Revelação de amigo do presidente força negativa de que houve irregularidades em sua campanha.
Temer durante reunião no dia 21.
Joédson Alves EFE
A sexta-feira de Carnaval foi um dia atípico no centro do poder brasileiro. Enquanto o Congresso Nacional estava às moscas, auxiliares do presidente Michel Temer (PMDB) praticamente sambavam em busca de explicações sobre o relato que atingiu em cheio o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB), e ameaça chegar ao chefe do Executivo. As justificativas iam do formal “por enquanto, nada a declarar” ao “isso não tem nenhuma relação com o presidente”. Só no fim da tarde, apareceu uma nota de defesa.
Na quinta-feira, o advogado José Yunes ex-assessor especial da presidência da República
e amigo de três décadas de Temer, afirmou que foi usado pelo ministro
Padilha para carregar um pacote com dinheiro ilícito para ele. Antes da
publicação das reportagens na revista Veja e no jornal Folha de S. Paulo
que detalharam o assunto, Yunes prestou um depoimento voluntário à
Procuradoria Geral da República. O relato corrobora uma das delações de
ex-executivos da Odebrecht que informaram terem pago caixa dois para
Padilha na eleição de 2014.
No mesmo dia, o ministro entregou um atestado médico para se
afastar temporariamente do cargo porque terá de passar por uma cirurgia
para a retirada de próstata. Nesta sexta-feira, Temer emitiu uma nota
para dizer que, enquanto presidiu o PMDB, obteve doações oficiais no
valor de 11,3 milhões de reais da Odebrecht ao seu partido em 2014 e não
autorizou nenhuma ação ilegal de seus subordinados. “É essa a única e
exclusiva participação do presidente no episódio”, diz trecho da nota da
Presidência.
A oposição se animou com a revelação de Yunes e pediu a
demissão de Padilha. Mas, se levar em conta o que prometeu há poucas
semanas, Temer não demitirá tão cedo seu chefe da Casa Civil. Segundo
ele próprio anunciou, no âmbito da operação Lava Jato
só serão afastados os ministros que forem denunciados pelo Ministério
Público Federal e, demitidos, os que tiverem a denúncia aceita, ou seja,
se virarem réus.
Crise se avizinha
Oficialmente, dentro do Planalto, os discursos são de que a
atual gestão não enfrenta uma crise política, mas alguns movimentos
mostram que se ela não foi instalada, isso está próximo de ocorrer.
Desde que assumiu a presidência ainda como interino, Temer já perdeu
seis ministros por conta de investigações ou escândalos internos. Os
mais relevantes foram o seu amigo pessoal Henrique Eduardo Alves
(Turismo) e Geddel Vieira Lima (Governo). Ambos foram deputados por
vários anos e articularam intensamente o impeachment de Rousseff.
As preocupações que atingem agora o presidente têm a ver não
só com a bomba lançada pelo seu amigo Yunes, mas também com duas
escolhas de novos auxiliares. Ao nomear o deputado federal Osmar
Serraglio (PMDB-PR) para o ministério da Justiça, Temer recebeu uma
saraivada de críticas do vice-presidente da Câmara e coordenador da
bancada de Minas Gerais, Fábio Ramalho (PMDB-MG), que prometeu romper
com a gestão de seu correligionário e diz que tentará convencer outros
aliados a seguirem o mesmo rumo. O descontentamento dele é de que o
presidente não dá representatividade ao seu Estado em seu primeiro
escalão.
Além disso, ao nomear um peemedebista para a vaga da Justiça
que era ocupada pelo PSDB com Alexandre de Moraes, o presidente deixou
parte dos tucanos descontentes. Essa frustração está tendo de ser
contornada com a escolha do substituto de José Serra (PSDB-SP) no
Ministério das Relações Exteriores.
A inesperada demissão de Serra, que alegou motivos de saúde para retornar ao Senado,
fez com que vários tucanos se movimentassem para substituí-lo. Nomes de
dois senadores já foram cotados: Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e
Antonio Anastasia (PSDB-MG). Correm por fora dois funcionários de
carreira do Itamaraty, o embaixador Sergio Amaral, que têm as bênçãos do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi porta-voz, e Fred
Arruda, atual assessor internacional da presidência.
Nesta sexta-feira, a prisão de dois lobistas suspeitos de
operarem a favor do PMDB também trouxe mais uma preocupação para Temer e
seu partido. A suspeita da Polícia Federal é que Jorge Luz e seu filho,
Bruno Luz, tenham distribuído 40 milhões de reais em propinas para
peemedebistas. Ambos foram detidos nos Estados Unidos porque naquele
país são suspeitos de irregularidades em seus documentos de migração.
Jorge Luz é considerado o decano dos lobistas da Petrobras, atuando no órgão desde o governo de José Sarney, no fim da década de 1980, até a gestão Dilma Rousseff.
Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/24/politica/1487969113_983729.html
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