Levantamento da TV Jangadeiro mostra que outras três empresas receberam
créditos do FDI e, pouco depois, doaram valores altos para a campanha
eleitoral de 2014.
Um levantamento da TV Jangadeiro apurou que em 2014, durante o
governo de Cid Gomes, além da Cascavel Couros, do grupo JBS, outras três
empresas receberam créditos do Fundo de Desenvolvimento Industrial
(FDI) e, pouco depois, também doaram valores altos para a campanha
eleitoral do sucessor de Cid Gomes.
Uma dessas empresas foi a Grendene, que tem unidade em Sobral, berço
político dos irmãos Cid e Ciro Gomes. Em 2014, o Estado liberou
pagamentos de cerca de R$ 90 milhões à Grendene através do FDI.
Durante a campanha de Camilo Santana ao Governo do Estado, que era
apoiado por Cid Gomes, a Grendene fez uma doação eleitoral de R$ 1
milhão.
Um dos donos da empresa, Alexandre Grendene Barteli, também
contribuiu. Deu R$ 269 mil. E Pedro Grendene Barteli, irmão de
Alexandre, fez algumas super contribuições que passaram dos R$ 2.690
milhões. A Paquetá Calçados, que recebeu através do FDI mais de R$ 37
milhões, doou R$ 3.735 milhões à campanha. Já a empresa Bermas
Maracanaú, do setor de couros, doou R$ 990.500 mil e teve repasses de R$
14.771 milhões do FDI.
Para atrair grandes indústrias, o Estado pode conceder incentivos e
benefícios. Uma das alternativas é a devolução do ICMS pago pelas
empresas.
O empresário Wesley Batista, do grupo JBS, que é investigado pela
operação Lava Jato, revelou que doou R$ 20 milhões para a campanha de
Camilo Santana. Dez milhões de forma oficial e o restante por fora,
através de notas frias.
Segundo ele, o pedido foi feito por Cid Gomes. Depois, Arialdo
Pinho e Antonio Balman, que foram secretários de Cid e permanecem no
atual governo, teriam intermediado as negociações. Em troca, o grupo
teria recebido via FDI 110 milhões que o Estado devia em créditos de
ICMS.
A TV Jangadeiro apurou que, em 2014, ano eleitoral, o FDI teve
movimentação bem acima da média de outros anos. Naquele ano, o governo
fez notas de empenho que totalizaram R$ 259 milhões. No ano seguinte,
2015, que não é calendário eleitoral, não houve nenhum pagamento. Em
2016, outro ano de eleições, o estado pagou R$ 71 milhões.
Em 2017, até agora, foram R$ 4,5 milhões. A possível relação entre
pagamentos de créditos via FDI e contribuições eleitorais chama atenção
quando se analisa este outro dado: em 2014, o estado pagou 31 notas de
empenho a empresas via FDI. Dessas 31 notas, 29 foram emitidas somente
no segundo semestre, mais próximo do mês das eleições, que acontecem em
outubro.
Na Assembleia Legislativa do Ceará, o assunto domina os
pronunciamentos e as rodas de conversas dos deputados. “Existe uma
auditoria no Tribunal de Contas do Estado onde a auditoria afirma
categoricamente que o aumento de devolução do ICMS e dos incentivos do
FDI de 2013 para 2014 foi de 250% e que 97% desses valores pagos foram
unicamente para cinco empresas”, disse o deputado estadual Leonardo
Araújo (PMDB).
Os parlamentares que fazem oposição ao governo são taxativos ao dizer
que as revelações são evidências claras de pagamento de propina. “Nem
tudo que é legal é lícito. Fica uma evidência de que foi uma doação
legal, mas condicionado ao pagamento do governo. Eles estão tentando
fazer o financiamento público de campanha a força. Isso é propina”,
afirmou o deputado estadual Carlos Matos (PSDB).
Já a base aliada garante que os pagamentos das devoluções do ICMS só
foram maiores em 2014 por causa da lei de responsabilidade fiscal. Dr
Sarto (PDT) defende que o governo estava se encerrando e tinha que pagar
sua dívida. “Se não quitasse tinha que deixar recurso em caixa com o
devido empenho para ser pago posteriormente”.
O suposto pedido de doação da JBS pelo ex governador Cid Gomes também
foi negado pela base. “Não tem uma consistência maior para incriminar
qualquer ato do ex-governador Cid Gomes. Já houve também uma realização
de doações, ainda em 2006, quando Cid Gomes era candidato de oposição ao
governo do estado”, disse Sergio Aguiar (PDT).
Disponível em: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/politica/alem-da-jbs-outras-empresas-receberam-recursos-do-governo-para-liberar-dinheiro-para-cid-gomes/
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