Na corrida para garantir os 308 votos necessários à aprovação da reforma da Previdência na
Câmara, o governo negocia com ruralistas um programa de parcelamento
(Refis) de 15 anos para dívidas em atraso da contribuição ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e acena com novas mudanças na proposta.
A reportagem é de Adriana Fernandes, Igor Gadelha e Idiana Tomazelli, publicada por O Estado de São Paulo.
Lideranças governistas admitem negociar no plenário flexibilizações
nas regras para que os servidores públicos que ingressaram até 2003
tenham direito ao salário integral. Também poderão ser mantidas as
regras que já existem hoje para acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), concedido a idosos de baixa renda e pessoas com deficiência.
Os negociadores do governo também estão mapeando pleitos dos
deputados, além da articulação na distribuição de cargos. Apesar das
concessões, ainda não garantias de aprovação da reforma da Previdência.
O novo Refis terá desconto de juros e multas, segundo informou um
integrante do governo. Os valores do benefício ainda estão sendo
definidos. A expectativa é que até a semana que vem seja editada uma
medida provisória (MP) criando o Refis.
Conforme mostrou reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, na semana passada, a negociação de dívida do Funrural virou moeda de troca para aprovação da proposta de reforma da Previdência. A bancada ruralista é uma das mais poderosas no Congresso e conta com cerca de 100 parlamentares somente na Câmara.
Os ruralistas queriam o perdão da dívida do Funrural
– um passivo que pode superar R$ 10 bilhões -, mas a equipe econômica
não concordou com a remissão dos débitos, alegando riscos de o governo
cometer crime de responsabilidade fiscal. Chegou-se a um acordo de
parcelamento por 180 meses.
A discussão sobre a cobrança do Funrural entrou nas negociações da reforma depois que o Supremo Tribunal Federal
declarou constitucional a cobrança do fundo do empregador rural pessoa
física. O Funrural é, para o setor rural, o equivalente à contribuição à
Previdência. O parecer do relator da proposta de reforma da Previdência, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), proíbe a concessão de novos incentivos tributários com contribuições previdenciárias.
Cartas
Antes mesmo de concluir ontem a votação da proposta na comissão
especial, o governo já admitia nos bastidores que terá de fazer novas
concessões para aprovar no plenário da Câmara. O argumento de
interlocutores do Executivo no Congresso é de que o governo não poderia
ceder em tudo já na comissão, pois precisa ter “cartas na manga” para
negociar no plenário.
Negociadores do governo já dão como certo, por exemplo, que terão de ceder e manter em 65 anos a idade para idosos carentes terem acesso ao BPC. A manutenção tem sido cobrada por líderes de influentes partidos da base aliada, como do PSDB, principal aliado do governo Michel Temer.
O líder da sigla na Câmara, deputado Ricardo Tripoli (SP), defende a medida. O BPC
é um benefício de um salário mínimo pago a pessoas com deficiência e
idosos de baixa renda. Hoje, só pessoas acima de 65 anos têm direito ao
benefício. Para isso, precisam comprovar que a renda familiar por pessoa
é menor que 1/4 do salário mínimo. No texto original da reforma, o
governo propôs desvincular o valor do benefício do salário mínimo e
elevar a idade de acesso de idosos para 70 anos.
A mudança enfrentou resistência tanto de parlamentares da oposição
quanto da base e o governo desistiu dela. Em troca, negociou com relator
Oliveira Maia o aumento, de 65 anos para 68 anos, da idade mínima.
O governo também já admite que terá de ceder nas regras de
aposentadoria dos servidores. Hoje, funcionários públicos têm direito a
se aposentar com salário integral e a ter reajustes reais iguais aos dos
que estão na ativa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/567343-por-reforma-da-previdencia-governo-negocia-refis-para-ruralistas
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