domingo, 26 de julho de 2015

CATÓLICOS PROGRESSISTAS PEDEM PASSAGEM!

A abertura de diálogo entre o Vaticano e os movimentos populares é inédita nos quase 2.000 anos da instituição. Veja as perspectivas da juventude progressista católica para esse momento histórico.

Larissa Gould do Barão de Itararé especial para os Jornalistas Livres.

O 2º Encontro Mundial de Movimentos Populares (EMMP) foi um marco para todas as entidades participantes, mas teve uma relevância maior para aquelas ligados à igreja católica. A abertura de diálogo entre o Vaticano e os movimentos populares é inédita nos quase 2.000 anos da instituição. A assinatura do documento que sela um compromisso entre o Papa Francisco e os movimentos inicia um novo tempo para o Estado Católico, mas não para os católicos.
Historicamente as Pastorais e as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), guiadas pela teologia da libertação, foram — e são — símbolos de resistência da luta popular, tanto externamente, quanto na própria instituição católica. Por muito tempo os católicos progressistas sofreram boicotes dos setores mais conservadores, Francisco chega para fortalecer esse grupo minoritário.
Aline Ogliari, Secretária Nacional da Pastoral da Juventude (PJ), esteve presente no EMMP. Veja as perspectivas da juventude progressista católica para esse momento histórico:
Jornalistas Livres  - Qual a importância desse encontro para a PJ? O que a abertura do diálogo com o Vaticano aponta?
O que esse encontro aponta de forma geral é ainda abstrato. É a primeira vez que, em quase 2.000 anos da existência da Igreja, que é aberto esse diálogo do Vaticano com os Movimentos Populares, com o povo que está no dia a dia na base. O que vai desencadear é abstrato. A gente sabe que é um momento histórico, sabe o que isso representa. Nós das pastorais e das CEBs sempre estivemos juntos desses movimentos, mas o significado e o peso do diálogo ser chamado pelo Vaticano… é diferente. Esse é um fato histórico. A nossa articulação e a nossa caminhada sempre trouxe muito compromisso, sabemos como a igreja contribuiu para a construção desses espaços dos movimentos populares. Nessa perspectiva, nós acreditamos, como o papa falou no ano passado, que isso trará vendavais de esperança. E que assim seja.
JL-  O que você leva do EMMP para a base da Pastoral da Juventude?
Aquilo que a gente leva para a nossa base é a novidade, não do conteúdo, mas a novidade do momento. O reflexo que vem para gente é uma rajada de ar para fortalecer e aumentar ainda mais nosso compromisso com a causa do povo, com a causa popular.
JL -  Você se sentiu contemplada pelas discussões e pelo documento final do Encontro?
Enquanto Terra, Teto e Trabalho, que são os pilares que sustentam o encontro, a discussão me contemplou. Só acho que faltou institucionalmente a gente denunciar mais e responsabilizar mais os governos, sobre as inseguranças em relação ao trabalho, em relação à terra e ao teto. Não só insegurança, mas os direitos que são negados todos os dias. As denúncias foram feitas pelos integrantes dos movimentos, da base, nos grupos de discussão, mas institucionalmente, faltou. Acho que essa é minha única ressalva.
E claro, olhando além, temos que perceber dentro desses espaços os outros diálogos que podem ser feitos. Outros dois pontos que são determinantes na discussão da terra, do teto e do trabalho são as mulheres e a juventude.
E isso é muito sério, pois a partir do momento que a gente quer romper com as estruturas que nos tiram a terra, que nos tiram os direitos e que não nos dão condições dignas de trabalho e moradia, se a gente não discute gênero e juventude corremos sérios riscos de deixar esse diálogo com defeitos e lacunas, e eles aparecerão com força em algum momento.
Foto: Negro Enrico
JL  - Qual a importância da participação da juventude nesse espaço?
Primeiro e antes de tudo, ter a perspectiva de não olhar a juventude como futuro. Se a gente for falar de terra, não podemos discutir isso como sucessão familiar, por exemplo. Por que isso é lá no futuro, e nós queremos discutir o agora. Na questão do trabalho a juventude é a maior força produtiva. Devemos olhar a juventude como um dos eixos determinantes desse debate, quais são os direitos da juventude, como uma fase de vida que é determinante. Precisamos trabalhar o conceito da juventude nesses espaços.
JL -  Francisco surpreende por ser um líder aberto e progressista. No entanto, vemos no Brasil o lado conservador da igreja fortalecido e aliado aos fundamentalistas evangélicos, na defesa de pautas extremamente retrógradas. Como foi o caso da questão de gênero nos Planos Municipais de Educação. Como os setores progressistas católicos estão se articulando contra o avanço conservador? Acreditam poder se tornar uma força majoritária?
Não digo majoritária, a gente nunca foi maioria, muito pelo contrário. Esse modelo de igreja e de projeto, e o nosso compreender do anúncio de jesus, não é nunca para grandes números, é sempre para a minoria. A minoria pode em números, na quantidade, ou na minoria no sentido dos menos favorecidos, que aí sim são a grande maioria. É um tempo que se reacende. Para nós que viemos dessa linha da teologia da libertação, o Papa Francisco representa mais respaldo nos debates que a gente faz. “O Papa falou isso, e aí?”. Se até então o Papa era infalível para a ala conservadora, ele continua sendo infalível?
JL -  Qual a importância desse papado para a Igreja e para o mundo?
Esse é um Papado determinante, é um marco, é um divisor de águas e de estruturas, de ruptura também. É um papado muito difícil. Nós ao longo dessa história sofremos perseguições desses conservadores que se alinham e dialogam com os fundamentalistas da linha evangélica e sabemos mais do que ninguém que é difícil. Imagina para o Papa que representa a instituição? Aumenta o nosso compromisso e responsabilidade. O papa mesmo fala que “Vocês é que tem que fazer. Vocês podem fazer mais do que eu. Eu estou fazendo a minha parte, mas vocês podem ir muito mais além (não exatamente assim! rs).”
Com a Palavra: Francisco!
“Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os seus problemas? Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos três “T” — entendido? — (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança, mudanças nacionais, mudanças regionais e mudanças mundiais. Não se acanhem!
Disponível em: https://medium.com/@jornalistaslivres/cat%C3%B3licos-progressistas-pedem-passagem-8d6a1f3fa5b9

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