O Brasil pode expandir sua economia
em até R$ 382 bilhões ao longo de oito anos se aumentar a inserção das
mulheres no mercado de trabalho em um quarto até 2025, estima a
Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Diminuir em 25% a
desigualdade de gênero no mercado de trabalho até 2025 é um compromisso
dos países-membros do G20, do qual o país faz parte. Segundo a OIT, isso
traria um incremento acumulado de 3,3% ao Produto Interno Bruto
brasileiro ao longo do período.
As estimativas apontam que se a
participação feminina crescesse 5,5 pontos percentuais, o mercado de
trabalho brasileiro ganharia uma mão de obra de 5,1 milhões de mulheres.
Os
dados foram divulgados junto ao relatório global sobre a participação
feminina no mercado de trabalho, publicado nesta quarta-feira.
A
inserção das mulheres na economia levaria ao aumento no poder de consumo
de bens e serviços das famílias, bem como ao aumento de recolhimentos
de tributos sobre renda. A OIT estima que a injeção de capital
resultante da inserção feminina na economia possa acrescentar R$ 131
bilhões em receita tributária à União brasileira ao longo dos oito anos
em questão.
Em entrevista à BBC Brasil, a técnica da OIT em
princípios e direitos fundamentais do trabalho,Thaís Dumêt Faria,
afirmou que o estudo atesta que é possível gerar riqueza por meio de
inclusão social. "Um país consegue se desenvolver numa situação de
igualdade e justiça social e ganha também em relação a produtividade e
PIB", afirmou.
Faria diz que é possível incluir as mulheres no mercado de
trabalho por meio de iniciativas públicas e privadas. "É importante
focar na escolaridade, porque sabemos que muitas meninas abandonam a
escola por questão de gravidez ou problemas familiares. Isso ainda é uma
realidade. É importante também ter projetos, como fóruns de empresas.
São iniciativas empresariais que buscam fazer um diagnóstico no seu
quadro de funcionários e identificar onde estão as maiores
disparidades."
Mais do que números
Para
ela, "não é só uma questão numérica, (mas sim) de inclusão realmente na
sua forma integral. É possível que haja 50% de homens e 50% de mulheres
em uma empresa, mas que as mulheres ocupem cargos menores, sem acesso
aos cargos de direção. Isso não é uma situação de igualdade",
exemplifica.
O documento da OIT avaliou que apenas 56% das mulheres em idade
economicamente ativa estão empregadas no Brasil. Em contraste, por
exemplo, 78,2% dos homens estão trabalhando. No resto do mundo a
participação feminina é de 49,4% e a masculina de 79,1%. A diferença
entre gêneros em pontos percentuais arredondados é menor no Brasil (22)
do que no mundo (26).
Para conseguir o incremento de renda,
Faria e a OIT recomendam adotar políticas que garantam maior segurança
social e acesso à educação para mulheres e seus dependentes. "Elas não
têm nenhum tipo de proteção social. Se adoecem, elas não têm nenhum
benefício, porque não contribuem, então - como são chefes de família - a
família inteira fica desamparada e você acaba fortalecendo um ciclo de
pobreza".
"São exatamente essas mulheres que deveriam estar
inseridas no mercado de trabalho formal, com todas as garantias
trabalhistas: em caso doença, de acidente, de morte. Enfim, elas têm os
filhos para cuidar, se considerarmos que 41,5% delas são chefes de
família", conclui.
No Brasil, o grupo de mulheres que enfrenta
maior vulnerabilidade é o das trabalhadoras domésticas. "Temos dados de
2014 que mostram que 92% dos trabalhadores domésticos são mulheres,
dessas 60% são negras e 41,5% são chefes de família e 40% são diaristas,
ou seja, o nível de informalidade dessas mulheres dos grupos mais
pobres é muito maior".
"Existe um recorte racial muito grande,
que reforça a pobreza de um grupo social", prossegue ela, explicando
que, nesse ciclo de pobreza, filhos de trabalhadores em situação
precária precisam trabalhar para ajudar no sustento da família e, sem
estudo, veem-se sem opções de ascensão social.
Ponto positivo em meio ao desemprego
Na
região das Américas o estudo afirma que, entre 1997 e 2017, a inclusão
se deu pelo viés do desemprego. Não foram gerados muitos novos empregos
para mulheres - elas simplesmente foram menos demitidas do que os
homens. Especialmente na última década, 2007-2017, as taxas de
desemprego masculino subiram mais rapidamente do que o feminino, afirma a
OIT.
A escassez de trabalho, que no Brasil se reflete em um índice de
desemprego de quase 14%, é preocupação mundial. "Sublinhando a
discrepância de gênero, há uma tendência negativa de taxa de
participação para ambos homens e mulheres. Entre 1997 e 2017 a taxa de
emprego de ambos os sexos caiu em aproximadamente 3 pontos percentuais",
lê-se no relatório.
Mas apesar de haver menos empregos, a
diferença entre homens e mulheres diminuiu proporcionalmente nas últimas
década. A tendência para 2018-2021 nas Américas, entretanto, é de
estagnação na melhora de igualdade e um recuo no número total de
trabalhadores empregados.
Dados do Ipea, Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada, divulgados nesta quarta corroboram a análise da OIT.
O desemprego masculino cresceu "de 44% para 50% no período de 2012 a
2017, refletindo não só uma contração da ocupação entre os homens
(-0,9%), mas também uma expansão de 3,7% da ocupação feminina".
"No
Brasil a participação feminina é um pouco maior que a média geral. A
diferença entre homens e mulheres brasileiros é menor que a média
global. Então, isso é um ponto que podemos considerar positivo, no
sentido de aumento de inserção da mulher no mercado de trabalho, mas a
gente não está aqui analisando a qualidade desse trabalho", diz Faria.
"Isso
também é importante: estamos analisando aqui somente a taxa de ocupação
no mercado de trabalho, sem necessariamente avaliar as diferenças
salariais ou a qualidade desse trabalho. Para a OIT é fundamental que
todo trabalho seja considerado decente".
Compromisso
Em
2014, líderes do G20 - grupo das 20 maiores economias do mundo que
inclui o Brasil - se comprometeram com a meta "25 em 25", que significa
reduzir em 25% a diferença de gênero até 2025.
Se atingida, ela
gerará a inclusão de 189 milhões de mulheres no mercado de trabalho
mundial, 5,1 milhões dessas posições somente no Brasil. A projeção
espera que a maioria dos empregos (162 milhões) sejam gerados em países
emergentes, devido ao tamanho de seus mercados e potencial de avanço
feminino, mas o cenário de incerteza econômica ameaça essa meta,
acredita Faria.
"Quase um terço das mulheres e homens trabalhando
em países emergentes e em desenvolvimento não ganham suficientemente
para tirar suas famílias da pobreza", constata o documento da OIT.
Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-40281756
Nenhum comentário:
Postar um comentário