir-se todos e todas tal como são e tal como são aceitos em Deus que novamente anuncia “A paz esteja com vocês!”, é também o centro e conteúdo de toda nossa ação pastoral de inculturar o evangelho em pessoas e grupos da diversidade.
Essa alegria nos conduz à uma missão. A transparência e a aceitação incondicional produzem mudanças de ânimos e de ação. Se nos envia a realizar exatamente a mesma missão que recebeu Jesus, o Cristo do Reino: anunciar paz e perdão. Esses são os elementos que transformam a realidade e fazem que o futuro da renovação da sociedade e da igreja se faça visível aqui e agora. O futuro da plenitude à qual Deus nos chama se faz presente na ação daqueles e daqueles que foram batizados na vida, na morte e na ressurreição do Cristo de Deus.
O Espírito da nova criação que sopra sobre a comunidade cristã, é o Espírito da unidade e és muito distinto de um espírito de uniformidade. Todos e todas, sem renunciar a sua própria cultura e a seu próprio idioma, escutam na diversidade a mesma mensagem de paz. Essa é nossa tarefa: que pessoas e grupos em sua cultura e em sua identidade possam escutar em seu contexto o anuncio de paz.
Nossa missão como Igreja só se pode compreender em toda sua dimensão se a contemplamos desde a cruz e ressurreição de Jesus Cristo. Da mesma maneira que Ele veio a reconciliar o mundo com Deus, nós não temos outra tarefa a não ser anunciar essa reconciliação buscada, iniciada e querida pela Fonte de toda unidade na diversidade.

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A palavra que se utiliza para perdoar é literalmente desatar, deixar passar. A que se utiliza para reter seria semelhante à que utilizamos quando nosso computador paralisa: nos ficamos “tildados” nos pecados e erros dos outros e outras. Essa não é nossa tarefa. Não podemos ficar tildados, paralisamos, bloqueados nas faltas e pecados das outras e outros. Não é a missão de Jesus, nem o projeto de Deus. O perdão significa colocar o ponto final. O reter é uma ação que se continua no tempo e nunca tem fim. Fica claro que nossa função é continuar a ação de Jesus que tem como centro o perdão.
Estamos chamados pelo Espírito à formar já uma nova criação. Esse sopro nos transforma a todos e todas na fé, em novas criaturas e em uma nova família. O sopro do Espírito nos faz una família alternativa a todos os outros projetos de famílias. Já não é o sangue nem a etnia a que nos dá unidade, mas sim o Espírito da nova criação que nos permite proclamar a paz à todas as pessoas e a todos os grupos do mundo intero, sem condições, sem exclusões, sem temores e sem medos. Todas e todos são chamados a formar parte desta nova família e desta nova criação ao redor daquele que mostrando as feridas e os estigmas em suas mãos e em seu lado anuncia e constrói a paz.


 Foto do perfil de Dom Antonio Piber, A imagem pode conter: 1 pessoa, óculos
+Piber, svc
Bispo de Goiás e do Distrito Federal

João 20 19,23

“Naquele tempo, ao entardecer desse mesmo dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde se encontravam os discípulos, por temor aos judeus, chegou Jesus e pondo-se no meio deles, lhes disse: “A paz esteja com vocês!”. Enquanto dizia isso, lhes mostrou suas mãos e seu lado. Os discípulos se encheram de alegria quando viram o Senhor. Jesus lhes disse de novo: “A paz esteja com vocês! Como o Pai me enviou, eu também os envio”. Ao dizer isso, soprou sobre eles e elas e acrescentou: “Recebam o Espírito Santo. Os pecados serão perdoados aos que vocês perdoarem, e serão retidos aos que vocês retiverem”.

Disponível em:  https://www.facebook.com/groups/252244021606811/permalink/852292711601936/

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