terça-feira, 17 de maio de 2016

UM ABADE, O QUE É E QUAL SUA FUNÇÃO?


A palavra abade, que provém do substantivo latino abbas, abbatis, através da sua forma acusativa abbatem – a qual, por sua vez, deriva do siríaco abbâ (através do étimo hebraico abba) –, significa pai e se refire à vida monástica e a quem governa uma abadia.
O título teve a sua origem nos mosteiros da Síria, no século IV, tendo-se espalhado pelo Mediterrâneo oriental, sendo adotado, na generalidade das línguas europeias, para designar o governante de um dado mosteiro.
E Abade, eleito pelos monges de um Mosteiro, recebe, para sê-lo, a Bênção Abacial de um Bispo ou de outro Abade (,mas isto não é usual) e, pode usar as insígnias episcopais: báculo, mitra, cruz peitoral e anel.
Sua jurisdição pode ser limitada às paredes de um mosteiro (ou abadia) ou a um território, neste caso é chamado de Abade Nulluis e exerce as funções administrativas e litúrgicas de um Bispo (menos a ministrar o Sacramento da Ordem: ordenar diáconos, padres ou bispos).
São Bento considerava que o abade era o representante de Cristo, o apoio das necessidades dos monges, além de ter autoridade jurídica e administrativa no mosteiro.

No entanto, a principal função de um Abade é a paternidade espiritual, que está presente na Tradição de São Pacômio, Santo Antonio e São Bento, do começo ao fim da Regra de São Bento. Para compreender esta “paternidade espiritual”, é necessário buscar compreendê-la como era concebida no Novo Testamento e na tradição cenobítica primitiva, e não como algo que corresponda à noção moderna de "direção espiritual".
A Bíblia e a Tradição sublinha em absoluto primeiro lugar, a paternidade de Deus, lembremos o que diz o Senhor: “E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus.” (Mt 23,9) Esta advertencia de jesus Cristo é contra a procurar títulos de honra para alimentar o orgulho e a vaidade ou a auto suficiência de se achar merecedor da graça de Deus por ser “filhos de Abraão” (Jo 8,38-39). Portanto, como “filhos de Abraão, que fazem as obras de Abraão”, que houve, segue e obediente faz o que Deus manda (cf. Hb 11,8; Gn 12,1-9) e na obediência radical de Abraão, “todos os povos são abençoados” (Gl 3,8). Nesta perspectiva é que se exprime a vida da comunidade, em particular pelo exercício do serviço abacial, mas também através de todos os colaboradores do Abade e mesmo na obediência mútua que os monges são chamados a praticar para assim serem bênção para todos e todas.
O Abade assume a paternidade como um serviço, no qual empenha sua própria salvação e da qual terá que um Dia prestar contas ao Senhor e o discípulo de aceitar de bom grado os "conselhos de um pai afetuoso": admonitionem pii patris (Prologo da Regra de São bento), pois quem quer que queira voltar, pelo labor da obediência ao pai, do qual se separara pela desídia da desobediência, a fim de que de pai afetuoso (pius pater) não venha ele a se transformar em pai irritado (iratus pater) e não venha a deserdá-lo. O Senhor, com efeito, como um pai amante, nos deseja ensinar o temor do Senhor (Venite, filii, audite me: timorem Domini docebo vos) e nos traçar o caminho da vida.
Nas categorias de monges exite o cenobita, que é aquele que vive numa comunidade, sob uma regra e um abade. São três os elementos essenciais da vida em um mosteiro, e a ordem na qual são enumerados é fundamental: comunidade, regra, abade. Acha-se esta mesma ordem na promessa que faz o noviço após ter-se-lhe lido a Regra. Deve ele prometer: a) viver estávemente, equilibradamente, na comunidade: stabilitas in communitate; b) converer-se de seus maus costumes, dos vícios que o escravizam, viver segundo a Regra: conversatio morum; c) e obedecer a comunidade, a Regra e ao Abade: obedientia.
Dentro deste quadro geral está o exercício da paternidade espiritual no seio da comunidade. E, seguramente, a missão que o Abade tem de encarnar e de exercer é a paternidade de Deus com relação aos seus irmãos. E é por isto que é chamado de "abbas".
Primeiramente, que o abade deve ensinar (esta é tradicionalmente a função por excelência do pai espiritual). Deve ensinar os mandamentos e os preceitos do Senhor por suas palavras e por seu exemplo e, evidentemente, nada ensinar que não seja conforme ao preceito do Senhor. Será, com efeito, responsável, no dia do Juízo, pela sua doutrina e pela obediência dos irmãos.
Deve encarnar o amor do Pai e do Cristo por todos, mostrando a todos os irmãos uma mesma afeição. Deve engendrar o Cristo neles, isto é, conduzi-los gradualmente a uma mais perfeita conformidade à imagem do Cristo, aí compreendida a repreensão, a exortação, e se necessário, corrigindo suas faltas.
Deus exerce Sua paternidade sobre a comunidade revelando a todos os irmãos, mesmo aos mais jovens, o que ele espera da comunidade. Ninguém no mosteiro, nem mesmo o Abade, fará sua vontade própria, mas só a do Pai celeste.
Na obediência, onde o monge é convidado a imitar o Cristo que não veio fazer sua vontade, mas a do Pai que o enviou.
O Abade partilha com muitas pessoas o exercício de sua paternidade espiritual, quer através de uma responsabilidade explicitamente espiritual , ou mesmo através de uma tarefa material, que são escolhidos segundo o mérito de suas vidas e a sabedoria de sua doutrina para as situações difíceis.
A paternidade espiritual se completa na obediência mútua e sobre o bom zelo pelos quais os irmãos não somente se manifestam sentimentos fraternais, mas exercem uns para com os outros a paternidade de Deus.
A paternidade espiritual, isto é, a expressão da paternidade de Deus, se exerce em comunidade através da própria vida comunitária, através da regra que atualiza para esta comunidade a vontade do Pai, como através da meditação do abade e de todos os que participam na tarefa do abade em todos os serviços da comunidade, seja de qualquer tipo (material ou espiritual).
O monge deve primeiro confessar a Deus, todo dia, na oração, suas faltas passadas. Deve também confessar a seu Abade ou aos seus irmãos mais velhos e virtuosos seus maus pensamentos e os pecados secretos de sua alma. Com relação ao seu Abade, que ele deve amar com um afeto sincero, deve ter um coração aberto. Mas apenas o Abade deve intervir quando surgem dificuldades especiais, para aconselhar, corrigir, etc. Deve se fazer ajudar nas situações mais difíceis e para os noviços, para as coisas materiais, para os doentes, etc. Mas essencialmente, sua paternidade espiritual se exerce através de seu ensinamento, que ele deve ministrar tanto pelo exemplo como pela palavra.

Que o Abade nunca se esqueça: é preciso servir para liderar (Mt 18, 1-5; Mc 9, 33-37; Jo 13,20; Mt 20,26).


Foto do perfil de Dom Antonio Abade
Dom Antônio Piber, Abade
EREMITÈRIO FRANCISCANO DOMUS MARIAE

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