segunda-feira, 20 de julho de 2015

SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS... DOS OUTROS



FÁBIO CAMPOS 19/07/2015


Espoliado, surrupiado, enganado, o paciente cidadão brasileiro paga a conta da incompetência, da gastança e da corrupção. Arrocho fiscal, inflação, depressão agora se entrelaçam com a já bem conhecida péssima qualidade dos serviços públicos. Descaradamente, os governantes cobram a conta da população. Em contrapartida, não oferecem nada.

O que se poderia esperar dos governos que escalpam os cidadãos que, com seu trabalho, geram a riqueza e o dinheiro para sustentar o tal ajuste fiscal? Atentem que o arrocho é uma consequência da imperícia (para usar o termo leve) do próprio Governo. Não há seres extraterrestres a acusar, não há tucano a culpar, não há mais uma crise internacional como desculpa esfarrapada.

Como o cidadão deve se sentir tendo que pagar pelo imenso rombo nas contas causado pelo mesmo Governo que impõe o arrocho? Sim, diante disso nada mais natural que os plantonistas do poder, responsáveis pela crise, oferecessem ao distinto público uma reforma radical do Estado, rompendo com privilégios, com as benesses. Vã esperança.

Em abril, na mesma semana em que a presidente da República apresentou as primeiras medidas de ajuste fiscal, assinou também a sanção se um projeto que aumentou de R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões o fundo de dinheiro que vai para a botija dos partidos políticos. O absurdo havia sido aprovado pelas duas casas legislativas.

Um escândalo. Escárnio e cinismo. Depois disso, qualquer medida de arrocho ficou desmoralizada. E ainda há bocós a bradar por financiamento público das campanhas eleitorais. Nunca o “status quo” teve tantos adoradores no Brasil. Junte-se ao valor citado acima, outro tanto (R$ 840 milhões em 2014) de renúncia fiscal para bancar o horário eleitoral.

Adicione a esse caldo dos absurdos tropicais a corrupção dos propinodutos eleitorais e se sabe: o financiamento das campanhas políticas no Brasil já é completamente público. O que precisa ser feito é o contrário: desestatizar as campanhas. Estabelecer a separação entre a política e o Estado. Sim, é dinheiro que deveria estar sendo usado nas atividades fins do Estado e que vai para os políticos.

Querem cortar ainda mais na carne do cidadão que paga pelo arrocho e pela inflação? Vá lá, mas cortem em suas carnes sanguessugas também. Cortem ministérios, secretarias, cargos públicos. Boa parte só serve para sustentar privilégios e a politicagem barata que chamam de governabilidade.

Os privilégios se espraiam por toda nossa estrutura social. O sindicalismo brasileiro é outra fonte de privilégios. Pelegos se eternizam no poder das entidades. Não trabalham e se acham donatários do “bem”. Nada mais falso. Há sindicatos dominados por máfias. A UNE virou instituição chapa branca que só briga para ter meia-entrada em jogo de futebol e em filme norte-americano. As Igrejas não pagam impostos. A oposição tem culpa no cartório. As “minorias” bradam por cotas e outros privilégios.

A República é dos privilégios. No Brasil, a austeridade é terceirizada. É imposta somente aos que produzem.

FASE DE ESTUDOS

Há 35 dias, em notícia exclusiva publicada aqui, se tornou pública a intenção do governador Camilo Santana (PT) de colocar em prática um programa estadual de concessões. O texto dizia o seguinte: “Por enquanto, além das intenções e da decisão interna no âmbito do Governo, ocorreram apenas os estudos mais preliminares. Há pouco mais de cinco meses no cargo de governador, Camilo Santana (PT) tem em mente um amplo leque de possibilidades de concessões em diferentes setores da economia como forma de estimular os investimentos em infraestrutura”. Entre esses setores, ativos econômicos importantes como o Porto do Pecém e a Cegás. De lá para cá, a iniciativa prática foi iniciar as conversas com a Fundação Getúlio Vargas, que deverá fazer os estudos de viabilidade econômica das possíveis concessões e, depois, os procedimentos técnicos e legais para concretiza-las.

A AGUARDAR

A saída do político Ivo Gomes da Secretaria das Cidades abriu a larga e criativa janela das especulações. Ninguém consegue decifrar as reais motivações do ato. Ficou tudo ainda mais indecifrável com a reportagem do O POVO de sexta-feira mostrando que o motivo alegado (falta de pagamento de vigias terceirizados do Metrofor) havia sido resolvido meia hora antes da saída do irmão mais novo de Ciro e Cid Gomes. Como político profissional não dá ponto sem nó, cabe esperar a sequência dos acontecimentos. O exercício parlamentar de Ivo Gomes na Assembleia pode explicar a decisão de deixar o Governo. Se o mandato se dedicar a fazer a defesa da gestão de Camilo Santana, a leitura será uma. Caso se torne um mandato indiferente ou crítico à gestão, a leitura será outra e com grandes repercussões no cenário político do Ceará. 


GUINADA À VISTA

Deu na Coluna Painel (Folha de S.Paulo, sexta-feira): “O presidente do PDT, Carlos Lupi, segue na base por enquanto, mas prevê o rompimento de seu partido com o governo. O dirigente verbaliza o que muitos petistas afirmam nos bastidores. ‘Está faltando liderança para sair da crise’, diz. ‘Eu não vejo nem vagalume no fim do túnel, quanto menos luz!’, completa”. Pois é. Dito isso, Lupi está em plena negociação com os irmãos Ferreira Gomes, que pretendem se abrigar no PDT. Ou seja, o mais importante grupo político do Ceará pode se filiar a um partido que arruma malas e bagagens para deixar o Governo de Dilma Rousseff.


JOGO NOTURNO

Não deixem de assistir a entrevista do professor Rui Martinho Rodrigues no Jogo Político de hoje, às 22 horas, na TV O POVO. Com formação em Administração e Direito, mestre em Sociologia e doutor em História, Rodrigues é um liberal assumido. Portanto, ave muito rara e em processo de extinção nas universidades e faculdades do Ceará. Aguçado observador de nossa cena política, o professor diz na entrevista que estamos chegando ao momento em que sentiremos saudades da velha hipocrisia, quando a corrupção era uma prática, digamos, mais comedida e envergonhada. “Hoje, prevalece o cinismo em vez da hipocrisia”, diz. O professor lembra que a corrupção do passado pelo menos fazia rodar a economia local, enquanto hoje grande parte dos desvios escoa para o exterior. O Jogo Político também é transmitido pela TV Fortaleza e TV Assembleia. 

Disponível em:  http://www.opovo.com.br/app/colunas/fabiocampos/2015/07/18/noticiasfabiocampos,3472183/sangue-suor-e-lagrimas-dos-outros.shtml

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