Congressistas que debatem a reforma da Previdência são sócios ou
administradores de companhias que devem ao INSS. Saiba quem são os 86
parlamentares.
Por Piero Locatelli, Ana Magalhães e Ana Aranha
Senador Fernando Collor de Melo:
O senador e ex-presidente Fernando Collor está no topo da lista: cinco empresas ligadas a ele devem
O senador e ex-presidente Fernando Collor está no topo da lista: cinco empresas ligadas a ele devem
112 milhões de reais ao INSS
Enquanto debatem a reforma da Previdência, deputados federais e senadores estão associados a empresas que devem R$ 372 milhões ao INSS. Segundo levantamento da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), 73 deputados e 13 senadores estão ligados a grupos devedores da Previdência, um em cada sete congressistas.
As empresas presentes no levantamento têm
parlamentares como sócios, presidentes, fundadores ou administradores.
Casos em que os CNPJs estão vinculados aos CPFs dos congressistas. Entre
elas, há redes de televisão e rádio, hotéis, frigoríficos, companhias
siderúrgicas e até diretórios de partidos políticos.
Dívidas milionárias
Entre os devedores, quatro senadores e 11 deputados
têm empresas que somam dívidas superiores a um milhão de reais. O líder
do ranking é o senador Fernando Collor (PTC-AL). O ex-presidente está
associado a cinco empresas que devem 112 milhões de reais, todas elas no ramo da comunicação. A TV Gazeta, retransmissora da TV Globo, tem Collor como sócio e deve R$ 46 milhões ao INSS.
A assessoria de imprensa do senador afirmou, por
e-mail, que “o senador não participa diretamente da gestão das empresas
de comunicação de sua família, mas acompanha os esforços da diretoria
para, mesmo diante do quadro de grave retração econômica, assegurar a
continuidade da atividade e garantir o emprego de funcionários, ainda
que sacrificando momentaneamente a pontualidade no cumprimento de
algumas obrigações de natureza fiscal”.
Entre os deputados federais, a maior dívida é de
Marinaldo Rosendo (PSB/PE), com 105 milhões de reais. Somente a PR
Distribuidora de Bebidas e Alimentos, da qual ele é sócio, deve 99
milhões de reais ao INSS.
Rosendo não retornou os e-mails e ligações da reportagem. A Repórter Brasil enviou mensagens e ligou para o gabinete de todos os deputados federais e senadores com dívidas superiores a 1 milhão de reais.
O senador Cidinho Santos (PMDB-MT) informou por e-mail
que a dívida de 3,2 milhões de reais foi parcelada e está sendo paga.
Ele diz ainda que está afastado da administração das empresas desde que
assumiu o mandato.
O deputado Alfredo Kaefer (PSL-PR),
associado a cinco empresas que devem 24 milhões de reais, alega que as
dívidas são fruto de um erro judicial. Segundo ele, uma de suas empresas
entrou em falência e teve os efeitos das dívidas estendidos a outras
companhias. “Foi um ato arbitrário de um juiz, depois anulado pelo
Superior Tribunal de Justiça”. Ele diz estar aguardando a reintegração
dos proprietários para parcelar a dívida.
Na mesma linha, o deputado Newton Cardoso Junior
(PMDB-MG) disse, por meio de sua assessoria, que “é um direito de
qualquer cidadão discutir na justiça tributos considerados cobrados
indevidamente”. Embora declare não mais atuar na direção das empresas
devedoras, ele consta como fundador e administrador de seis grupos –
entre eles um hotel e uma companhia siderúrgica – que acumulam dívida de
mais de 20 milhões de reais com o INSS.
O deputado Celso Russomanno (PRB-SP) informou que a
dívida de 1,6 milhão de reais referente ao Bar e Restaurante do Alemão
está parcelada e sendo paga. Ele disse acreditar que em 60 meses os
débitos estarão quitados. Russomano alega que o empreendimento foi
fechado e que era sócio minoritário do restaurante, detentor de 20% do
negócio.
Os outros deputados federais e senadores procurados não responderam à reportagem.
As dívidas contabilizadas pela Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional incluem aquelas consideradas como em “situação
regular”: foram parceladas, suspensas por decisão judicial ou garantidas
de alguma forma pelo devedor. Além das cobranças em andamento sem
nenhum tipo de garantia, consideradas como em “situação irregular”.
Apesar dos parlamentares localizados alegarem que suas
dívidas estariam em situação regular, 75% do total devido está em
situação irregular.
Há três principais maneiras de uma empresa entrar na
dívida ativa da União como devedora da Previdência: quando ela não
repassa a contribuição previdenciária do trabalhador ou do empregador ao
INSS ou quando ela paga essas contribuições sobre um valor inferior ao
salário real.
Os dados foram consolidados pela procuradoria em abril
deste ano, e foram obtidos através do portal da Controladoria-Geral da
União , onde são disponibilizados todos os pedidos de acesso à informação feitos ao Executivo Federal e suas respostas.
Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/politica/empresas-de-deputados-e-senadores-devem-r-372-milhoes-a-previdencia
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