Michel Temer, cada vez mais recluso para evitar as vaias, tenta seduzir
as Forças Armadas ao convocá-las para conter os protestos populares.
Soldado na rua não é solução?
Há
sinais de mal-estar e irritação refletidos, explicitamente, entre os
militares da reserva e, recatadamente, nos cochichos dos quartéis, em
razão do repetido emprego de forças federais na tarefa de cuidar da segurança pública. Ou seja, “da Lei e da Ordem”, como prevê a tripudiada Constituição brasileira.
Os pedidos de ajuda dos estados são facilitados pelo
pronto atendimento do governo federal. Pedido feito, pedido aceito. Há
um porém. O governador incapaz de administrar a polícia subordinada a
ele deve adotar o princípio de que o problema é político-administrativo,
não militar.
É possível perceber o jogo de interesse mútuo realizado entre governadores atingidos pela recessão e pela corrupção nas administrações de um lado e a conveniência de Michel Temer de outro.
Temer busca alucinadamente uma alavanca para içar do fundo do poço a popularidade baixa. Baixíssima. Aquela que o aprisiona em casa ou no trabalho para fugir dos apupos dos cidadãos mais irritados.
Em resumo, Temer vale-se do fracasso da
ordem policial para tentar adquirir popularidade com as ações das Forças
Armadas, uma instituição com boa receptividade na população.
Não por acaso, foram enviados militares nas rebeliões aterradoras em presídios do Rio Grande do Norte, de Roraima ou de Manaus.
Não era preciso. Os militares foram necessários, entretanto, para
guarnecer o Espírito Santo em razão da ousada rebelião da Polícia
Militar. A insegurança facilitou a ação de criminosos nas ruas de várias
cidades capixabas. Não solucionou.
Assim, de grão em grão chegou-se à banalização. Após o socorro a estados do Norte e Nordeste, o apelo saiu do Sudeste.
No Rio de Janeiro, o combalido governador Luiz Fernando
Pezão pediu ajuda de forças federais a Michel Temer. O governo deslocou 9
mil soldados das Forças Armadas para a capital fluminense.
Há protestos na cidade, violentos aqui e ali, comandados por funcionários públicos com salários atrasados e daqueles que reagem à privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
A decisão de vender a empresa estadual-estatal é imposta pelo governo
federal como uma das condições para liberar empréstimos para o estado à
margem da falência.
Não há nenhuma ameaça à segurança dos cariocas além
daquela existente no cotidiano, que, por si só, apavora moradores e
turistas. A PM tem condições de conter, sem brutalidade selvagem, as
manifestações de protesto. Como tem feito.
As Forças Armadas viraram peça desse jogo político de Michel Temer. O risco é ele tentar usar a fantasia.
Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/940/o-uso-politico-da-tropa
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