sábado, 3 de outubro de 2015

DOCUMENTÁRIO REVELA CHICO BUARQUE ALÉM DOS PALCOS E DA FAMA


Em versão mais enxuta (com 270 filmes contra os mais de 500 de outras edições), o Festival do Rio 2016 começa para o público depois de ter tido uma sessão de abertura para convidados na noite de quinta.
Um documentário foi o escolhido para dar a largada da maratona cinéfila, que segue até o próximo dia 14. O aguardado Chico – Artista Brasileiro, de Miguel Faria Jr., fez sua première no Cine Odeon (que voltou a abrigar o festival depois do intervalo de 2015) para uma plateia de convidados ansiosos para conferir o retrato que o diretor fez de Chico Buarque.
“Para mim é o maior orgulho ser convidado pela terceira vez para abrir este festival tão importante. Com  O Xangô de Baker Street (em 2001), Vinícius (em 2005) e agora o Chico, que é a cara do Rio. Este é um filme feito em equipe, com o trabalho de muita gente”, declarou o diretor.
A sessão marcou também a primeira exibição com projetor 4k do novo Cine Odeon (que agora leva também o nome de Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro). Projeção perfeita, salvo um pequeno problema no áudio (rapidamente solucionado, sem que a exibição fosse suspensa) justamente na cena em que Maria Bethania canta Olhos nos Olhos ao lado de Chico, em uma das tantas raras e deliciosas imagens de arquivo do longa.

Chico - Artista Brasileiro | Trailer Oficial 
26 de Novembro nos cinemas
https://www.youtube.com/watch?v=tmX0SU_4hU4
A propósito, são as cenas garimpadas por Miguel e sua equipe um dos pontos fortes do filme. Um exemplo de encaixe perfeito entre passado e presente é quando Tom Jobim fala da genialidade de Chico, em um diálogo com declarações de que o autor de A Banda acabara de dar, no tempo presente, sobre sua eterna busca por ser o mais próximo possível de seu mestre soberano, como a letra de Paratodos entoa. Não por acaso, são justamente os versos em que Chico canta a brasilidade que encerram o longa, em um desfecho emocionante, que arrancou palmas efusivas de uma plateia feliz.
Mesmo que fique um certo desejo de saber ainda mais da vida de um dos artistas mais avessos a entrevistas da música, e da literatura, brasileira, o prazer de ver o próprio Chico falar de assuntos delicados como sua separação de Marieta Severo (em meados dos anos 90, depois de 30 anos de casados), sua relação com a solidão (apesar das namoradas, ele não se imagina casando novamente), seu processo criativo e sua busca pelo irmão alemão, Sergio Günther.
As cenas em que Miguel acompanha o cantor em Berlim, que assiste a um vídeo do irmão cantando na TV da Alemanha Oriental, são genuínas e revelam, como poucas, um Chico despido da capa de proteção de sua intimidade.





Seus olhos marejam discretamente quando conta que perguntou aos amigos alemães que trabalharam com o irmão (morto aos 50 anos em 1981) se ele conhecia A Banda, e ouviu um sonoro ‘Claro que conhecia!’. “Ele de certa forma me conheceu”, diz o cantor. Impossível não se emocionar.
O diretor Miguel Faria Jr. durante uma das entrevistas com Chico Buarque
O diretor Miguel Faria Jr. durante uma das entrevistas com Chico Buarque
Ainda que, diferentemente do longa anterior de Miguel Faria Jr., Vinícius (O documentário mais visto da história do cinema brasileiro, com mais de 300 mil espectadores), de 2005, conte a história de um personagem ainda na ativa, e que por isso perca em alguns pontos, Chico tem sua força.
Além das imagens de arquivo, dos depoimentos, sempre muito simpáticos ao personagem principal, de figuras como Edu Lobo, Wilson das Neves, Miúcha, Maria Bethânia, Hugo Carvana, sua maior qualidade está na capacidade de desnudar, a custo de 30 horas de entrevista e muito dom para perguntar e ouvir, o mito Chico Buarque.
Quando ele fala do irmão. Quando revela como percebe, anos depois, que suas letras falam de momentos difíceis na vida, que “na hora” não quis ou não soube como lidar. Quando conta sobre a relação com os netos e o que de novo eles levam para dentro de sua casa (incluindo o rock progressivo, que ele “deixou passar” nos anos 70).
No filme, Chico canta 'Paratodos' e outros artistas, como Adriana Calcanhoto e Martinália (em 'Biscate'), Ney Matogrosso (em 'Vitrines'), cantam suas canções, em escolhas que fogem do óbvio
No filme, Chico canta ‘Paratodos’ e outros artistas, como Adriana Calcanhoto e Martinália (em ‘Biscate’), Ney Matogrosso (em ‘Vitrines’), cantam suas canções, em escolhas que fogem do óbvio
Ou quando rebate a fama de tímido e revela que nunca o foi. Mas sim que ficou traumatizado e que seu medo do palco começou com as tantas recepções frias que teve de plateias na Europa (nos anos em que se exilou em Roma, durante a Ditadura Militar). E quando divide com o público de como foi nos anos magros de exilado que compreendeu que era sim um músico profissional que precisava tocar e compor para viver… São estas conversas, olhando nos olhos únicos de Chico, que tornam o filme um documento histórico, que humaniza o mito e, por isso, emociona.
“Cinema é psicanalítico. E é isso que a gente faz durante os 14 dias do festival”, declarou Ilda Santiago, diretora do festival ao lado da também diretora do evento Walkiria Barbosa, pouco antes de chamar Miguel Faria Jr. ao palco. De fato. Que venha a maratona de análise cinéfila!
Disponível em:  http://telatela.cartacapital.com.br/documentario-revela-chico-buarque-alem-dos-palcos-e-da-fama/

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