Até o final de 2017, o Brasil deverá testemunhar um aumento de 2,5
milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria.
Resultado da prolongada crise econômica, a estimativa foi divulgada
neste mês pelo Banco Mundial, que sugeriu um aumento do orçamento do
Bolsa Família para atender os “novos pobres”. Em média, esses
brasileiros têm menos de 40 anos, moram nas zonas urbanas, concluíram
pelo menos o Ensino Médio e estavam empregados em 2015, sobretudo no
setor de serviços.
A reportagem é publicada por ONU Brasil, 22-02-2017.
Até o final de 2017, o Brasil deverá testemunhar um aumento de 2,5 milhões até 3,6 milhões no número de pessoas vivendo na miséria. Resultado da prolongada crise econômica, a estimativa foi divulgada neste mês pelo Banco Mundial.
O organismo financeiro traça um perfil desses “novos pobres”
— em média, brasileiros com menos de 40 anos, moradores de zonas
urbanas, que concluíram pelo menos o Ensino Médio e estavam empregados
em 2015, sobretudo no setor de serviços.
Para mitigar os impactos da recessão sobre a população, o Banco Mundial recomenda a expansão do Bolsa Família,
que deverá ter seu orçamento ampliado para 30,7 bilhões de reais em
2017, caso o governo queira cobrir os “novos pobres” com a proteção
social.
Isso evitaria que a miséria atingisse valores acima
do patamar de 2015, quando a tendência decrescente da pobreza foi
revertida após uma década de queda ininterrupta. Em 2014, a pobreza e a pobreza extrema no Brasil eram estimadas em 7,4% e 2,8%, respectivamente. No ano seguinte, os valores registraram um salto para 8,7% e 3,4%.
O incremento no Bolsa Família sugerido pelo Banco Mundial representa um acréscimo de cerca de 900 milhões de reais na verba prevista para o programa pela lei orçamentária de 2017.
O aumento na pobreza para este ano foi calculado com
base em variações distintas de índices macroeconômicos. No cenário mais
otimista, o Banco Mundial estima uma retomada do crescimento econômico,
com um modesto saldo positivo — de 0,5% — para o Produto Interno Bruto
(PIB). O desemprego continuaria em ascensão, chegando aos 11,8%, valor 0,6% mais alto do que a taxa de desocupação no ano passado.
Na previsão mais pessimista, o Brasil continuará em recessão, com o PIB registrando contração de 1%. O desemprego alcançaria os 13,3%.
Nas melhores circunstâncias, o número de pessoas moderadamente pobres
atingirá os 19,8 milhões (9,8% da população), incluindo os que viverão
na miséria extrema — cerca de 8,5 milhões de indivíduos
(4,2%) em 2017. A linha de pobreza utilizada para os cálculos foi
estipulada como 140 reais per capita por mês.
No pior cenário, a pobreza chega a 10,3% — 20,8 milhões de
brasileiros — e a pobreza extrema alcançará os 4,6% — 9,3 milhões. Em
2016, a miséria extrema havia sido calculada em 3,4%.
Caso os investimentos no Bolsa Família sejam
realizados, a proteção social poderia frear o crescimento da miséria
extrema, que alcançaria 3,5% e 3,6% nas simulações mais otimista e mais
pessimista, respectivamente. Os valores ficariam bem próximos aos
verificados em 2015.
Desemprego, pobreza e redistribuição de renda
O Banco Mundial lembra que mais de 28,6 milhões de
brasileiros saíram da pobreza entre 2004 e 2014. O número representa
quase metade da redução da miséria na América Latina e Caribe
verificada no mesmo período. Os avanços foram possíveis pelo
crescimento econômico, que gerou novas oportunidades de emprego,
sobretudo no setor de serviços, e também por programas como o Bolsa
Família.
Segundo o organismo financeiro, o Brasil se
assemelha a outros países de renda média, onde os rendimentos do
trabalho representam a maior fatia da renda para os 40% mais pobres da
população. Para a maior parte desse segmento, a prosperidade depende do
trabalho formal. Isso significa que o aumento do desemprego por conta da
recessão põe em risco as conquistas do país no combate à miséria.
Em 2015, a recessão provocou o fechamento de 1,6 milhão de postos formais, causando um aumento no nível de desemprego, que saltou de 4,3% em dezembro de 2014 para 11,8% em outubro de 2016. O Banco Mundial
aponta ainda que os salários reais também vêm sofrendo contração, com
queda de 4,2% em 2015. Neste ano, o PIB registrou uma contração de 5,8%.
Para a fatia da população vivendo em pobreza extrema, porém, foram os
programas de transferência de renda que reduziram o nível de miséria.
Cinquenta e oito por cento da queda na pobreza extrema no Brasil
registrada entre 2004 e 2014 está associada a mudanças nos rendimentos
de fontes que não incluíam o trabalho, como o Bolsa Família.
Quem são os ‘novos pobres’?
Mapeando o perfil dos chefes das famílias de “novos pobres”, o Banco Mundial
aponta que esses brasileiros não eram miseráveis em 2015. Eles têm
nível de qualificação — 38,2% concluíram pelo menos o Ensino Médio —
muito próximo ao da camada de não pobres, dos quais 41,3% têm, no
mínimo, escolaridade média. Os “novos pobres” tinham trabalho dois anos atrás, mas entraram para as estatísticas dos desempregados.
O nível da formação revelado pelo Banco Mundial distancia os dois
segmentos dos considerados estruturalmente pobres, brasileiros que já
eram pobres em 2015 e continuarão vivendo na miséria. Entre esses,
apenas 17,5% terminou o Ensino Médio e 63,7% vivem no campo. Quase 90%
dos “novos pobres” vivem em zonas urbanas.
Dos que chegarão à linha da pobreza em 2017, 33,5% são brancos, em
comparação aos 24,2% dos brancos descritos como vítimas estruturais da
desigualdade.
Outra informação calculada pelo organismo financeiro é a faixa etária
dos chefes das famílias dos “novos pobres”. Eles têm em média 37,9
anos, enquanto, entre os estruturalmente pobres, a média sobre para 41
anos. No grupo de não pobres, a idade chega a 50,4.
De acordo com o organismo financeiro, a profundidade e duração da atual crise econômica no Brasil podem ser vistos como uma oportunidade para que o governo amplie o papel do Bolsa Família
— que passaria de um eficaz programa de redistribuição de renda para
uma verdadeira rede de proteção, flexível o suficiente para expandir a
cobertura aos domicílios dos “novos pobres”.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/565149-numero-de-pobres-no-brasil-tera-aumento-de-no-minimo-2-5-milhoes-em-2017-aponta-estimativa-do-banco-mundial
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