O promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude de Sorocaba no interior de São Paulo, Antônio Domingues Farto Neto, protagonizou um episódio autoritário no jornal regional Cruzeiro
do Sul, mantido pela Fundação Ubaldino do Amaral (FUA), no dia greve
geral, no final de abril, contra as reformas trabalhista e da
previdência. Acompanhado de um conselheiro da fundação, Farto Neto
invadiu a redação do jornal, onde ficou por horas intimidando
jornalistas e os obrigando a adotar uma linha editorial contrária à
paralisação.
O caso espantou jornalistas da redação. A primeira denúncia do abuso pelo membro do Ministério Público foi feita pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, que se disse “perplexo”. O promotor,
que é membro do conselho consultivo da redação – órgão sem poder de
decisão e voltado apenas para consultoria – ingressou sem ser
convidado na companhia de um conselheiro deliberativo, este sim com
poder de decisão, mas que não deliberou qualquer ingerência por parte de
um membro isolado.
O Justificando
contatou um profissional com vários anos de trabalho na redação
regional, e que, sob a condição de anonimato, contou como foi a atípica
tarde daquela sexta. Segundo ele, Farto Neto e o outro conselheiro
entraram e reuniram todos na sala de reunião, onde fizeram um duro
discurso contra a greve e impuseram um ponto de vista para a cobertura
do veículo.
O promotor era o mais ativo com
constantes intimidações como tapas na mesa, além de indiretas que
sugeriam que quem resistisse iria perder o emprego. O jornalista afirmou
que Farto Neto disse por diversas vezes, com direito a gritos e em tom
de ameaça velada, que quem fosse “esperto”, iria “obedecer”.
O promotor destacou sua desaprovação por várias vezes à linha editorial
da publicação, crítica à reforma trabalhista e da previdência.
A cobertura do jornal, a qual era então
factual sobre os reflexos do protesto em Sorocaba e região, passou a
ser ativamente contra a greve. Fotos da paralisação não foram publicadas
e, em contrapartida, imagens de comércio fechado, como forma de dizer
que os protestos atrapalharam a vida do leitor e da leitora, foram
publicadas com insistência.
Matérias já publicadas foram editadas e
outras foram feitas (a exemplo da manchete publicada no jornal impresso
do dia 29 sob o título “paralisação prejudica o trabalhador sorocabano”) para
prevalecer o ponto de vista do membro do Ministério Público, que ficou
lá por cerca de 4 horas em uma espécie de comitê para vigiar o trabalho
dos profissionais da imprensa. Em protesto, tanto os jornalistas, como o
chefe de reportagem e o diretor de redação, retiraram seus nomes do
expediente do site e do jornal impresso pelos três dias seguintes. O
diretor determinou que seu nome fosse retirado por telefone, uma vez que
estava se recuperando em casa de uma cirurgia no coração.
Farto Neto ainda impôs que o jornal “convidasse”
para entrevista naquele mesmo dia o comandante do Comando de
Policiamento do Interior (CPI/7), coronel Antônio Valdir Gonçalves e o
secretário de Segurança e Defesa Civil da prefeitura de Sorocaba, José
Augusto de Barros Pupin, para entrevistas sobre os prejuízos e
transtornos da paralisação. Ao final da cobertura, o promotor deixou a
redação com o conselheiro deliberativo e os convidados para entrevista.
Os jornalistas do Cruzeiro do Sul ficaram
furiosos com a interferência de Farto Neto, que se aproveitou da
ausência do diretor de redação e do presidente da Fundação, que se
encontrava em viagem fora do país, para tomar a ingerência editorial da
publicação. Profissionais exigiram uma reunião com a FUA, que igualmente
se mostrou surpresa com a atitude individual do promotor de justiça e
do outro conselheiro e assegurou que a interferência não deveria ter
acontecido e que não se repetirá. Entretanto, publicamente, a FUA ainda
não se posicionou sobre o fato que tem ganhado cada vez mais cobertura da mídia.
Procurado pelo Justificando na última semana para um posicionamento tanto institucional, quanto pessoal do promotor de justiça, o Ministério Público do Estado de São Paulo não retornou.
Disponível em: http://justificando.cartacapital.com.br/2017/05/08/promotor-de-justica-intimidou-jornalistas-de-jornal-fazerem-materia-contra-greve/?utm_source=social_monitor&utm_medium=widget_vertical
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